Carlos Chernij
Com a ajuda de potentes radiotelescópios, cientistas buscam um sinal de vida inteligente fora da Terra. Até agora, parece que ninguém quis falar com a gente. Mas há quem aposte que são boas as chances de captarmos algum sinal alienígena até 2025
Tudo o que a ciência sabe hoje leva a crer que estamos praticamente sozinhos no sistema solar. E, mesmo que não estejamos, nossas companhias não chegam nem aos pés da nossa civilização em termos de tecnologia. Mas, e se lá longe, a anos-luz de distância, houver alienígenas tão ou mais avançados do que nós? Será que eles também não estão procurando por outras formas de vida? Será que não têm os mesmos dilemas que nós sobre a vida no Universo? Quem sabe já esteja rolando uma grande festa intergaláctica e nós é que estamos longe demais de tudo? São pensamentos assim que povoam as mentes dos cientistas dos programas de busca de vida extraterrestre inteligente, mais conhecidos como Seti (Search for Extraterrestrial Intelligence).
Se você viu o filme Contato (1997), baseado no livro do astrônomo Carl Sagan, deve saber do que se trata. São cientistas que usam enormes antenas de radiotelescópios para tentar captar algum sinal vindo do espaço. Seria mais ou menos como percorrer o dial de um rádio procurando uma estação. O problema é que o “dial” do universo é gigantesco. E, até agora, todos os ruídos que captamos vinham aqui mesmo da Terra ou de algum de nossos satélites de comunicações. Melhor dizendo, quase todos.
Em agosto de 1977, o astrofísico Jerry Ehman estava trabalhando no radiotelescópio Big Ear (grande ouvido), da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos. No meio de um monte de letras e números cuspidos pelo computador, uma seqüência fisgou os olhos de Ehman. Era uma coisa tão descomunal que ele não conseguiu pensar em nada. Apenas circulou a seqüência e escreveu WOW! (UAU!). Não era para menos. Havia um nível mínimo de força para se considerar que algum sinal valia a pena ser mais bem analisado. O WOW era 50 vezes mais forte do que esse mínimo e durou 72 segundos. Pelo jeito, os ETs haviam pregado o dedo na campainha. O sinal foi tão significativo que até hoje há pessoas buscando pela sua confirmação. Nenhuma obteve sucesso. Em 45 anos de escuta, essa foi a vez que chegamos mais perto de fazer contato. Se é que realmente havia alguma coisa lá fora.
ALÔ, ALÔ, MARCIANO
E por que os alienígenas usariam sinais de rádio para mandar uma mensagem? “Esse tipo de onda é muito eficiente”, diz Seth Shostak, astrônomo sênior do Instituto Seti, na Califórnia. “Pouquíssima energia é necessária para mandar um sinal. Elas são fáceis de produzir, viajam na velocidade da luz e conseguem passar sem dificuldades pelas nuvens de poeira e gás que existem no espaço, sem muita interferência.” As buscas se restringem às vizinhanças de estrelas parecidas com o Sol, onde a chance de haver planetas capazes de desenvolver vida é maior. Mas, só nos arredores do sistema solar, num raio de 100 anos-luz (uma mixaria astronômica), estima-se que existam milhares de estrelas desse tipo.
Nos últimos anos, o Seti tem sobrevivido só com dinheiro da iniciativa privada. É bem verdade que, com doadores do calibre de William Hewlett e David Packard (da HP), Gordon Moore (Intel) e Paul Allen (Microsoft), dinheiro não parece ser problema. Agora os cientistas estão esperando que a primeira fase do Conjunto de Telescópios Allen fique pronta na Califórnia. Em vez de um grande e único “prato”, como o radiotelescópio porto-riquenho de Arecibo – a maior antena do mundo –, o novo projeto prevê centenas de antenas menores e mais modernas trabalhando em conjunto, em tempo integral. Seu poder de varredura será 300 vezes maior do que atualmente.
VOCÊS FALAM INGLÊS?
