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Na Internet, a eleição já começou

Twitter, Orkut, YouTube, Facebook: as redes sociais já estão tomadas pelos partidos políticos e suas ações de campanha. E podem decidir quem será o próximo presidente do Brasil

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h53 - Publicado em 12 ago 2010, 22h00

Pedro Burgos

O horário político na TV e no rádio só começa no dia 17 de agosto. Mas você provavelmente já conhece as ideias dos presidenciáveis, recebeu e-mails falando (bem ou mal) de algum deles, falou sobre eleições com os seus amigos em alguma rede social, acompanhou brincadeiras e discussões em blogs e até ficou sabendo, via twitter, o que um dos candidatos jantou quando esteve na sua cidade. Na internet, a campanha eleitoral já começou faz tempo. E, como você já deve ter pressentido, ela terá um papel determinante nestas eleições.

Tente se lembrar de como era a coisa quando Lula foi eleito pela primeira vez, em 2002. Ainda não existia Orkut nem Facebook. Os blogs eram apenas diarinhos pessoais, os e-mails não comportavam muita coisa e a caixa de entrada precisava ser esvaziada toda hora. O YouTube e o twitter nem sonhavam em existir. E, mesmo se existissem, essas ferramentas não poderiam ser usadas – porque a legislação eleitoral, naquela época, não permitia que se fizesse campanha online. Em 2010, tudo é diferente. E os lugares onde você passa a maior parte do tempo online são os novos campos de batalha pela sua atenção. Os discursos no YouTube poderão ter mais importância que os dos palanques. E o corpo a corpo será feito com tuitadas. Vai funcionar?

Sem dúvida. Uma pesquisa da Escola Superior de Propaganda e Marketing e do Ibope apontou que, nas eleições de 2008 na cidade de São Paulo, a internet foi o “principal fator de decisão do voto” para 5% dos eleitores paulistanos. Entre os jovens, a internet era o veículo mais importante para 10%, chegando a 12% entre os que possuem nível superior. E isso numa eleição em que o TSE proibia a campanha em redes sociais (os candidatos só podiam se manifestar em seus próprios sites).

É verdade que a cidade de São Paulo, onde foi feita a pesquisa, é mais conectada que o resto do país. Mas a internet já chega a muito mais pessoas do que se imagina. Dados do Ibope mostram que a penetração da web atinge 45% da população, e já é maior que a dos jornais (37%) e das revistas (38%). A internet já é tão importante que terá seu primeiro debate: os portais iG, Terra, Yahoo! e MSN se reuniram no site https://www.debateonline2010.com.br, que vai fazer um debate com os presidenciáveis em agosto. Os principais partidos já contrataram dezenas de pessoas para tomar conta de suas estratégias de internet. Mas o que elas vão fazer para que a mensagem dos políticos não vá parar na pasta de spam?

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Bancada larga
A grande novidade desta eleição é que, agora, a campanha não precisa ficar restrita aos sites oficiais dos candidatos – eles também podem se manifestar em sites colaborativos e redes sociais. “As eleições deste ano vão ser um grande laboratório para as redes sociais”, explica a consultora política Gil Castillo, que trabalhou nas últimas 5 campanhas.

“O que é comentado no twitter, os e-mails que se transformam em virais, os vídeos no YouTube, tudo isso acaba virando o foco das conversas offline, quando você está no almoço com os colegas ou jantando com a família em casa. O objetivo da campanha online é impactar as pessoas que serão formadoras de opinião”, afirma Vivian Vianna, diretora de redes sociais da agência DigitalMe, que atende alguns partidos políticos.

Entre os principais candidatos, Marina Silva é quem parece abraçar com mais fervor a internet. Com pouco tempo no horário político, ela aposta na rede como uma forma de multiplicar sua força. Seu site tem uma espécie de Orkut interno, onde cada simpatizante pode fazer seu perfil ou entrar num grupo de eleitores da mesma cidade, além de poder (em breve) fazer doações por cartão de crédito ou boleto bancário. Tudo exatamente como na campanha de Barack Obama (veja texto ao lado). A inspiração é tão evidente que até o endereço do site oficial de Marina (minhamarina.org.br) copia o de Obama (mybarackobama.com).

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Mas a campanha da senadora também inventou uma ferramenta própria. Quando o eleitor se cadastra no site apoio.minhamarina.org.br, passa a replicar (dar RT) automaticamente as mensagens postadas pela senadora no twitter. Isso significa que, mesmo a candidata tendo menos de 1 000 seguidores no twitter, sua mensagem já chegava a 143 430 pessoas (até a conclusão desta reportagem).

