Adega submarina: conheça a moda luxuosa de envelhecer vinhos no fundo do mar
As garrafas vedadas impedem a entrada de água, mas não tornam os preços menos salgados.
Uma garrafa é retirada de dentro do mar, coberta por cracas, algas e conchas. Parecem os resquícios de um naufrágio, ou a recuperação de uma mensagem secreta milenar. Mas não é: é a nova moda do envelhecimento submarino de vinhos e champanhes, e a garrafa sujinha pode custar mais do que o seu aluguel.
A prática da maturação submarina é bem simples: consiste em posicionar as garrafas vedadas no fundo do mar, em uma região monitorada e escura. Acredita-se que a temperatura, o breu e o movimento contínuo e suave do mar façam com que a bebida envelheça mais rapidamente e adquira sabores mais complexos.
Debaixo da água, a pressão aumenta a cada metro de profundidade. Esse é outro fator importante para a maturação das bebidas, e pode ser um risco também, já que diferença de pressão pode fazer a garrafa estourar. No caso das bebidas gaseificadas, a situação é mais favorável, já que a pressão externa é compensada pela pressão interna também maior.
A diferença de sabor entre um vinho maturado em terra e um deixado no mar é notável para quem entende do assunto. “Depois de um ano nas profundezas, em um estado permanente de movimento das marés, o vinho desenvolve uma energia profunda e um caráter harmônico edificante”, disse o enólogo Davy Zyw, em entrevista ao site Club Enologique. Seja lá o que isso signifique.
Existe até um evento anual dedicado a esta modalidade de maturação. É o Wine and Vruja, que acontece na Croácia. Todo ano, um lote com entre duas e cinco mil garrafas de vinho é submergido, e o lote do ano anterior é recuperado. O que se segue é um festival de três dias com degustações públicas dos vinhos recolhidos – que também são vendidos e leiloados por preços módicos, é claro.
As adegas submarinas começaram a ganhar popularidade entre os apreciadores de vinhos luxuosos em 2010, quando um naufrágio do século XIX foi encontrado no Mar Báltico. Dentro dele estavam 168 garrafas de champanhe, das quais 64 ainda estavam em excelentes condições.
As bebidas se conservaram especialmente bem por causa das condições da água, gelada e escura. Não só elas não estragaram como os sabores se tornaram muito especiais.
Uma garrafa foi destinada para um estudo de arqueoquímica, que determinou as concentrações de diferentes substâncias na bebida. Assim, foi possível compreender melhor os processos de fabricação e as preferências dos consumidores de vinho do século 19.
Philippe Jeandet foi o químico responsável pela pesquisa, e, embora não tenha conseguido fica com uma garrafa para si mesmo, teve a oportunidade de provar 100 microlitros da bebida.
100 microlitros é o equivalente à 0,1 ml, ou algo como duas gotas. Mas a quantidade foi o suficiente para uma declaração apaixonada, feita ao The Smithsonian. “Foi incrível. Nunca provei nada assim em minha vida”, diz Jeandet. “O aroma permaneceu em minha boca por três ou quatro horas após a degustação.”
Se uma dose homeopática do vinho de 170 anos deixou essa impressão, fica mais fácil entender o frenesi que se criou ao redor delas: além da criação de todo um novo mercado de luxo, cada garrafa do naufrágio foi leiloada por cerca de 100 mil euros cada (ou R$ 622 mil).
Só conseguimos encontrar uma empresa que faz a maturação submarina em águas brasileiras: a Vinícola Fama, que produz os vinhos na Serra Catarinense e os mergulha a 12 metros de profundidade no litoral do estado. O site informa que o preço só está disponível sob consulta, mas, segundo o g1, cada garrafa sai pela bagatela de R$ 5 mil. Tim tim?