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Telefone ou teletudo? As previsões da Super sobre smartphones em 1988

"O telefone não é mais aquele: transporta imagens, textos, desenhos, conversa com terminais de computador. Sem fio, pode até ser guardado no bolso. E ainda conserva sua maior virtude: a comunicação pelo som."

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 5 mar 2021, 15h13 - Publicado em 31 ago 1988, 22h00

Neste texto, publicado no segundo ano de existência da revista, nossos jornalistas estavam fascinados com a maior revolução na telefonia desde Graham Bell. Aproveite o aniversário da patente do telefone, 7 de março, para descobrir quais eram as expectativas em torno dos primeiros celulares. 

Preso no meio de um congestionamento, Alberto percebe que vai se atrasar para uma importante reunião. Ele apanha o telefone, ao lado da direção do automóvel, e tecla o número do escritório. Do outro lado da linha, a secretária atende. “Podem começar sem mim”, avisa. “Vou me atrasar.” A secretária então pede: “Você pode enviar a ata da reunião passada?” Alberto concorda. Em seguida, liga para a mulher em casa: “Você me faz um favor? Pegue aquela folha de papel em cima da escrivaninha e transmita para o escritório”. Dois minutos depois, a secretária de Alberto está com a ata nas mãos.

Bruno, de 10 anos, não consegue fazer o exercício de Matemática que o professor mandou. Telefona para o local de trabalho da mãe e conta a sua dificuldade. “Mostre o exercício”, pede ela. Com uma caneta especial, o menino começa a escrever os números de uma divisão de polinômios na pequena tela que acompanha seu telefone. Do outro lado do fio, a mãe segue—também numa tela—os cálculos de Bruno. Depois de alguns instantes, ela interrompe: “Espere um pouco. Acho que aí você fez confusão”. O garoto pára de escrever. É a vez da mãe. Ela pega uma caneta semelhante à do filho e termina a equação. “Percebeu o erro?”, pergunta.

Como faz todos os dias, Mário telefona para casa 15 minutos antes de encerrar o expediente no escritório. Depois de teclar seu próprio número no aparelho, acrescenta uma série de algarismos à chamada. Em seguida, desliga. Ele sabe que não há ninguém do outro lado da linha. Mas sabe também que, como se fosse um mordomo, o telefone se encarrega de acender as luzes da casa, ligar o ar-condicionado e o forno de microondas. Em conversa com um colega de escritório, Mário explica: “Daqui até minha casa demora cerca de meia hora. Quando chegar, sei que vou encontrar tudo iluminado e o jantar pronto”.

Essas três histórias exemplificam algumas das mais recentes vantagens do processo de modernização do velho telefone que, ao menos teoricamente, já está ao alcance de uma boa parte do mundo. Qualquer uma das três cenas poderia acontecer, por exemplo, em lugares tão diferentes como as cidades de Higashi ou Ikoma, no Japão, ou no balneário de Biarritz. Ali, como em muitas outras localidades da Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, o telefone deixou de ser o equipamento tão familiar que transmite apenas a voz. Agora, ele também transmite imagens, textos, gráficos, fotos, faz consultas a bancos de dados e automação de casas e escritórios. E, mesmo quando transmite singelamente a voz, proporciona facilidades inimagináveis há poucos anos, como a participação simultânea de mais de dois interlocutores.

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A nova tecnologia do telefone, além disso, é a desgraça dos engraçadinhos: acabaram-se os telefonemas anônimos. É verdade: não há mais necessidade de atender o telefone para saber quem está ligando. O número de quem chama aparece na pequena tela acoplada ao aparelho. Os chatos também foram postos para escanteio: além da identificação de quem está chamando, a nova rede telefônica permite bloquear o acesso à linha de quem não estiver numa lista previamente estabelecida pelo proprietário do aparelho. Em caso de ausência ou de telefone ocupado, não é preciso insistir. O número do emissor fica na memória do telefone e volta a ser conectado depois de um intervalo de tempo.

Se alguém resolve convidar um amigo para jantar fora e depois se lembra de incluir no convite uma terceira pessoa, pode combinar em conjunto o restaurante—mesmo que os três estejam falando em linhas diferentes. Mas, como nada é perfeito, os vendedores têm a oportunidade de gravar uma mensagem e programar o número das pessoas a quem ela se destina, além da hora em que deve ser feita a ligação. Aliás, vendedores e outros profissionais que trabalham na rua podem programar o recebimento de chamadas destinadas ao escritório para os locais onde se encontram. Também podem levar um telefone no bolso. O aparelho deixou de ser exclusivo das mesas dos escritórios e residências e das cabines telefônicas, para ser encontrado em trens, aviões ou em qualquer parte.

