O irmão maior do Hubble
A Nasa vai lançar um novo telescópio orbital para procurar nossas origens cósmicas.
João Steiner
Um dos grandes objetivos do Telescópio Espacial Hubble, que foi concebido no início dos anos 70, era desvendar a natureza dos quasares, que são os astros mais brilhantes que existem, e medir com precisão a idade do Universo. Seu lançamento demorou muito tempo devido a vários problemas, principalmente a explosão do ônibus espacial Challenger em 1986. E quando o telescópio finalmente subiu, descobriu-se, para decepção geral, que era míope. Formava imagens borradas por um defeito numa de suas lentes. Foram necessários longos estudos e uma missão tripulada bastante delicada para que, no final de 1994, as imagens começassem a chegar com a definição esperada. De acordo com a opinião predominante, valeu a pena. Imagens espetaculares chegaram à televisão, às páginas dos jornais e das revistas.
Como conseqüência desse sucesso, a Nasa estuda agora o lançamento de uma versão ampliada do Hubble, o NGST, sigla em inglês para Telescópio Espacial de Nova Geração. A idéia nasceu
depois que a comunidade científica, por meio de muitos debates, deu prioridade máxima a um programa denominado Origens. Sua meta, como o nome diz, é a busca de nossas origens distantes. Significa que o programa pretende investigar o nascimento e a formação das galáxias. E também os planetas que, como a Terra, podem abrigar seres vivos, numa tentativa de entender como eles surgiram no Universo.
Para atingir esse objetivo, o ideal é construir um telescópio que capte raios infravermelhos – pois esse é o tipo de radiação emitida pelos planetas. Como esses mundos estão muito longe, girando em torno de outras estrelas, é vantajoso observá-los do espaço, onde não há atmosfera. É que o ar sempre prejudica um pouco as observações.
O NGST vai ser grande.
O espelho com o qual captará as imagens terá 7 metros de diâmetro, enquanto o do Hubble tem apenas 2,4 metros. Devido ao seu tamanho, ele não será formado de uma peça única: vai ser composto de vários segmentos que podem ser ajustados para formar um foco comum. Esses ajustes vão funcionar com ajuda de uma técnica avançada, chamada óptica ativa.
Para manter os custos num patamar razoável – 500 milhões de dólares, segundo os planos da Nasa –, a missão seria lançada num vôo não tripulado e não haveria visitas de manutenção. Toda a operação seria feita com técnicas de robótica e de controle remoto.
O Hubble levou mais de vinte anos para funcionar, desde o início do projeto até sua operação efetiva. Um intervalo tão grande de tempo faz com que os custos cresçam em demasia e a tecnologia fique desatualizada. Essas duas lições, agora, devem ser levadas em conta.
Combinando as observações do futuro telescópio espacial e as dos excelentes telescópios terrestres que estão em construção, a iniciativa da Nasa promete uma perspectiva palpitante para a Astronomia nas próximas décadas.
João Steiner é professor de Astrofísica do Instituto Astronômico e Geofísico da USP e vice-presidente do Projeto Gemini