E se, finalmente recebermos a tão sonhada mensagem, o que faremos? Na prática, essa questão é deixada para depois. Primeiro porque, se recebermos um sinal vindo de, digamos, 100 anos-luz daqui, uma possível resposta levaria um século para atingir seu destino. Em segundo lugar, a maioria dos pesquisadores do Seti não acha que seríamos capazes de decifrar facilmente alguma língua alienígena. “Os radiotelescópios não foram feitos para identificar conteúdos de supostas mensagens”, diz Shostak. “E como a mensagem provavelmente virá de uma civilização muito mais avançada do que a nossa, há uma boa chance de que nunca consigamos entendê-la.” O importante seria simplesmente encontrar a prova. Aí a humanidade senta e vê o que faz.
Outra hipótese levantada pelos pesquisadores é que talvez não captemos algo endereçado a nós. “A Terra tem apenas 4,6 bilhões de anos de idade, enquanto a nossa galáxia tem mais de 13 bilhões. Nós aparecemos há pouco tempo na Via Láctea e, por isso, é muito improvável que tenhamos sido uma das primeiras civilizações a se desenvolver”, diz Shostak. O mais provável seria captarmos transmissões entre diferentes ETs. Ou talvez sinais de comunicação doméstica deles, como os dos nossos satélites.
Só depois dessa prova – ou depois que a nossa tecnologia evoluir muito –, os cientistas acham que vai valer a pena tentar enviar mensagens. Até hoje, só foi feita uma transmissão, para celebrar uma grande reforma do radiotelescópio de Arecibo. Foi mandada uma mensagem composta de 1679 zeros e uns, que, se arrumados num quadro de 23 colunas e 73 linhas, mostrariam uma figura humana, um desenho da estrutura do nosso DNA, do próprio radiotelescópio e algumas indicações da posição da Terra no sistema solar e na Via Láctea. O destinatário escolhido foi um aglomerado de estrelas da constelação Hércules. Não se sabe se teremos resposta. E, mesmo que ela venha, vai demorar um pouquinho. Se a mensagem for respondida logo após ser recebida, vai levar algo em torno de… 50 mil anos para ela fazer a viagem de ida e volta.
Desanimador? Os astrônomos do Seti acham que não. “Meus cálculos sugerem que, como novo radiotelescópio Allen, conseguiremos captar um sinal alienígena até 2025”, diz Shostak, que está envolvido em buscas desse tipo há 25 anos. “Com esse novo instrumento, poderemos verificar milhões de sistemas estelares nas próximas décadas.” Até lá, o jeito é ter paciência e continuar escutando. “O Seti é uma jornada de descobertas”, diz o astrônomo. “No final, o que você aprendeu durante o caminho pode ser muito mais importante do que encontrar aquilo que você procurava.” Pode até ser, mas que ia ser mais fácil ter essa postura zen depois de bater papo com alguns ETs, disso ninguém duvida.
Caça virtual
Com alguns cliques no mouse, você também pode ajudar na busca de Ets
Você quer ajudar a procurar extraterrestres de verdade sem sequer levantar da cadeira? Basta uma conexão com a internet e alguns cliques no mouse para participar do projeto Seti@Home, da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos. A idéia é simples e engenhosa. Todos os dados captados pelos radiotelescópios precisam ser analisados por computadores, que avaliam se eles contêm algum sinal alienígena. Como são gerados 35 gigabytes de informação por dia e o processamento é demorado, os cientistas se concentram na análise apenas dos sinais mais fortes. Para passar um pente-fino nos dados captados, seriam necessários computadores gigantescos e caríssimos. A solução encontrada foi dividir para conquistar. O Seti@Home é um protetor de tela para Windows, Macintosh e Linux que usa o tempo ocioso do computador para procurar ETs. O programa baixa um pedaço desses sinais de rádio via internet, faz a análise (algo em torno de 3 trilhões de contas) e depois manda o resultado de volta. Como há milhões de colaboradores no mundo inteiro, o resultado final é equivalente ao dos maiores e mais caros supercomputadores que existem. Para saber mais, visite o site do Seti@Home no endereço https://setiathome. ssl.berkeley.edu/