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Techno fashion

Calma, você não pegou a revista errada. As roupas que aparecem nestas páginas são mais do que moda. São computadores para vestir.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h36 - Publicado em 31 mar 1998, 22h00

Ricardo Balbachevsky Setti

Griffe consagrada no campo da ciência, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), quem diria, quer agora conquistar o mundo da moda. E estréia em grande estilo. Sua primeira coleção, feita com o apoio de estudantes da escola de moda Frederick Walton, em Boston, Estados Unidos, bem poderia freqüentar as passarelas parisienses.

Assim, à primeira vista, a gente fica pensando que é preciso muita coragem para usar os modelitos cheios de penduricalhos tecnológicos. Mas o mundo não acaba adotando as tendências mostradas anualmente pelos estilistas, por mais malucas que pareçam? Além disso, mais do que roupas, a coleção do MIT reúne wearables, quer dizer, computadores para vestir.

Ao ponto

Ainda que esteja a 100 metros das panelas, o cozinheiro que usar esta roupa não vai deixar o bife queimar. Câmeras de vídeo enviam imagens do fogão direto para a lente dos seus óculos. Bem próximo dos olhos, o monitor equivale a uma TV de 14 polegadas. Com um pedido ao microfone, embutido na manga, a chama pode ser aumentada, diminuída ou apagada. Toda a conversa viaja por microondas enviadas e recebidas por antenas também instaladas nas mangas e no chapéu. Chips e memórias ficam nos tênis e a fiozeira toda, cerca de 4 metros, corre entre o tecido e o forro.

Guris on-line

Não, não são fantasias inspiradas nos Jetsons. Os trajes foram desenhados para fazer a alegria de pais neuróticos. Para começar, emitem sinais para satélites que indicam a localização precisa dos pimpolhos, pelo Sistema de Posicionamento Global (GPS). A movimentação pode ser controlada de casa. Câmeras de vídeo, microfones e ligação com a Internet facilitam a comunicação com o lar e sensores espalhados pelo tecido disparam um alarme em casa se a criança recebe uma pancada. Achou pouco? Pois há também controle de batimento cardíaco e pressão sanguínea.

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No ouvido, fones e medidor de batimentos cardíacos

Os patins são só patins mesmo

No visor, um monitor para ver quem está em casa

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Os chifres nas costas trazem baterias de lítio que mantêm o computador funcionando durante 10 horas

No peito, a fita de um metal condutor faz as vezes de cabos e leva eletricidade ao capacete

Em cima do capacete uma antena transmite sinais para os satélites

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Para caber no capacete, a placa com os chips foi feita em formato curvo

Segunda pele

Wearable. Guarde esta palavra. Em inglês, significa algo como “vestível”. É o termo usado para designar todos os computadores mostrados nesta reportagem, equipamentos pequenos que podem ser carregados para qualquer lugar. Então um notebook levado no bolso do casaco poderia ser wearable? A pergunta foi feita ao pesquisador do MIT Steve Mann, um dos pioneiros da área, responsável pela parceria com os estilistas. “Nããão!”, berrou ele à SUPER, pela Internet. Segundo Mann, para pertencer à categoria, o computador precisa ficar ligado o tempo todo, funcionar em movimento, receber comandos de voz e chamar a atenção do usuário sempre que for preciso. Ou seja, tem que ser quase parte de quem o usa. Hoje, é “vestível”. Um dia, quem sabe, poderá ser implantável.

Com este anel ninguém se perde. Além de dar a localização pelo sistema GPS, ele tem antena para conectar a Internet em qualquer computador disponível

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Feitas para amigas inseparáveis, as roupas-televisão funcionam assim: a da esquerda carrega só baterias comuns; a da direita sintoniza canais de VHF e os mostra nas telas maleáveis de cristal líquido. A carga viaja de um traje a outro pelo contato das mãos

A capa camaleão muda de cor com o ambiente. Uma microcâmera nas costas capta a tonalidade mais próxima e manda o tecido se alterar. Para isso, estão dispostas no tecido milhares de microescamas nas cores vermelho, verde e azul que, agrupadas e combinadas, podem reproduzir cores diversas

Urbana

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Que tal circular por Nova York sem guias, listas telefônicas e cronogramas de estações de trem ou de aeroportos? Basta vestir a roupa ao lado. Nos braços, a moça carrega computadores que trazem informações sobre os serviços urbanos da cidade, atualizados a cada minuto. Tudo é transmitido por uma instituição oficial e recebido por uma antena que, na foto, está escondida sob o penteado. Pronto para funcionar em Nova York, o sistema já despertou o interesse dos administradores da cidade de Tóquio.