Por esses exemplos que já fazem parte da vida real pode-se ver até onde chegam as possibilidades da rede telefônica moderna. Mas, muitas vezes, os mesmos avanços técnicos do sistema podem causar problemas. No Japão, onde o uso do novo telefone é mais generalizado, questões como o fim do anonimato nas chamadas telefônicas levam a discussões infindáveis. Alguns afirmam que receber chamadas apenas de pessoas conhecidas exclui muita gente do relacionamento, enquanto outros defendem o direito à privacidade e a liberdade de responder ou não ao telefone.

Esse tipo de discussão é tão sério que deve ser levado ao Comitê Consultivo Internacional de Telefonia (CCIT), vinculado à União Internacional de Telecomunicações. O comitê tem a missão de estabelecer os padrões de telecomunicações de todos os países, sem o que o DDI seria impossível. Por enquanto, o sistema de telecomunicações de, por exemplo, Biarritz não pode ser usado, sem adaptações, nas linhas telefônicas de Birigüi, em São Paulo. “Estamos entrando numa era em que vão ocorrer as maiores modificações no telefone, desde Graham Bell”, prevê o engenheiro Aderbal Alves Borges, da Telebrás, lembrando o inventor do telefone, o escocês naturalizado americano Alexander Graham Bell (1847-1922).

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Borges não se refere a modificações no princípio de funcionamento do telefone. Este continua sendo essencialmente o aparelho do final do século passado que converte o som ou energia sonora em impulsos elétricos que, por sua vez, são transmitidos por cabos até o receptor. Todo telefone é ligado por cabos de fios de cobre ou, mais modernamente por cabos de finíssimas fibras óticas a uma rede urbana que envia suas chamadas a uma central. É ali que o sinal é transmitido ao número solicitado. Nas ligações interurbanas, os cabos são substituídos pelas microondas; nas ligações internacionais, por cabos submarinos e, mais recentemente, por satélites.

O que muda realmente no telefone é o sistema de codificação de sons. No padrão convencional, as ondas sonoras produzidas pela fala se convertem em ondas elétricas. Cada uma dessas ondas gera sinais analógicos, assim chamados porque reproduzem o padrão do som original. Na transmissão analógica, um sinal ocupa totalmente um cabo durante uma ligação. Isso já não acontece na transmissão digital, assim chamada porque nela o som é convertido num código numérico, como o dos computadores. Em cada ligação, a voz é decodificada em milhares de bits (unidades de informação) por segundo. A transmissão digital permite um grande número de ligações simultâneas num mesmo cabo, sem que se confundam.

As diferenças começam no aparelho. Já é comum a substituição do velho disco por um teclado. A cada número corresponde uma nota musical. Isso torna as ligações mais rápidas, evitando a lentidão do antigo sistema onde, a cada número, correspondia um igual número de pulsos. O zero, por exemplo, é representado por dez pulso — aqueles que se ouve durante a discagem. Além disso, o usuário tem a sua disposição o telefone com memória, que proporciona uma série de serviços programáveis, como a discagem abreviada em ligações muito freqüentes, bloqueio de interurbano e ligações automáticas para certos números (hot-line). De qualquer maneira, como enfatiza o engenheiro Mário Gonçalves, da Equitel, empresa de equipamentos de telecomunicações, ” o telefone é apenas a ponta do iceberg”

Realmente, o que comanda a orquestra telefônica são as centrais que constituem a parte inteligente de uma rede de telecomunicações. A partir da sinalização do emissor, as centrais traçam a rota que a chamada deve percorrer até o destinatário e orientam novamente a viagem de volta. As mais modernas centrais são os CPA (Controle de Programação Armazenada), pois funcionam como verdadeiros computadores. Com essas centrais, fica mais fácil fazer a interligação de terminais de computadores, de fac-símiles e videotextos com a ajuda de um decodificador de sinais chamado modem.

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No final da década de 70, começaram em diversos países os preparativos para padronizar uma Rede Digital de Serviços Integrados (RDSI), que permitiria pôr em prática com mais economia e rapidez uma série de serviços de telecomunicações que dependem de sinais digitais—como os bancos de dados. A idéia é juntar no mesmo cabo telefônico todos os serviços que hoje funcionam de maneira independente — como eletrodomésticos compartilhando uma tomada. Em conseqüência, já existem protótipos de aparelhos multifuncionais – o telefone passa a ter a aparência de um computador, com impressora, vídeo e memória para armazenar informações.

