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Por Alexandre Versignassi
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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Carta ao leitor: Num indo e vindo infinito

Do outro lado dos buracos negros tudo o que foi será, talvez, do jeito que já foi um dia.

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Atualizado em 8 ago 2019, 14h32 - Publicado em 22 Maio 2019, 19h08

Empédocles, um filósofo pré-socrátIco que viveu entre 490 a.C. e 430 a.C., criou uma teoria elegante, a de que tudo o que existe é feito de quatro elementos fundamentais: água, terra, ar e fogo.

Estamos falando de uma era sem ciência. Se alguém dissesse que os elementos básicos do Universo eram papel, pedra e tesoura, estaria tão correto, e tão equivocado, quanto
o grego.

Mas a ideia em si é fascinante, porque reflete uma tendência do pensamento humano: a de buscar alguma ordem para o caos da existência. E reduzir tudo o que existe à interação de alguns poucos elementos é uma forma eficaz de buscar tal ordem.

Tão eficaz que continuamos fazendo isso. E nos últimos cem anos a ciência chegou a uma versão mais sofisticada dos elementos básicos. Por coincidência, concluiu que tudo é feito de quatro coisas mesmo: espaço, tempo, matéria e energia.

Nos últimos cem anos, a ciência chegou a uma versão mais sofisticada dos elementos básicos. Por coincidência, concluiu que tudo é feito de quatro coisas mesmo: espaço, tempo, matéria e energia.

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Isso mais um quinto elemento, bem abstrato: a “informação”. Informação, na física, é a coisa que faz com que um elétron seja um elétron, em vez de radiação pura. Sem essa entidade, não existiria nada digno de nota.

Empédocles pensou algo parecido lá atrás. Não bastavam seus quatro elementos. Era preciso algo a mais. Ele imaginou que esse a mais seria um ciclo eterno, um indo e vindo da harmonia para o caos, e do caos para a harmonia de novo – a filosofia chinesa chegaria mais ou menos à mesma conclusão, com a ideia do yin-yang.

Para o pré-socrático, enfim, o mundo como o conhecemos só poderia existir nos estados intermediários, em que a ordem e a desordem convivem. Nos momentos de harmonia plena e de caos absoluto de cada ciclo, não haveria nada. Assim:

(Juliana Krauss/Superinteressante)

E aí temos outra coincidência. A ciência encontrou algo que Empédocles chamaria de “harmonia plena”. São as “singularidades” – entes cósmicos dentro dos quais tempo, espaço, matéria e energia deixam de existir. Nosso próprio Universo surgiu de uma singularidade e, até onde sabemos, vai se expandir até que o grau de desordem, de caos, entre seus elementos tenda ao infinito – e não exista mais nada além
de radiação solta.

O mais instigante, porém, é outra coisa: o fato de que, no coração de cada buraco negro, existe uma singularidade. Para alguns cientistas, essas singularidades todas podem até ser as sementes de Universos novinhos, que crescem do outro lado dos buracos negros, levando consigo algo da informação que caiu em cada uma delas – veja mais aqui, nesta reportagem do Bruno Vaiano. Esses Universos, então, trilhariam de novo a jornada que começa na ordem plena e termina no caos completo. No meio do caminho, eles gerariam seus próprios buracos negros, dando à luz mais Universos novos, num indo e vindo infinito.

Se for assim mesmo, Empédocles ficaria orgulhoso. Só tem um problema. Dado o caráter inescrutável dos buracos negros, só sabemos de uma coisa por enquanto: que nada sabemos.   

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