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Videogame do baralho

Como o Nintendo Wii virou do avesso o entretenimento eletrônico e irritou os velhos jogadores. A receita: manter os games simples

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h49 - Publicado em 30 set 2007, 22h00

Texto Pedro Burgos

Em menos de um ano, o Nintendo Wii vendeu mais de 10 milhões de unidades no mundo (um recorde) e virou o videogame de maior sucesso da atual geração, deixando na poeira os poderosos Xbox 360, da Microsoft, e o PlayStation 3, da Sony. Os veteranos dos games, que não são poucos, acharam estranho. Afinal, os joguinhos do Wii em sua maioria são simples, rapidinhos e têm um visual meio infantil, o contrário da premissa dos outros dois consoles, construídos para rodarem superjogos. O surpreendente resultado da briga no mercado de games é importante justamente porque extrapola o mundinho dos viciados nos games complexos. A vitória da empresa japonesa é o resultado da aposta em uma premissa simples: jogos são legais quando todos podem jogar. A japonesa Nintendo, que passou quase 100 anos fabricando apenas baralhos, sabia disso melhor que ninguém.

Para liderar uma indústria que vende R$ 24 bilhões só nos EUA, a Nintendo primeiro tomou a decisão de não competir com a Sony ou a Microsoft. Ao contrário das concorrentes, não iria fazer um videogame avançadíssimo, com gráficos animais como os jogadores veteranos esperavam. A tecnologia já bastava para jogos legais e o preço baixo era prioridade. “Muitos consoles poderosos não podem coexistir. É que nem haver apenas dinossauros ferozes. A briga entre eles apressa a própria extinção”, disse Shigeru Myiamoto, o pai do Wii, à revista americana Businessweek. O mercado de jogos complexos com temas violentos, cheios de testosterona reprimida, é grande, mas um bocado restrito. Em termos de público-alvo, interessavam mais à Nintendo a irmã e a mãe do jogador do que ele próprio.

Para chegar lá, a empresa japonesa precisou mudar a maneira como as pessoas se relacionavam com o jogo. No Wii, o joystick tradicional, com muitos botões, foi substituído por uma espécie de controle remoto que capta os movimentos do jogador. Em um jogo de boliche, por exemplo, basta mexer o braço como você faria com a bola de verdade. Ser craque dos joysticks era inútil no Wii – ponto para os novatos. Outro ponto da Nintendo foi evidenciar a idéia de que jogos eletrônicos são uma atividade social, que pode envolver bastante gente divertindo-se em frente à TV: a maioria dos títulos de sucesso do Wii podem ser jogados por 4 ou mais pessoas. “Há uma crença genuína entre alguns desenvolvedores, empresários do ramo e jogadores que as experiências para um jogador são uma aberração que em algum momento vai desaparecer, porque a definição tradicional de um jogo é uma experiência competitiva compartilhada com outras pessoas”, avaliou em editorial o influente site Gamesindustry.biz. A cartada final dos japoneses foi expandir bastante as fronteiras temáticas dos jogos, para além dos títulos de ação e esportes dominantes no mercado. É certo que jogos de dança ou karaokê já vinham fazendo sucesso (Guitar Hero ajudou a vender o PlayStation 2), mas a Nintendo levou essa proposta para novos rumos: entre os últimos lançamentos há o Cooking Mama, onde o desafio é executar receitas rapidamente, e o Wii Fit, aula de malhação que inclui até ioga.

O fim dos superjogos?

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Com todas essas facilidades, pessoas que nem pensavam em jogar videogame estão fazendo isso agora. Os jogadores veteranos deveriam comemorar, já que há mais gente para o hobby, certo? Não exatamente. Basta dar uma olhada em fóruns pela internet e vê-se que muitos dos gamers mais antigos detestam o Wii por considerarem seus jogos “bobinhos”. Entre eles, há ainda outro temor: que as grandes produtoras parem de fazer jogos bonitos e complexos. O raciocínio se justifica: para criar um desses superjogos, gastam-se dezenas de milhões de dólares além de 2 ou 3 anos de desenvolvimento. Para um game do Wii, o tempo e o dinheiro gastos chegam a cair pela metade, e vende-se o mesmo tanto – ou mais. Por isso, várias desenvolvedoras já começam a dirigir os esforços para o Wii – o lucro é mais garantido.

Dizer que os jogos complexos sumirão ou que o desenvolvimento dos videogames vai parar por causa do sucesso do Wii é um exagero. Jogos caros como Halo 3, do Xbox 360, são capazes de vender milhões de unidades antes mesmo de serem lançados. Em um primeiro momento, porém, é bem provável que o sucesso do Wii faça rarear esses títulos nas prateleiras. E essa situação pode perdurar até que novas empresas surjam para criar superjogos de novo – é a lógica de mercado. Mais importante, entretanto, é enxergar a revolução cultural que estamos vivendo. Some ao sucesso do Wii o boom de jogos para celulares e de sites de jogos casuais como o Pogo.com ou Kongregate (ver na pág. 42). Tudo isso mostra que há espaço para games simples e rápidos. O novo público que agora se diverte com esses passatempos sugere que os jogos eletrônicos definitivamente entraram no cotidiano das pessoas e não serão menos comuns que jogos de baralho.

Recorde em 3 fases

De fabricante de baralhos a criadora de ícones como o bigodudo Mario, a Nintendo manteve-se fiel à missão de divertir todo mundo. Com menos custo e melhor preço foi mais fácil.

Por ser bem menos potente…

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A Nintendo achou que a tecnologia de 5 anos atrás bastava para fazer games legais. Enquanto isso os concorrentes fazem quase 1000 vezes mais operações por segundo (flops) que o Wii.

…O Wii é também o mais barato…

Os outros video-games tocam filmes, gravam música e agora sintonizam TV. Mas, aos olhos do consumidor comum, todos eram videogames, e o Wii saía pela metade do preço.

…E o novo rei dos videogames.

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Com preço mais baixo e jogos para toda a família, o Wii derrotou a concorrência em vendas mundiais e se tornou o console que mais rápido chegou à marca de 10 milhões de unidades. Ao que tudo indica, ainda há fôlego: a consultoria Merryl-Linch prevê que 30% dos lares americanos terão o videogame até 2011.

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