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Reciclagem: Mar de desperdício

A reciclagem pode aliviar um dos maiores problemas do mundo nos próximos anos: onde colocar tanto lixo? Mas ela deveria ser a última opção a ser implementada

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h05 - Publicado em 28 fev 2005, 22h00

Karen Gimenez

Os moradores da cidade de Seattle, nos Estados Unidos, passaram a ter mais cuidado com o que põem na lata de lixo desde 1º de janeiro deste ano, quando entrou em vigor uma nova lei municipal que pretende incentivar a separação de material para reciclagem. A quantidade de papel, vidro, plástico e alumínio não poderá mais exceder 10% do volume colocado na lata de lixo comum, em um exame visual. Quem violar essa regra vai receber, neste ano, somente uma advertência. A partir do ano que vem, a prefeitura passará a cobrar uma multa e, em determinados casos, deixará de recolher o lixo de quem não separar os itens recicláveis. Com essa medida, Seattle quer se firmar como a cidade-modelo nos Estados Unidos em relação à maneira como lida com o lixo. Sua meta é chegar a um índice de 60% de reciclagem até o ano 2010. Para se ter uma idéia, Nova York, apontada como a capital mundial do lixo, com produção de cerca de 11 000 toneladas diárias, recicla menos de 20% dos seus resíduos.

Iniciativas como a de Seattle, que tendem a ser copiadas por outras cidades, tentam evitar que o mundo naufrague em um mar de lixo. É assim que os mais pessimistas vêem a humanidade até o final deste século. Além da população de 9 bilhões de pessoas prevista para o planeta até 2050, eles levam em conta o provável crescimento do nível de consumo por habitante. Quanto maior o consumo, maior o volume de descarte. Essa equação aponta que, nas próximas décadas, a quantidade de resíduos sólidos deve aumentar bem mais do que a população – nos últimos anos, ela cresceu duas vezes mais que a população. No município de São Paulo, por exemplo, o número de habitantes cresceu cerca de 20% na última década. No mesmo período, o volume de lixo aumentou 80%.

“Quanto mais se produz, maior a quantidade de resíduos, sejam provenientes do processo de fabricação, seja do encerramento da vida útil da mercadoria”, diz o economista Sabetai Calderoni, consultor da ONU e autor do livro Os Bilhões Perdidos no Lixo (Humanitas, 1997). O que fazer para não morrer afogado num mar de lixo? Parar de consumir e voltar ao tempo das cavernas? Não é preciso ser tão radical, dizem os especialistas. Basta que os governantes, as empresas e os cidadãos comuns revejam alguns de seus velhos hábitos e procedimentos. As perspectivas não são tão sombrias assim: 90% do que se joga fora poderia ser reciclado e voltar para a sociedade em forma de energia ou novos produtos. Os países da comunidade européia assinaram um acordo para, até 2006, eliminar todos os lixões e aterros sanitários. A idéia é instalar máquinas de reciclagem de resíduos sólidos e biodigestores que transformem resíduos orgânicos em fertilizantes ou energia.

Cada homem produz, em média, cinco quilos de lixo por dia. A maior concentração está nas regiões mais ricas, que consomem mais, e nas mais populosas, pelo acúmulo. Do total produzido, 76% acaba nos lixões a céu aberto. A situação dos oceanos também preocupa. Anualmente, eles recebem 14 bilhões de quilos de resíduos. Cerca de 100 000 mamíferos e um milhão de aves marinhas morrem a cada ano ao se alimentar de lixo, principalmente de sacos plásticos jogados na água. “Descartar os resíduos pura e simplesmente é interromper o ciclo de vida útil de milhares de produtos, além de trazer muitos e caros problemas para a vida do homem”, diz Calderoni. Ele lembra que o acúmulo de lixo tem impacto direto na qualidade da água e do solo e, assim, na saúde humana.

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ATÉ NO ESPAÇO

Há muito mais resíduos do que é visível nos lixões, nas ruas ou nos rios. O lixo industrial (produzido principalmente pelo descarte de eletroeletrônicos, como celulares e computadores) e até o espacial também são preocupantes. De meados do século 20 até o final de 2004, estima-se que tenham sido descartados 315 milhões de computadores no mundo. E quase 3 000 toneladas de lixo espacial – desde fragmentos de foguetes até satélites artificiais desativados – orbitavam a menos de 200 quilômetros da Terra, na virada do século. A Nasa prevê que esse número vá dobrar até 2010.

Muita gente não se dá conta de que, para se livrar do lixo, não é só jogá-lo em uma lixeira e pronto. O lixo não some da sua vida quando você joga aquele pneu ou sofá velho no rio. Quando menos você espera, poderá sofrer os efeitos daquilo que descartou, pois o acúmulo de resíduos nos lixões produz substâncias tóxicas, tanto líquidas como gasosas. A falta de percepção disso é um dos maiores entraves para resolver o problema da destinação do lixo. No livro Os Bilhões Perdidos no Lixo, Calderoni mostra que a questão envolve vários aspectos da vida humana e não pode ser analisada de forma pontual, apenas como uma alternativa de geração de renda para populações pouco qualificadas. “Racionalizar o consumo de embalagens e produtos e destinar o restante para reciclagem não é favor para ninguém, mas uma questão de sobrevivência”, afirma o consultor da ONU. Sua contabilidade dos bilhões que jogamos no lixo inclui o desperdício de comida. Só o Brasil descarta em alimentos o equivalente a 1,4% do seu PIB.

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Embora de importância indiscutível, a reciclagem não é a única saída para o lixo. Na verdade, na política dos “cinco Rs”, aplicada no mundo inteiro em relação a resíduos, a reciclagem é indicada como a última medida. Antes dela, os especialistas recomendam Refletir sobre a compra de um produto, Recusar se o mesmo não for necessário, Reduzir o consumo como uma diretriz de vida, Reutilizar tudo o que puder e, por fim, Reciclar os produtos. Não parece tão complicado, não é mesmo?

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Tendências

• SELETIVA

A coleta seletiva de lixo é uma política que tende a ser adotada cada vez mais. Apesar do seu caráter educativo, pode passar a incluir medidas punitivas para quem não separar os itens recicláveis do resto do lixo.

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• EXPLOSÃO

A quantidade de lixo no mundo vem crescendo em ritmo superior ao da população. Como o nível de consumo também vem aumentando, a tendência é que as grandes metrópoles, a exemplo de Nova York, tenham de “exportar” seus resíduos para outras cidades.

• FIM DOS LIXÕES

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A instalação de máquinas de reciclagem de resíduos sólidos e biodigestores para produção de fertilizantes pode ser um passo para eliminar os lixões e aterros sanitários.

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