Roberta Faria
Quando olha para o céu, o engenheiro Martin Lo, diretor do Laboratório de Propulsão a Jato, da Nasa, não vê estrelas, mas belas rodovias. Lo não está louco – ele é um especialista nas super-rodovias interplanetárias, uma nova forma de pensar viagens espaciais que, num futuro próximo, vai tornar as missões pelo sistema solar mais simples e baratas. “Viajar por elas é mais fácil do que tentar fazer naves mais rápidas do que a luz, encontrar passagens para outras dimensões ou buracos no espaço-tempo”, diz Lo.
Essas estradas não são feitas de asfalto. São pavimentadas pela gravidade. Como se sabe, os corpos no Universo atraem uns aos outros com uma força que depende da massa de cada um e da distância. O balanço entre essas forças cria as órbitas que o Sol, os planetas e suas luas percorrem. Mas há muitos outros corpos no sistema solar (cometas, asteróides e satélites naturais), e, mesmo entre os grandes astros, o equilíbrio nunca é perfeito. As variações criam campos gravitacionais mutantes, as chamadas “órbitas instáveis”. Essas órbitas formam tubos, com forças e velocidades diferentes de atração. É como se você estivesse flutuando no espaço e de repente fosse atraído para uma direção. Esses túneis gravitacionais se cruzam e até passam um por dentro dos outros, como túneis de metrô, ligando o Sol a Júpiter, Júpiter à lua terrestre, ela a Vênus, e assim por diante. “De acordo com as forças combinadas, eles têm loopings ou longas retas”, diz Lo. Para pegar o túnel certo e não cair em rotas erradas, é preciso calcular a velocidade e o tempo exatos – como para entrar no pula-corda em movimento.
A principal vantagem de viajar por esses túneis é que a gravidade faz o trabalho sujo. Ou seja, ela puxa a espaçonave naquele caminho, dispensando o combustível usado em mudanças de rota e acelerações. “No mundo ideal, uma missão espacial pelas super-rodovias não gastaria nem uma gota de combustível”, diz o engenheiro. Algumas viagens ao espaço já passaram por essas rotas – é o caso da missão Gênesis, que viajou em 2001 para recolher partículas de vento solar e voltou para casa pelo metrô interespacial. Mas para os túneis se tornarem a via preferencial dos astronautas, falta mapear as estradas. Apenas 1% do trabalho já foi feito.