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Gênova , anti o quê?

Foi o ponto culminante da confusão que acontece em quase todo encontro de cúpula.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h47 - Publicado em 30 jun 2002, 22h00

Leandro Sarmatz

Gênova, julho de 2001. Um imenso aparato policial é organizado às vésperas do encontro do G-8, o grupo das oito nações mais industrializadas do mundo. Cerca de 15 000 policiais enfrentam 100 000 manifestantes. A repressão, duríssima, resulta na morte de Carlo Giuliani, 23 anos, ligado ao movimento anarquista. Foi o ponto culminante da confusão que acontece em quase todo encontro de cúpula. Afinal, o que querem esses manifestantes? Que cartilha eles seguem 12 anos depois do desmoronamento do Muro de Berlim? O ideário desses contestadores genericamente chamados de “antiglobalização” (rótulo que eles rejeitam) não é fácil de resumir em um só livro, mas a editora Conrad está prestando um serviço para quem quer entender o que os revolucionários do século XXI pensam. Trata-se da coleção “Baderna”, um apanhado dos principais textos teóricos que estão por trás das manifestações – pregando desobediência civil, manifestações pacíficas e outras nem tanto.

A confusão em Gênova, assim como a de dois anos antes no encontro da Organização Mundial do Comércio, em Seattle, Estados Unidos, são frutos da proliferação de movimentos descontentes com a globalização e o capitalismo. De esquerda, esses movimentos não têm vínculos formais com os partidos tradicionais. Se, no passado, uma organização como o Partido Comunista do Brasil tinha inspiração soviética e pauta nacionalista, os atuais movimentos são transnacionais. Ou seja, ironias à parte, são também filhos da globalização. “As origens desses movimentos são internacionais e suas demandas também”, diz o americano David Graeber, estudioso da esquerda. Por isso, há desde grupos que reivindicam a taxação de operações financeiras internacionais até os que defendem a pura e simples extinção do mercado (veja quadro abaixo).

Diferentes quanto aos objetivos, os movimentos antiliberalismo concordam em pelo menos um ponto: o modelo atual de economia está destruindo o planeta, aumentando as desigualdades e exaurindo as reservas naturais. Longe de oferecerem as respostas utópicas dos movimentos de esquerda do passado, esses grupos procuram atuar de forma pragmática, concentrando-se em ações isoladas: ecologia, taxação dos movimentos de capital, agricultura sustentável, preservação das cidades.

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Além de Marx e Bakunin, respectivamente o pai do comunismo e do anarquismo, esses grupos buscam inspiração em A Desobediência Civil, do americano David Henry Thoreau (1817-1862), um livro que influenciou até Gandhi. Mas os tempos são outros. Se antes os grupos tinham que rodar panfletos em mimeógrafos e depois distribuí-los em fábricas, o palanque atual é a internet, também ironicamente uma tecnologia globalizante. “A web é uma ferramenta poderosa”, diz um dos coordenadores da ATTAC-Brasil, Antonio Martins, que também faz parte da organização do Fórum Social Mundial, evento que reúne organizações e movimentos antiliberalismo todo ano em Porto Alegre. Pois é, companheiros. A luta continua.

Para saber mais

Na livraria

Urgência das Ruas Ned Ludd (org.), Coleção Baderna, Conrad, São Paulo, 2002

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Provos: Amsterdã e o Nascimento da Contracultura Matteo Guarnaccia, Coleção Baderna, Conrad, São Paulo, 2002

Protesto globalizado

Alguns dos principais movimentos de esquerda têm filiais em muitos países

Reclaim The Streets

Movimento ambientalista surgido em Londres na década de 80. Originalmente protestava contra a construção de rodovias na Inglaterra. Com ramificações em alguns países, costuma interromper o trânsito de grandes avenidas comerciais para promover “carnavais” anarquistas contra a sociedade de consumo.

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Via Campesina

Movimento internacional que reúne trabalhadores sem terra, pequenos agricultores e camponeses. Como os outros grupos, é internacional (o MST é um de seus omponentes), tem discurso antiliberal e luta por uma agricultura sem vínculo com os conglomerados do ramo de alimentação.

Attac

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Sigla para Ação para uma Taxação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos. A inspiração veio de uma proposta do economista americano James Tobin (Nobel de Economia em 1981) de taxar em 0,1% todas as transações financeiras internacionais. O movimento também prega a extinção dos paraísos fiscais. Surgido no final da década de 90, o ATTAC conta com o apoio do popstar Bono Vox, líder da banda U2.

Black Block

A rigor, não chega a ser um grupo constituído. É o “velho” movimento anarquista, repaginado depois dos distúrbios de Seattle, em novembro de 1999. Mascarados (para dificultar o reconhecimento pela polícia), seus integrantes alinham-se aos inúmeros grupos anticapitalistas e desprezam a não-violência.

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Earth First

Surgiu nos Estados Unidos na década de 80 e hoje conta com representantes espalhados nos cinco continentes. “Biocêntrico” (por considerar que qualquer forma de vida deve ser valorizada, sem distinção entre homens, animais e plantas), luta pela recriação de áreas selvagens em todo o planeta, propondo o fechamento de grandes rodovias próximas de matas e reintroduzindo espécies animais em extinção.

Confederation Paysane

Sindicato agrícola fundado na França em 1987. Criado por pequenos agricultores com militância socialista, o movimento é contra o agrobusiness e as lavouras transgênicas e a favor de uma agricultura sustentável e ecologicamente correta. A figura mais famosa é o francês José Bové – talvez a maior celebridade da nova desobediência civil, principalmente depois de comandar a destruição de lojas da rede McDonald’s.

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