Pés de espinafre enviam e-mails ao detectar minerais explosivos
Estudo feito por pesquisadores do MIT ainda em 2016 viralizou nas redes sociais nos últimos dias. Entenda como isso é possível.
Que as plantas possuem uma inteligência fora do comum, isso quem lê a Super está careca de saber. Elas podem guardar memórias, traçar intrincadas estratégias de guerra e até mesmo fofocar entre si. Toda essa comunicação acontece graças à ação de sinais químicos: pela movimentação organizada de minerais por diferentes partes da planta, é possível controlar uma série de funções.
Aproveitando-se desse mecanismo de comunicação, cientistas já conseguiram fazer plantas imitar comportamentos humanos – algo conhecido como nanobiônica vegetal. É o caso desta avenca exposta em um zoológico de Londres, por exemplo, que é craque em fazer selfies. Mas nem tudo é brincadeira. Já é possível aplicar a técnica em tarefas úteis a agricultores – como alertar sobre a presença de pragas ou a falta d’água, por exemplo.
Para experimentos desse tipo, basta usar tecnologia para amplificar os sinais químicos que a planta emite naturalmente (mas que são muito fraquinhos) e impulsionar outras reações elétricas mais complexas – como o disparo de uma câmera digital ou o envio de um SMS para um telefone celular, por exemplo.
Nos últimos anos, pesquisadores do MIT foram além, e ensinaram a plantas uma atividade ainda mais sofisticada do que fazer retratos de si próprias ou falar de sua própria saúde: monitorar a presença de minerais explosivos – e, de quebra, enviar e-mails para cientistas caso as coisas fujam do controle.
O experimento foi estrelado por pés de espinafre, conforme descrito neste estudo científico publicado na revista Nature Materials. O estudo foi publicado ainda em 2016, mas viralizou após uma reportagem do portal Euronews chamar atenção para a descoberta no início de fevereiro.
Mas como, afinal, essa comunicação acontece? Raízes de espinafre modificadas geneticamente com nanosensores, primeiro, detectam a presença de compostos nitroaromáticos em águas subterrâneas – como lençóis freáticos ou outros cursos d’água. Essas substâncias são comumente encontradas em explosivos como minas terrestres. Então, ao flagrarem alta presença desses compostos, enviam um sinal químico para o resto da planta.
Depois das raízes, é a vez das folhas entrarem na jogada. As folhas dessa versão modificada de espinafre possuem estruturas microscópicas chamadas nanotubos de carbono. Até aí, tudo normal. Esses nanotubos, porém, são especiais: foram alterados para brilhar em um verde fluorescente de acordo com a química do solo. Quanto maior for o nível de nitroaromáticos absorvido pelas raízes, mais intensa é a coloração.
Apesar de invisível aos olhos humanos, esse brilho fluorescente que os espinafres possuem quando detectam químicos pode ser captado por uma câmera infravermelha. É a partir dos dados dessa imagem que a planta envia, finalmente, um e-mail para alertar os cientistas. Quando a imagem indica uma concentração bem maior de nitroaromáticos, o e-mail é disparado.
“As plantas são químicos muito bons”, disse ao Euronews Michael Strano, pesquisador que liderou o estudo. “Elas têm uma extensa rede de raízes no solo, estão constantemente fazendo amostragem de água subterrânea e têm uma maneira de retroalimentar o transporte dessa água até as folhas. Esta é uma nova maneira de como podemos superar a barreira da comunicação planta/homem.” A ideia é usar a técnica para diferentes aplicações no futuro, como o nível de contaminação do solo, por exemplo.