Quem já esteve de passagem pelas cidades do interior de Minas Gerais certamente ouviu o seu badalar, mas, muito provavelmente, não entendeu o recado. O toque dos sinos é também uma singular (e secular) linguagem e, para os ouvidos atentos e versados, os sons ritmados são uma forma de comunicação prolífica: são mais de 40 tipos de toques que, de acordo com a quantidade e ritmo das badaladas, dizem aos moradores o que acontece na cidade – desde horários de missas e de trabalho até procissões e anúncios de falecimentos.
Para ampliar o acesso ao ofício dos sineiros e ao toque dos sinos – que são bens culturais registrados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – foi criado o Som dos Sinos. O projeto, idealizado por Marcia Mansur e Marina Thomé, reúne sons e conteúdo documental em plataformas web interativas. A ideia é fruto da crença da dupla no potencial das novas mídias para a difusão do patrimônio imaterial. “Os sinos tinham duas características principais para a criação do projeto. Primeiro, é um elemento sonoro e visual muito interessante para tratar de forma audiovisual. Além disso, os jovens das torres já usam muito o celular e internet para difundir os toques. Vimos ali uma oportunidade de juntar pontos importantes: novas mídias e a rede de jovens sineiros, com uma urgência de uma tradição que está se extinguindo”, Marina Thomé contou à SUPER.
A ideia é também estabelecer um diálogo entre as tradições culturais e as novas gerações – apesar de cada cidade apresentar cenários particulares, Márcia e Marina observam que a maioria dos jovens das cidades não reconhece mais os toques dos sinos. “São João del Rei sem dúvida tem uma produção intensa de material filmado por celular e grandes grupos de conversa pelo Facebook de sineiros. Em alguns lugares como Ouro Preto existem associações de sineiros que tentam viabilizar projetos para salvaguarda dos sinos. Em Tiradentes, temos uma perda maior da tradição, com poucos grupos jovens ativos”, afirma Marina.
Uma das ações do projeto é um aplicativo de celular que coloca no mapa as paisagens sonoras mineiras. Através do app (disponível gratuitamente para iOS e Android), o usuário pode escutar os diversos toques soados em igrejas de nove cidades históricas de Minas Gerais – com ajuda do GPS de localização, quem estiver em território mineiro pode se orientar para ouvi-los in loco. Outra forma de experimentar os sons e histórias da tradição mineira é através do site, onde é possível navegar por mais de 100 faixas de áudio e por depoimentos da comunidade. Em breve, o endereço vai abrigar também a sessão “Micro Histórias” – um webdocumentário, com narrativa não linear, que convida o usuário a visitar as torres e transitar por diferentes conteúdos, definindo a sequência da história a cada clique. A ferramenta interativa será lançada em agosto.