Techno fashion
Calma, você não pegou a revista errada. As roupas que aparecem nestas páginas são mais do que moda. São computadores para vestir.
Ricardo Balbachevsky Setti
Griffe consagrada no campo da ciência, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), quem diria, quer agora conquistar o mundo da moda. E estréia em grande estilo. Sua primeira coleção, feita com o apoio de estudantes da escola de moda Frederick Walton, em Boston, Estados Unidos, bem poderia freqüentar as passarelas parisienses.
Assim, à primeira vista, a gente fica pensando que é preciso muita coragem para usar os modelitos cheios de penduricalhos tecnológicos. Mas o mundo não acaba adotando as tendências mostradas anualmente pelos estilistas, por mais malucas que pareçam? Além disso, mais do que roupas, a coleção do MIT reúne wearables, quer dizer, computadores para vestir.
Ao ponto
Ainda que esteja a 100 metros das panelas, o cozinheiro que usar esta roupa não vai deixar o bife queimar. Câmeras de vídeo enviam imagens do fogão direto para a lente dos seus óculos. Bem próximo dos olhos, o monitor equivale a uma TV de 14 polegadas. Com um pedido ao microfone, embutido na manga, a chama pode ser aumentada, diminuída ou apagada. Toda a conversa viaja por microondas enviadas e recebidas por antenas também instaladas nas mangas e no chapéu. Chips e memórias ficam nos tênis e a fiozeira toda, cerca de 4 metros, corre entre o tecido e o forro.
Guris on-line
Não, não são fantasias inspiradas nos Jetsons. Os trajes foram desenhados para fazer a alegria de pais neuróticos. Para começar, emitem sinais para satélites que indicam a localização precisa dos pimpolhos, pelo Sistema de Posicionamento Global (GPS). A movimentação pode ser controlada de casa. Câmeras de vídeo, microfones e ligação com a Internet facilitam a comunicação com o lar e sensores espalhados pelo tecido disparam um alarme em casa se a criança recebe uma pancada. Achou pouco? Pois há também controle de batimento cardíaco e pressão sanguínea.
No ouvido, fones e medidor de batimentos cardíacos
Os patins são só patins mesmo
No visor, um monitor para ver quem está em casa
Os chifres nas costas trazem baterias de lítio que mantêm o computador funcionando durante 10 horas
No peito, a fita de um metal condutor faz as vezes de cabos e leva eletricidade ao capacete
Em cima do capacete uma antena transmite sinais para os satélites
Para caber no capacete, a placa com os chips foi feita em formato curvo
Segunda pele
Wearable. Guarde esta palavra. Em inglês, significa algo como “vestível”. É o termo usado para designar todos os computadores mostrados nesta reportagem, equipamentos pequenos que podem ser carregados para qualquer lugar. Então um notebook levado no bolso do casaco poderia ser wearable? A pergunta foi feita ao pesquisador do MIT Steve Mann, um dos pioneiros da área, responsável pela parceria com os estilistas. “Nããão!”, berrou ele à SUPER, pela Internet. Segundo Mann, para pertencer à categoria, o computador precisa ficar ligado o tempo todo, funcionar em movimento, receber comandos de voz e chamar a atenção do usuário sempre que for preciso. Ou seja, tem que ser quase parte de quem o usa. Hoje, é “vestível”. Um dia, quem sabe, poderá ser implantável.
Com este anel ninguém se perde. Além de dar a localização pelo sistema GPS, ele tem antena para conectar a Internet em qualquer computador disponível
Feitas para amigas inseparáveis, as roupas-televisão funcionam assim: a da esquerda carrega só baterias comuns; a da direita sintoniza canais de VHF e os mostra nas telas maleáveis de cristal líquido. A carga viaja de um traje a outro pelo contato das mãos
A capa camaleão muda de cor com o ambiente. Uma microcâmera nas costas capta a tonalidade mais próxima e manda o tecido se alterar. Para isso, estão dispostas no tecido milhares de microescamas nas cores vermelho, verde e azul que, agrupadas e combinadas, podem reproduzir cores diversas
Urbana
Que tal circular por Nova York sem guias, listas telefônicas e cronogramas de estações de trem ou de aeroportos? Basta vestir a roupa ao lado. Nos braços, a moça carrega computadores que trazem informações sobre os serviços urbanos da cidade, atualizados a cada minuto. Tudo é transmitido por uma instituição oficial e recebido por uma antena que, na foto, está escondida sob o penteado. Pronto para funcionar em Nova York, o sistema já despertou o interesse dos administradores da cidade de Tóquio.
