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Profissão: Paranormal

Eles ajudam a resolver crimes, fazem espionagem, trabalham para exércitos e dão pitacos no mundo dos negócios. Conheça pessoas que construíram uma carreira utilizando suas habilidades psi

Por Melissa Schröder
Atualizado em 4 nov 2016, 18h59 - Publicado em 1 out 2015, 17h45

Videntes, caçadores de fantasmas e paranormais sortidos seguem desafiando o racionalismo mundial, predominante desde o século 17, quando a ciência começou a abafar crendices de todo tipo. Mesmo sem comprovação em laboratório, os fenômenos ainda constrõem carreiras e são empregados até na solução de crimes.

Um menino de 5 anos que morava na cidade de Salinas, a 40 quilômetros da capital uruguaia, Montevidéu, havia desaparecido, e as autoridades estavam sem pistas. Sofrendo pressão da opinião pública e de familiares do garoto, resolveram recorrer a um paranomal, o publicitário Marcelo Acquistapace. A solução desesperada veio de Fabio Puentes, um especialista em hipnose, que indicou alguns paranormais para a polícia. Puentes conhecia as habilidades de Marcelo havia 7 anos e o chamou para ajudar. Naquele dia de fevereiro de 1991, o paranormal conseguiu descrever os últimos passos da criança após tocar em objetos do garoto, mas não viu nada sobre o seu destino. Dias depois, a imagem de 2 tanques de água ao lado de uma lagoa surgiu em sua mente. “Em casos de desaparecidos, a primeira coisa que tento saber é se a pessoa está viva ou morta”, explicou Marcelo para a série Superhumanos Latinoamérica, do canal History Channel, em 2012. Quando ele descobre que a pessoa está morta, relata sentir uma onda de energia desde o pescoço até as costas e um sentimento de tristeza. Foi esse o destino do garoto de Salinas. Seu corpo foi encontrado enterrado de cabeça para baixo na beira da lagoa que o paranormal descreveu.

O sumiço do garoto de Salinas foi o primeiro trabalho de Marcelo para a polícia. Desde então, já ajudou as autoridades em mais de 100 casos, que registra com detalhes em seu blog. Paranormal e publicitário, é um artista plástico reconhecido por todo o Uruguai e, além da trabalhar para a polícia, também é procurado por quem busca informações sobre parentes desaparecidos. Em 2012, o paranormal uruguaio deu dicas da localização de um avião que desapareceu sobre o rio da Prata a pedido das famílias do piloto e do copiloto. Atualmente, ministra cursos e conferências pagas para falar de seus poderes clarividentes.

A polícia recorre a Marcelo Acquistapace porque ele teria o dom da clarividência – ou visão remota, uma espécie de habilidade secreta da mente estudada pela parapsicologia que permite ao paranormal enxergar pessoas e objetos que estão além do alcance dos seus olhos.

O uruguaio, por exemplo, diz que pode localizar objetos, pessoas e descrever ações que estão acontecendo ou já aconteceram, revelar o conteúdo de um envelope fechado e ver o que está atrás de uma porta. Durante um teste com o uruguaio, foi dada a uma pessoa a instrução de ir até algum lugar de Montevidéu. Ela decidiria o destino sozinha e não contaria a ninguém. Em outro ponto da cidade, apenas com uma foto e os dados (nome completo e data de nascimento) da pessoa, Marcelo conseguiu descrever o local. Ele desenhou uma baia, disse que via mar, areia, prédios e carros. Depois, relatou detalhes, como um granito da cor salmão. Quando as impressões do paranormal foram comparadas com a realidade, a semelhança era visível. A pessoa estava em uma das avenidas de Pocitos, na costa da capital uruguaia, dentro de um prédio onde o piso era feito de granito salmão.

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Já faz um século que pesquisadores tentam provar cientificamente a existência de fenômenos paranormais. Os estudos tratam de uma das quatro habilidades básicas: telepatia (transmissão de pensamentos entre pessoas ou animais), clarividência (habilidade de ver algo remotamente), psicocinese (mover objetos e influenciar pessoas com o poder da mente) e precognição (acesso aos acontecimentos futuros). Apesar de séculos de relatos impressionantes, como os de Marcelo, a paranormalidade ainda é um mistério científico. Os céticos alegam que os estudos produzidos pela “pseudociência” não têm resultados reproduzíveis. Isto é, sempre que se repete um estudo envolvendo fenômenos psi, as conclusões mudam. E também não há hipóteses convincentes que levem a uma investigação mais profunda para explicar o funcionamento desses poderes. Como Acquistapace localizou o menino desaparecido? A ciência nunca conseguiu descobrir. Para céticos, parte dos relatos não passa de truque ou pura sorte. Seja como for, os sensitivos continuam impressionando.

 

Soldados Sensitivos

Até o governo americano investiu dinheiro em pesquisas para provar a existência de poderes parapsíquicos. Nos anos 70, em plena Guerra Fria, a CIA foi assolada pelo boato de que a União Soviética estava conduzindo pesquisas em fenômenos psi para usar como arma de guerra. Verdade ou não, os americanos preferiram não arriscar: estariam em desvantagem se os russos dominassem habilidades incomuns. Foi esse rumor que deu início ao projeto Stargate, que custou US$ 20 milhões aos cofres públicos americanos durante seus 23 anos de vida.