Quando a bateria está totalmente carregada, a roupa fica inteiramente azul. A da foto tem só meia carga

A bateria fica na sola do sapato

A antena corre pelas costas da modelo e fica escondida debaixo do cabelo

A fita parece um enfeite, mas é o cabo que liga o computador à antena

Nos pulsos, telas flexíveis mostram as informações sobre os serviços urbanos

Homem-câmera

Faz tempo que os profissionais que trabalham com câmeras de vídeo portáteis andavam reclamando. É que até hoje elas não são tão portáteis assim, exigem muita atenção e ocupam olhos e mãos de quem as manipula. A roupa que o MIT planejou para esse pessoal é uma mão na roda. Uma microcâmera colocada na haste dos óculos grava tudo o que se olha. Para facilitar o foco, há sensores espalhados pela calça e pela blusa.

A gola esconde um giroscópio, equipamento capaz de compensar a trepidação das passadas na imagem gravada

As baterias ficam na cintura. Elas mantêm o equipamento funcionando por até 5 horas

Os círculos são sensores que emitem luz infravermelha para ajustar o foco da câmera

Microcâmera

O que é gravado pode ser visto numa tela dentro dos óculos

Maluco célebre

Há dez anos, quando adaptou uma câmera de vídeo em um capacete, colocou-o na cabeça e saiu pelo campus do MIT gravando e mandando as imagens para a Internet, o engenheiro Steve Mann não foi levado a sério. “No começo me achavam maluco. Depois, excêntrico”, contou à SUPER. “Agora sou uma celebridade”, comemora. Foi ele quem inventou, em 1994, o sapato que funcionava como um cartão de visitas e transmitia dados pelo aperto de mãos. Ao contrário do que muita gente pensava, Mann não estava brincando. O MIT apostou em suas idéias extravagantes e os protótipos mostrados nesta reportagem, por mais estranhos que pareçam, são a prova de que fez bem. “Os dias dos computadores em cima das mesas estão contados”, ele profetiza.

Estas calças são um perigo. Com câmeras, gravadores e emissão de sinais para satélites, elas gravam todo o percurso do usuário, como um diário de bordo. Podem ser úteis para esportistas que se metem a abrir trilhas nas florestas

Os calorentos vão adorar. Tubos com água percorrem este modelo, digamos, fresquinho. Muito apropriado para o trabalho em ambientes escaldantes, tem a vantagem de enfrentar bem até incêndios

À frente da notícia

Os pesquisadores também pensaram nos jornalistas. A intenção da roupa é manter o repórter atualizado com as últimas notícias e equipado para produzir seu texto onde quer que esteja. Assim, há conexão com a Internet, TV, GPS para as missões mais longínquas e até um teclado virtual, criado pelas luvas com sensores. As telas ficam penduradas e o usuário pode pegá-las e examiná-las na hora que quiser. O único risco é o entrevistado sair correndo de medo do repórter.

Na luva-teclado, cada dedo é responsável por seis letras ou sinais. Uma batida no ar é “a”, duas representam “b”, três “c” e assim por diante. O texto aparece numa das telas

Como a vida de jornalista às vezes é arriscada, a roupa é à prova de bala. Mas os estilistas deveriam ter se lembrado de proteger o peito e os braços também

Para recarregar a bateria das telas, basta prendê-las no cinto

O gerador fica na sola do sapato

Parece alta tecnologia, mas o aro em volta dos olhos é obra só dos estilistas

Para o shopping

Embora seja impensável sair às compras metida num modelo antigo-futurista como este, é exatamente para essa atividade que ele foi planejado. Tirando o detalhe de que é realmente um trambolho, o conjunto tem tudo para se tornar o sonho do consumidor e o pesadelo do lojista. No bolso, vai um computador com tela de cristal líquido que o comprador usa para comparar preços, via Internet. Se encontrar diferenças grandes e ficar muito irritado, a roupa ficará vermelha. Um leve mau humor a deixará cinza. Caso se torne verde, é sinal de que o vendedor pode investir tranqüilo. As baterias, embutidas na gola, nem aparecem

O tecido é coberto de escamas. Elas contêm as cores que a roupa pode adquirir

O que se vê nas mãos e no rosto são medidores de temperatura, umidade da pele e batidas cardíacas, considerados indicadores de humor

A especialidade do microcomputador ligado à Internet é a consulta de preços

Esquisita, porém útil

Todo mundo, a começar pelo grupo que estuda os wearables no MIT, sabe que é pouco provável alguém usar uma destas roupas na rua. Pelo menos por enquanto. Elas foram produzidas só para mostrar em que pé estão as pesquisas da área. E para apresentar aos estilistas o desafio de adaptar suas idéias à tecnologia disponível.

É bom lembrar, porém, que os wearables já estão completamente assimilados por profissionais como mergulhadores e astronautas. Steve Mann acha que em cinco anos eles terão conquistado outros profissionais, como médicos, arquitetos, engenheiros e cozinheiros. É que, mais do que bonita, a griffe MIT promete ser eficiente. Exatamente como pede o futuro.

A roupa com jeitão de porta-bandeira é uma tomada ambulante. Por seus fios passa uma corrente de 12 volts, capaz de alimentar a maioria dos aparelhos elétricos, incluindo notebooks. Os plugs são ligados nos enfeites do tecido e a bateria fica presa na perna, por baixo da saia

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