Quando a bateria está totalmente carregada, a roupa fica inteiramente azul. A da foto tem só meia carga
A bateria fica na sola do sapato
A antena corre pelas costas da modelo e fica escondida debaixo do cabelo
A fita parece um enfeite, mas é o cabo que liga o computador à antena
Nos pulsos, telas flexíveis mostram as informações sobre os serviços urbanos
Homem-câmera
Faz tempo que os profissionais que trabalham com câmeras de vídeo portáteis andavam reclamando. É que até hoje elas não são tão portáteis assim, exigem muita atenção e ocupam olhos e mãos de quem as manipula. A roupa que o MIT planejou para esse pessoal é uma mão na roda. Uma microcâmera colocada na haste dos óculos grava tudo o que se olha. Para facilitar o foco, há sensores espalhados pela calça e pela blusa.
A gola esconde um giroscópio, equipamento capaz de compensar a trepidação das passadas na imagem gravada
As baterias ficam na cintura. Elas mantêm o equipamento funcionando por até 5 horas
Os círculos são sensores que emitem luz infravermelha para ajustar o foco da câmera
Microcâmera
O que é gravado pode ser visto numa tela dentro dos óculos
Maluco célebre
Há dez anos, quando adaptou uma câmera de vídeo em um capacete, colocou-o na cabeça e saiu pelo campus do MIT gravando e mandando as imagens para a Internet, o engenheiro Steve Mann não foi levado a sério. “No começo me achavam maluco. Depois, excêntrico”, contou à SUPER. “Agora sou uma celebridade”, comemora. Foi ele quem inventou, em 1994, o sapato que funcionava como um cartão de visitas e transmitia dados pelo aperto de mãos. Ao contrário do que muita gente pensava, Mann não estava brincando. O MIT apostou em suas idéias extravagantes e os protótipos mostrados nesta reportagem, por mais estranhos que pareçam, são a prova de que fez bem. “Os dias dos computadores em cima das mesas estão contados”, ele profetiza.
Estas calças são um perigo. Com câmeras, gravadores e emissão de sinais para satélites, elas gravam todo o percurso do usuário, como um diário de bordo. Podem ser úteis para esportistas que se metem a abrir trilhas nas florestas
Os calorentos vão adorar. Tubos com água percorrem este modelo, digamos, fresquinho. Muito apropriado para o trabalho em ambientes escaldantes, tem a vantagem de enfrentar bem até incêndios
À frente da notícia
Os pesquisadores também pensaram nos jornalistas. A intenção da roupa é manter o repórter atualizado com as últimas notícias e equipado para produzir seu texto onde quer que esteja. Assim, há conexão com a Internet, TV, GPS para as missões mais longínquas e até um teclado virtual, criado pelas luvas com sensores. As telas ficam penduradas e o usuário pode pegá-las e examiná-las na hora que quiser. O único risco é o entrevistado sair correndo de medo do repórter.
Na luva-teclado, cada dedo é responsável por seis letras ou sinais. Uma batida no ar é “a”, duas representam “b”, três “c” e assim por diante. O texto aparece numa das telas
Como a vida de jornalista às vezes é arriscada, a roupa é à prova de bala. Mas os estilistas deveriam ter se lembrado de proteger o peito e os braços também
Para recarregar a bateria das telas, basta prendê-las no cinto
O gerador fica na sola do sapato
Parece alta tecnologia, mas o aro em volta dos olhos é obra só dos estilistas
Para o shopping
Embora seja impensável sair às compras metida num modelo antigo-futurista como este, é exatamente para essa atividade que ele foi planejado. Tirando o detalhe de que é realmente um trambolho, o conjunto tem tudo para se tornar o sonho do consumidor e o pesadelo do lojista. No bolso, vai um computador com tela de cristal líquido que o comprador usa para comparar preços, via Internet. Se encontrar diferenças grandes e ficar muito irritado, a roupa ficará vermelha. Um leve mau humor a deixará cinza. Caso se torne verde, é sinal de que o vendedor pode investir tranqüilo. As baterias, embutidas na gola, nem aparecem
O tecido é coberto de escamas. Elas contêm as cores que a roupa pode adquirir
O que se vê nas mãos e no rosto são medidores de temperatura, umidade da pele e batidas cardíacas, considerados indicadores de humor
A especialidade do microcomputador ligado à Internet é a consulta de preços
Esquisita, porém útil
Todo mundo, a começar pelo grupo que estuda os wearables no MIT, sabe que é pouco provável alguém usar uma destas roupas na rua. Pelo menos por enquanto. Elas foram produzidas só para mostrar em que pé estão as pesquisas da área. E para apresentar aos estilistas o desafio de adaptar suas idéias à tecnologia disponível.
É bom lembrar, porém, que os wearables já estão completamente assimilados por profissionais como mergulhadores e astronautas. Steve Mann acha que em cinco anos eles terão conquistado outros profissionais, como médicos, arquitetos, engenheiros e cozinheiros. É que, mais do que bonita, a griffe MIT promete ser eficiente. Exatamente como pede o futuro.
A roupa com jeitão de porta-bandeira é uma tomada ambulante. Por seus fios passa uma corrente de 12 volts, capaz de alimentar a maioria dos aparelhos elétricos, incluindo notebooks. Os plugs são ligados nos enfeites do tecido e a bateria fica presa na perna, por baixo da saia