O objetivo do Stargate era recrutar e formar uma tropa paranormal, capaz de usar a visão remota para espionar. A seleção inicial foi feita no Stanford Research Institute (SRI), na Califórnia, onde os ex-físicos Russel Targ, Harold Puthoff e Edwin C. May foram chamados para investigar os fenômenos psi mais a fundo. Eles começaram fazendo testes simples com os soldados para classificar aqueles com um perfil mais paranormal. Uma das provas do SRI consistia em acertar a carta do baralho que outro soldado estava segurando na mão. Na verdade, esse mesmo teste já tinha sido feito 40 anos antes pelo psicólogo americano Joseph Banks Rhine, considerado o pai da parapsicologia. Para testar a telepatia e a clarividência, Rhine posicionava 2 pessoas em prédios diferentes. Enquanto um dos voluntários colocava as cartas na mesa, aquele no outro prédio tentava adivinhar o naipe delas. Porém, o baralho de Rhine tinha 5 naipes, e não 4, o que diminuía as chances de acerto para 20%. De 800 tentativas, os voluntários acertaram, em média, 26%. Ou seja, pouco mais do que sorte pura. O resultado poderia provar a paranormalidade? Rhine morreu na década de 80 acreditando que sim. Durante o Stargate, Targ e os pesquisadores de Stanford se inspiraram no trabalho de Rhine. Em outros testes, eles pediam que os soldados fizessem um desenho do que outro membro da equipe estava observando naquele exato momento a quilômetros de distância. Um dos voluntários, o comissário de polícia aposentado Pat Price, fechava os olhos sentado e, depois de alguns minutos, dizia o que tinha visto. Foi assim que ele ajudou a descobrir a identidade do sequestrador de Patricia Hearst. Neta de Willian Hearst, o poderoso magnata da imprensa americana que inspirou o personagem do filme Cidadão Kane, Patricia era a herdeira de um conglomerado de mídia.

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Em 1974, ela foi feita refém pelo Exército Simbionês de Libertação (uma organização que promovia atos de violência nos EUA). Price foi levado ao local do sequestro e pediu para ver fotografias das pessoas que estavam lá na hora do rapto. Entre 40 fotos, o paranormal identificou Donald De Freeze como o responsável. Visualizou e descreveu ainda o local onde o sequestrador havia abandonado um carro. O veículo, que continha provas, foi facilmente encontrado pela polícia. Muitos voluntários do Stargate conseguiram desenvolver a visão remota, o que levou à conclusão de que essa pode ser uma habilidade adormecida em qualquer pessoa. Um estudo publicado em 1991 pelo islandês Erlendur Haraldsson, psicólogo que estuda evidências de reencarnação, diz que um quinto da população mundial acredita já ter vivido experiências clarividentes.

O Stargate acabou em 1995, quando Bill Clinton considerou os gastos muito caros para poucos resultados. Além disso, com o fim da Guerra Fria, o projeto não fazia mais sentido. Mas seus membros levaram os poderes adiante. Muitos deles escreveram livros, contando suas experiências e até uma sátira em filme, Os Homens que Encaravam Cabras (foto), foi produzida e estrelada pelo galã George Clooney – seu personagem pode matar uma cabra com os olhos. Um dos melhores visualizadores remotos do Stargate era Joseph McMoneagle. Para o projeto do Exército americano, ele realizou experimentos fantásticos. Em uma ocasião, os militares queriam saber o que os russos estavam guardando dentro de um enorme galpão no norte da URSS. Chamaram McMoneagle e mostraram a ele uma foto. Depois de alguns segundos, ele afirmou com certeza: “É um submarino”. O galpão ficava a quase 1 quilômetro da água e não era comum construir algo tão grande e pesado longe da costa. Mas, 4 meses depois, lá estava o submarino.

O fim do Stargate fez McMoneagle dar um novo rumo a sua carreira. Ele se tornou um paranormal empreendedor. Abriu a Intuitive Intelligence Applications, empresa que presta consultoria utilizando poderes psi. Os serviços de visão remota ajudam pesquisadores que desejam saber qual terreno é melhor para começar uma escavação arqueológica e mineradoras em busca de um terreno rico. Também oferece sua habilidade de prever o futuro para sugerir investimentos e apostas tecnológicas. Ele alega ter antevisto o livro eletrônico em 1994. Os conselhos não custam barato: US$ 250, a hora, e US$ 1.500, o dia.

Mas, entre todos os detetives paranormais, apenas uma foi convidada pelo FBI – a agência de investigação mais famosa do mundo – para dar palestras aos seus futuros agentes. Noreen Renier tem 76 anos e mais de 600 casos na bagagem, entre homicídios, desaparecimentos e estupros. Ela ficou famosa depois de prever que Reagan, o ex-presidente dos EUA, seria baleado no peito em 1981, mas sobreviveria. Desde então, auxilia a polícia de 28 Estados e 3 países e cobra em torno de US$ 1 mil por consulta. Em seu livro A Mind for Murder (“Uma mente para assassinato”, sem tradução em português), ela descreve um caso de desaparecimento em que usou a carteira e um sapato para encontrar um desaparecido. A vítima era Norman Lewis, de 66 anos, que saiu de sua casa, em uma pequena cidade da Flórida, e simplesmente sumiu com seu caminhão vermelho.

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Dois anos depois, Noreen foi chamada para o caso e recebeu os objetos de Lewis. Quando tocou neles, viu que o idoso estava com seu caminhão. Ele teria saído da estrada e caído em uma fenda. Mais tarde, a detetive também disse que ele estava morto e imerso na água. Lewis foi encontrado no lago em uma pedreira perto de sua casa. Ele estava dentro do caminhão vermelho. E submerso pela água.

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