Os três casos relatados no início desta reportagem poderiam acontecer na rede comum. Mas, sem a RDSI, seriam difíceis de executar, além de muito caros. A vantagem essencial da RDSI consiste na velocidade de transmissão, que chega a 64 mil bits por segundo ou Kbits/s. Isso é suficiente para transferir um texto pelo terminal de fac-símile (fax) em frações de segundo contra cerca de um minuto nas redes comuns. Essa velocidade, porém, ainda não serve para a transmissão de um sinal de televisão comercial—só permite imagens de baixa definição. O videofone transmite no máximo a imagem de um rosto, quadro a quadro, com um filme em câmara ultralenta. O crescente uso das fibras óticas influirá na qualidade das imagens. Sua definição será beneficiada pelo fato de as fibras óticas transmitirem 150 milhões de bits por segundo.

A rede digital não se limitará aos telefones fixos. No futuro, qualquer usuário disposto a pagar a conta poderá contar com um serviço já adotado pela polícia de algumas cidades americanas: trata-se de uma estação de telecomunicações dentro do carro, com telefone e terminais de computador. Ainda pouco conhecidos no Brasil, os aparelhos de telefonia móvel operam em faixas de freqüência de rádio, mas as ligações são iguais às de um telefone comum. Um desenvolvimento desse sistema é a telefonia celular, que funciona como se dividisse determinada área em células hexagonais, feito as subdivisões de uma colméia. Ao fazer uma chamada, o usuário automaticamente tem acesso à antena de rádio mais próxima dentro dessa célula. Quando se desloca, um sistema por computador o liga à antena seguinte.

Telefone celular, videofone, rede digital—enfim, toda a tecnologia emprestada pela informática às telecomunicações estará à disposição de todos no futuro. A prática dirá quais inovações tenderão a ser mais bem recebidas pelos usuários. Sua reação dependerá de fatores culturais, hábitos e nível de informação. Eis uma boa razão para manter-se atualizado em relação às novas conquistas do setor. Afinal, usufruir seus benefícios é apenas uma questão de tempo.

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Para saber mais:

A invasão da luz

(SUPER número 10, ano 3)

Faxmania sem fronteiras

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(SUPER número 3, ano 4)

Computador via Embratel

(SUPER número 6, ano 6)

Fax, teletex, text-fax

Mistura de fotocopiadora com telefone, o fac-símile, ou simplesmente fax, como se tornou conhecido, é a mais recente inovação a freqüentar os escritórios das grandes corporações. Trata-se de um aparelho capaz de transmitir—para a mesa ao lado ou para o outro lado do mundo —documentos, gráficos, catálogos ou desenhos em apenas alguns segundos. Enquanto um terminal de telex demora por exemplo três minutos para transmitir um documento de trinta linhas, do qual só constam letras e números, o fax é capaz de “varrer” uma página, enviando todos os símbolos que nela aparecem numa fração desse tempo. No Japão, o fac-símile tornou-se popular não só pela rapidez mas também devido à dificuldade na transmissão, via telex, dos ideogramas que constituem a escrita desse país.

Apesar de sua popularização recente, o fax é conhecido desde a Segunda Guerra Mundial, quando o equipamento foi testado para o envio de mapas e ordens de ataque. Da mesma forma que o aparelho de telefoto, que permite o envio de fotos por telefone, o fax transforma as imagens de uma página em ondas de luz e, estas, em impulsos elétricos. Transmitidos normalmente pela linha telefônica, são decodificados no destino final da mensagem. Por enquanto, o sistema exige impressão em papel térmico especial. No futuro, porém, poderá ser usada impressora a laser sobre papel comum. A impressão ainda é penas em preto-e-branco, embora aIguns aparelhos mais modernos já usem também o vermelho.

Recentemente, fax encontrou um concorrente no teletex, evolução dos terminais de telex, com um conjunto mais amplo de caracteres e que também transmite em segundos. O teletex—basicamente um microcomputador mais um módulo de comunicação—, além de muito rápido, permite que o remetente corrija o texto que enviar nas telas dos terminais e guarde as mensagens na memória quando elas não puderem ser transmitidas imediatamente por aIgum motivo. Já existem no Japão protótipos de um novo sistema chamado modo-misto ou text-fax, que transmite textos (como um teletex) e também figuras (como o fax), tudo muito depressa.

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