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Por Bruno Garattoni
Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
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EUA e Rússia vão estender acordo nuclear. Mas, na prática, isso não muda nada. Veja por que

New START, que será prorrogado por cinco anos, não cobre pontos críticos da tensão entre as duas potências: permite que Moscou continue desenvolvendo seus novos supermísseis nucleares, enquanto Washington multiplica e rearma as bases da OTAN

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Atualizado em 27 jan 2021, 17h35 - Publicado em 27 jan 2021, 15h23

New START, que será prorrogado por cinco anos, não cobre pontos críticos da tensão entre as duas potências: permite que Moscou continue desenvolvendo seus novos supermísseis nucleares, enquanto Washington multiplica e rearma as bases da OTAN

A Casa Branca e o Kremlin confirmaram, na manhã desta quarta-feira (27), a extensão por cinco anos do tratado New START (Strategic Arms Reduction Treaty), que iria vencer em fevereiro. Pelo acordo, em vigor desde 2011, EUA e Rússia se comprometem a limitar em 1.500 seu arsenal total de ogivas nucleares operacionais – e em 800 o número de mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) e mísseis balísticos lançados de submarinos (SLBMs), bem como mísseis e bombas lançadas de aviões. Mas o New START não impede as manobras geopolíticas e o desenvolvimento de novas armas nucleares que têm provocado tensão entre a Rússia e os EUA. 

Em outubro de 2018, os Estados Unidos anunciaram que estavam se retirando do tratado INF (Intermediate Range Nuclear Forces Treaty), assinado por Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev em 1987. O INF proibe que russos e americanos tenham mísseis nucleares de alcance intermediário, entre 500 e 5.500 km. Na prática, ele serve para impedir que os Estados Unidos encham as bases da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), espalhadas por toda a Europa, de mísseis nucleares apontados para a Rússia. Como estão mais perto do alvo, eles seriam capazes de atingir o território russo em poucos minutos, bem antes que ICBMs disparados de Moscou chegassem aos EUA. Isso cria uma vantagem para os americanos – anulada pelo tratado.

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(Carlos Eduardo Hara/Superinteressante)

Ao abandonar o INF, os americanos alegaram que os russos haviam desrespeitado o acordo ao desenvolver um novo míssil nuclear, o Burevestnik (nome em russo do petrel-gigante, um pássaro que sobrevoa os oceanos). Ele é um míssil de cruzeiro (não é como os ICBMs, que saem da atmosfera e reentram nela, com um raio de curva enorme). E é capaz de acertar alvos entre 500 e 5.500 km – portanto, por esse raciocínio, viola o tratado INF.

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(Carlos Eduardo Hara/Superinteressante)

Só que há outro elemento envolvido: além de carregar uma ogiva nuclear, o Burevestnik é um míssil de propulsão nuclear. Dentro dele há um reator, que usa o calor gerado pela fissão nuclear (provavelmente, de plutônio-239) para esquentar o ar e gerar empuxo. Por isso, o míssil é capaz de voar por tempo indeterminado: pode ficar no ar durante anos, sobrevoando todo o planeta, até iniciar sua trajetória final e atacar o alvo. Consegue voar muito mais do que 5.500 km. Logo, diz Moscou, não viola o tratado INF.

Seja como for, o Burevestnik representa uma grande vantagem para os russos, que passam a ter a possibilidade de atacar os EUA (ou qualquer outro ponto do planeta) praticamente de surpresa. Ele ainda está em testes – em 8 de agosto de 2019, acredita-se que um protótipo tenha explodido perto de Nyonoska, no noroeste da Rússia. Mas a Rússia espera colocá-lo em operação nos próximos anos. E ele não é vetado pelo New START, o tratado que foi prorrogado hoje. 

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Esse acordo também não barra as duas outras superarmas nucleares russas: o Avangard, primeiro míssil hipersônico do mundo (capaz de alcançar 27 vezes a velocidade do som), e o torpedo Poseidon, projetado para carregar e detonar uma ogiva de 100 megatons perto da costa de um país, o suficiente para provocar um tsunâmi com ondas de 90 metros de altura. O Poseidon só deve ficar pronto em 2027, mas o Avangard já está operacional. Em dezembro de 2019, as primeiras unidades foram instaladas – especula-se que em Dombarovskiy, no sul da Rússia. Vão continuar lá; e equiparão outras bases.    

Acima de tudo, o New START não impede que os Estados Unidos sigam expandindo a OTAN (que ao final da Guerra Fria reunia 16 países e hoje tem 30), construindo bases cada vez mais perto das fronteiras russas – e, como não há mais tratado INF, posicionem mísseis nucleares nesses locais, acuando a Rússia. 

Moscou está em vantagem tecnológica, e Washington tem mais poder geopolítico. Essa combinação de fatores desmonta o equilíbrio de forças entre as superpotências, essencial para manter a paz durante a Guerra Fria. E a prorrogação do New START não resolve isso. Ao permitir que ambos os lados continuem avançando, ela marca o começo de uma nova fase no jogo – e não o fim, ou o distensionamento, desse jogo. 

LEIA TAMBÉM: A nova era nuclear

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