O PT também quis se inspirar em Obama: teve a consultoria de Ben Self e Scott Goldstein, estrategistas da campanha do presidente americano na internet, para organizar as ações online de Dilma Roussef. Mas, ao contrário de Marina, o partido já tem muitos militantes – e por isso deve apostar no conceito de campanha 2.0, que é feita pelos próprios eleitores. No site de Dilma, há uma ferramenta que permite criar rapidamente um blog de apoio a ela. Os blogs criados pelos fãs da candidata são interligados e aparecem na página principal do site, o que dá mais audiência e visibilidade a eles – e estimula os militantes e simpatizantes a escrever ainda mais. “Dilma tem conteúdos espontâneos muito bons sendo gerados por seus militantes, como o Blog da Dilma (dilma13.blogspot.com), que foi criado por militantes de Fortaleza e já está no ar há vários meses”, diz Castillo. Outra estratégia do PT são os e-mails personalizados – alguns diretórios do partido vão premiar os militantes que fornecerem mais endereços de e-mail de possíveis eleitores.

Aliás, o bom e velho e-mail também terá parte na campanha: por incrível que pareça, as pessoas estão dispostas a receber e-mails com propaganda política. “Nós fizemos pesquisas que revelaram que, especialmente entre as classes C, D e E, o e-mail é a forma preferida [de receber informações políticas]”, afirma Drica Guzzi, coordenadora de inclusão digital da Escola do Futuro da USP.

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José Serra é quem está há mais tempo na internet. Sua campanha digital tem sites e blogs, mas se destaca pelo uso do twitter. O perfil do candidato (@joseserra_), que é atualizado pelo próprio, tem mais de 250 mil seguidores e não fica só na política: Serra, que já escreveu mais de 2 400 tuítes, também fala de coisas pessoais como música e cinema. Essa estratégia é considerada exemplar por especialistas em marketing político. “Ele é uma pessoa que precisa suavizar sua imagem, humanizá-la, e tem usado o twitter muito bem para fazer isso. E, como tem fama de ser um workaholic, tuíta de madrugada. Isso corrobora a personalidade dele”, avalia Gil Castillo.

Além de usar seu próprio site para divulgar as ideias de Serra, o PSDB também criou um endereço para rebater discursos vindos do outro lado: o gentequemente.org.br, que pretende questionar afirmações feitas pela campanha de Dilma. O PT considera o site ofensivo, e se queixou à Justiça Eleitoral – que manteve a página no ar.

Há quem tema que, com a facilidade de publicar opiniões, vídeos e comentários (inclusive de forma anônima), a campanha na internet possa descambar para a baixaria. Este ano já circulou na web um artigo, supostamente assinado por uma jornalista famosa, que trazia críticas a um político. Era falso. A rede facilita a disseminação de coisas desse tipo. Mas também ajuda a esclarecer tudo. O TSE pretende publicar em seu site (www.tse.gov.br) uma lista com a situação legal de todos os candidatos – para que os eleitores saibam quais estão sendo processados na Justiça e por que. E, como a web garante que todos tenham espaço para tudo, nenhuma acusação ficará sem resposta. “Até hoje, os canais de comunicação política eram os jornais e o horário eleitoral gratuito na TV, sempre com espaço limitado”, afirma Vivian. Já na internet, o direito de resposta é infinito – e pode ser exercido imediatamente, inclusive pelos próprios simpatizantes de cada candidato. Um verdadeiro crowdsourcing eleitoral.

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Yes we can
Barack Obama redefiniu a campanha via web

A campanha que elegeu o presidente dos EUA foi a mais digital de todos os tempos. Obama usou seu site para arrecadar doações, colocou vídeos no YouTube, empregou plataformas diferentes para falar com segmentos diferentes do eleitorado (mensagens de texto para os jovens, e-mail para os adultos) e criou até a própria rede social: o site mybarackobama.com, que reuniu os eleitores em comunidades e transformou sua campanha numa espécie de jogo online – em que cada cidadão ganhava pontos ao organizar e participar de eventos, arrecadar verba e fazer ligações pedindo votos. Se isso lembra o Facebook e seus joguinhos online, como Farmville, é porque era mesmo: a estratégia digital de Obama teve a colaboração de Chris Hughes, um dos fundadores do Facebook. Deu muito certo, tanto em votos quanto em doações: acredita-se que mais da metade dos US$ 742 milhões arrecadados por Obama tenham vindo da internet.

Para saber mais
Politicking Online
Costas Panagopoulos, Rutgers University Press, 2009.

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