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Fada Morgana

As miragens causadas por múltiplas razões, são, provavelmente, as responsáveis pela origem de numerosas lendas referentes a monstros marinhos, navios fantasmas, etc

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h09 - Publicado em 28 fev 1989, 22h00

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

No século II, Pomponius Mela, em De situ orbis, informou que os gauleses acreditavam na existência, na ilha de Sein, de nove gênios femininos que tinham o poder de excitar e acalmar as tempestades, curar as doenças, bem como possuíam a capacidade de assumir as mais diversas formas e aspectos. No início do século XII, Geoffroy de Monmouth, em Vita Merlini, descreveu a ilha da Felicidade, onde viviam as nove irmãs. A mais jovem, Morgue, conhecia todas as qualidades medicinais das ervas, dominava a arte de alterar as figuras e tinha o poder de se elevar no ar como um pássaro. Foi ela quem recolheu o rei Artur após a sua derrota, curou-o de suas feridas retendo-o até o dia em que retornou à Bretanha para libertá-la.
Em meados do século XII, a lenda de Morgana, como as outras lendas bretanhas, sofreu ao se difundir, grandes alterações. Assim, em lugar de reter o rei Artur por amor, como ocorria com freqüência na mitologia céltica, na qual quase sempre as fadas se apaixonavam por um mortal, Morgana se transformou na irmã do rei, ao mesmo tempo em que suas qualidades se confundiam com as das fadas maléficas da mitologia germânica e nórdica, que presidiam o nascimento das crianças, votando- as para o bem ou para o mal. Como irmã de Artur e inimiga de sua cunhada, a rainha Guinevere, a quem teria ofendido ao divulgar o segredo dos seus
amores com um mortal, foi que Morgana passou para as narrativas dos contadores italianos.

Um sinal de popularidade dessa lenda, na Itália, encontra-se na locução fata Morgana (fada Morgana), que passou a designar a miragem que mostra imagens invertidas de objetos invisíveis. Quando os raios luminosos se refratam e refletem em camadas atmosféricas curvas e irregulares, a miragem produz imagens deformadas em todas as direções, fragmentadas e repetidas, às vezes mais próximas, às vezes mais afastadas uma das outras. Essa forma de miragem é, provavelmente, a origem de numerosas lendas referentes a monstros marinhos de dimensões e formas bizarras, bem como dos navios fantasmas que às vezes parecem surgir nos horizontes dos mares. Alguns supostos aparecimentos milagrosos de santos têm sido atribuídos à ocorrência desse tipo de miragem, capaz de sugerir formas alongadas muito análogas às de um homem ou mulher vestidos com uma longa túnica. Isso ocorreu, recentemente, no Rio Grande do Sul. Dois exemplos notáveis dessas miragens atribuídas à fada Morgana são as imagens fantásticas que atraíam o povo ás margens do mar em Nápoles e em Régio, na costa da Sicília. Um outro exemplo célebre, observado há séculos no estreito de Messina, é a miragem na qual as casas do lado oposto parecem transformadas em castelos, palácios, torres etc., numa das mais feéricas imagens já vistas.

Para que esses efeitos ocorram é necessário que, por múltiplas razões, a temperatura do ar e, portanto, sua densidade venham a se alterar rápida e aleatoriamente, produzindo variações não menos rápidas e não menos aleatórias na direção dos raios luminosos. Nessas condições, as imagens parecem flutuar, com intensidade variável e em direções às vezes opostas. Tais flutuações podem ocorrer a alguns metros ou a algumas dezenas de metros de altura. Em geral, elas se originam em conseqüência ora de uma inversão da temperatura em altitude, ora por aquecimento ou resfriamento do ar ao nível do solo. Assim, um solo ou uma camada de água quentes criam um aquecimento gradual dirigido para baixo, o que vai encurvar os raios luminosos para baixo. Num meio assim alterado ou perturbado, os diversos raios oriundos de um mesmo ponto irão seguir trajetórias diferentes antes de atingir o olho do observador. Isso produzirá imagens múltiplas de um mesmo objeto, quer direta, quer invertida, segundo as variações que a temperatura do ar apresentar em relação à altitude.

O astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico.

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