Máquinas que lêem a sua mente
Já existem celulares, carros e micros que sabem o que você está pensando. E eles vão deixar sua vida mais mansa.
Texto de Bruno Garattoni
Imagine se os computadores, de tão inteligentes, conseguissem adivinhar o que você está sentindo. Bateu uma fome, ou vontade de ir ao banheiro? O celular sabe, e indica a lanchonete mais próxima. Ficou atolado de trabalho? O pc corta automaticamente as mensagens instantâneas e telefonemas menos importantes, que vão direto para a caixa postal. Está se divertindo com um game? O jogo ajusta sozinho o nível de dificuldade – de acordo com o seu grau de estresse. Vai ouvir música? O toca-mp3 avalia o seu estado de espírito e sugere as canções mais apropriadas. O nome dessa tecnologia é “cognição estendida”: as máquinas medem as suas reações e se adaptam a elas, de acordo com o que você está pensando ou sentindo. Com ela, cada aparelho vira sua alma gêmea digital. “Num futuro próximo, o seu celular vai adivinhar o que você quer fazer e aí mostrar informações que ajudem naquele momento”, diz o psicólogo Dylan Schmorrow, que desenvolve sistemas assim para o Departamento de Defesa dos EUA. Além dos militares americanos, várias equipes de cientistas, da Microsoft a fabricantes de carros e aviões, já estão desenvolvendo essas tecnologias. Quando elas chegarem, as máquinas finalmente vão assumir o controle da sua vida. E você vai achar isso ótimo.
Ombro amigo
Conheça os aparelhos que entendem seus sentimentos
Co-piloto digital
Se pilotar um avião já é difícil, imagine numa situação de guerra: além de lidar com todos os controles da aeronave, o piloto tem de reagir a ameaças que chegam muito rápido, como mísseis e aeronaves inimigas. É de dar nó na cabeça. Mas os caças do futuro prometem ajudar: “O computador de bordo percebe quando o piloto está sobrecarregado. Então muda a forma de exibir as informações de vôo”, diz o psicólogo Dylan Schmorrow, que desenvolveu essa tecnologia para a Aeronáutica dos EUA. Ou seja: em momentos críticos, os dados menos importantes, como a temperatura do motor, simplesmente somem da tela e viram sinais sonoros (o avião dá um bip se o motor estiver com problemas). “Com isso, nós conseguimos melhorar o desempenho dos pilotos em até 500%”, afirma Schmorrow.
Carro antibatida
A Mercedes testa um sistema ousado para dar a você uma força no trânsito: o carro faz um eletroencefalograma de quem está guiando. Se as ondas cerebrais indicarem sonolência, o banco vibra e toca um alarme sonoro. O único problema é que o motorista ainda precisa ficar com fiozinhos conectados à cabeça. Mas já existe uma tecnologia que mede o fluxo de sangue no cérebro usando luz infravermelha – ou seja, sem eletrodos. “Ela ainda não é tão precisa quanto o encefalograma, mas é muito promissora”, diz Schmorrow.
Pc que não enche
Sabe quando você precisa terminar um trabalho, mas na sua tela aparece um montão de e-mails e aquelas janelinhas chatas do MSN avisando que “Fulano acabou de entrar”? Então: o programa BusyBody, da Microsoft, nasceu para acabar com isso. O software percebe se você está ocupado e aí determina se é importante, ou não, te mostrar determinados e-mails e chats. Por exemplo: se você está terminando um relatório importante, ele bloqueia mensagens de amigos por um tempo, e só libera as do chefe. Para fazer isso, o BusyBody monitora a sua digitação no teclado e os cliques do mouse – se o ritmo está frenético, ele percebe que você está atolado de serviço e não quer se distrair. O software acerta seus diagnósticos em 87% dos casos, segundo a Microsoft. E deve entrar na próxima versão do Windows.
Telefone camarada
Você está no carro, quase chegando ao trabalho, e alguém liga no seu celular. Mas seu telefone é esperto: ele sabe que não dá para você atender naquele momento e que em 40 segundos seu carro já vai estar no estacionamento. Então ele prende a chamada e diz que você vai atender logo mais. Tudo graças ao programa Short Stop (Parada Rápida), que está em testes e deve vir instalado em celulares nos próximos anos. “Para saber quando você vai parar o carro, o sistema leva em conta a localização e a velocidade do veículo, bem como os hábitos do motorista”, diz Eric Horvitz, pesquisador da Microsoft.
Inimigo íntimo
Se um game é fácil demais, tende a enjoar; se é muito difícil, esgota você logo. Mas isso vai acabar. A empresa americana Virtual Heroes incorporou aos games um sensor que mede as reações fisiológicas do jogador: respiração, batimentos cardíacos, movimentos da cabeça, atividade elétrica no cérebro e freqüência com que pisca os olhos. Esses dados são captados por uma espécie de tiara digital e servem para ajustar a dificuldade do jogo. Se durante um game de tiro, por exemplo, seus batimentos caírem, ele deixa os inimigos mais espertos. Quando o coração fica a mil, ele deixa as coisas um pouco mais fáceis para você.