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Alexandre Versignassi

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Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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Como Eike Batista ficou pobre

Pobre sou eu, mas quem perdeu R$ 46 bilhões em um ano foi ele. E agora Eike não tem mais como se manter. Pelo menos não na lista dos 100 mais ricos do mundo

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Atualizado em 20 ago 2024, 11h37 - Publicado em 28 fev 2013, 21h23

 

Eike Batista ficou rico quando tinha praticamente a idade do Thor Batista. Aos 23 anos, abandonou a faculdade de engenharia na Alemanha para tentar ganhar dinheiro com o ouro da Amazônia. Era o auge do garimpo lá, no começo dos anos 80. Teve até filme dos Trapalhões sobre o fenômeno.

Eike, então, fez como Didi, Dedé, Mussum e Zacarias: foi tentar a sorte no garimpo. Pediu US$ 500 mil emprestados a dois amigos joalheiros para se estabelecer como comerciante de ouro no meio do mato. Comprava ouro na Amazônia e revendia no Sudeste. Em pouco tempo, os US$ 500 mil viraram US$ 6 milhões. É mais dinheiro do que parece. US$ 6 milhões do começo dos anos 80 equivalem a US$ 15 milhões de hoje. Trinta milhões de reais. Não tinha nem 25 anos e já estava com quase tanto dinheiro quanto o Renato Aragão.

Em vez de torrar esses milhões vivendo a melhor juventude que o dinheiro pudesse comprar, Eike fez o que parecia menos sensato: gastou tudo em máquinas que faziam extração mecânica de ouro. E os US$ 6 milhões viraram US$ 1 milhão. Por mês. Três milhões de reais em dinheiro de hoje. Por mês (repito aqui pra dar um tom dramático – merece).

Ele não parou nisso. Claro. Comprou mais minas, mais máquinas, ficou sócio de empresas peso-pesado da mineração e, com 40 e poucos anos, chegou ao primeiro bilhão de dólares. Entrou para a Fórmula 1 do dinheiro.

E fez uma primeira temporada de Vettel. No começo dos anos 2000 resolveu trocar o ouro por minério de ferro. Perfeito: se ouro vale “mais do que dinheiro”, minério de ferro vale mais do que ouro. Por causa volume, lógico: todo o ouro minerado na história da humanidade dá mais ou menos 140 mil toneladas.  Isso é o que a Vale extrai de minério de ferro em seis horas.

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Em 2005, então, ele fundou sua mineradora, a MMX. Um ano e meio depois, vendeu uma fatia dela para outra mineradora, a Anglo-American. Pagaram US$ 5,5 bilhões. A lista da Forbes com os mais ricos do mundo em 2007 já tinha saído, três meses antes da negociação. E o brasileiro mais bem colocado ali era Joseph Safra, com US$ 6 bilhões. Ou seja: o negócio com a Anglo-American foi mais do que suficiente para que Eike fosse dormir sabendo ser o homem mais rico do Brasil.

E se Eike não tinha parado quando ganhou uma megasena no braço, nos tempos da Amazônia, não era desta vez que iria amarrar o burro na sombra. O mercado passou a enxergar o cara como uma mina de ouro. Ele deixava de ser só um nome na coleira da Luma de Oliveira para virar a grande esperança dos investidores. E Eike aproveitou a maré. Foi financiar sua ideia mais ambiciosa: a de construir uma concorrente da Petrobras.
Era a OGX, seu projeto de companhia de petróleo. Em 2008, Eike lançou ações dela na bolsa. Na prática, estava vendendo 40% da OGX antes de ela virar realidade. Levantou R$ 6 bilhões nessa  – era o maior IPO (venda inicial de ações) da história da Bovespa até então.

Agora ele era o herói.

“E o meu cavalo só falava inglês”
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Àquela altura Eike já tinha uma Vale e uma Petrobras para chamar de suas. Ainda que a MMX fosse bem menor que a Vale e a OGX ainda não tivesse saído do PowerPoint, já era algo que ninguém na história do país tinha conseguido. Mas isso era só um pedaço do que ele tinha em mente. Eike queria algo bem maior: montar um ecossitema de empresas, em que uma sustentasse a outra.

Assim: uma mineradora sempre precisa pagar para que algum porto escoe a produção dela – de preferência para a China, o maior consumidor de minério do mundo. Então porque não ser dono da mineradora e do porto também? Então criou a LLX, uma empresa de logística dedicada à construção de portos. Mais: mineradoras e portos precisam de energia. E pagam caro por isso. Então valia a pena ser dono da companhia de energia também. Eike já tinha uma empresa de termelétricas desde 2001, a MPX. Agora, então, a MPX faria as usinas que alimentariam as minas da MMX, os portos da LLX e as instalações da OGX. A própria MPX seria também alimentada por outra empresa de Eike: a CCX, uma companhia de mineração de carvão dedicada a fornecer combustível para suas termelétricas.

Ah: a OGX precisava de um fornecedor de equipamentos de perfuração e de plataformas marítimas. Quem fabricaria tudo isso para Eike? Eike mesmo, ué. Então ele fundou a OSX, um estaleiro sob medida para alimentar as necessidades da OGX. E onde instalar a OSX? No porto da LLX. Porto que, de quebra, também pode estocar petróleo da OGX…

No papel, a ideia é irresistível: uma companhia ajudando a outra, num círculo virtuoso sem fim. O mercado gostou. E cada uma dessas empresas teve seu IPO bilionário, o que levaria Eike aos seus US$ 34 bilhões e à sétima posição na lista da Forbes em 2012.

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Só tem um problema: os mesmos elementos que moldam um círculo virtuoso também podem trazer um círculo vicioso. Foi o que aconteceu. A OGX saiu do papel produzindo só 25% do que a própria empresa esperava.  Nisso, a OSX enfraqueceu também: a petroleira de Eike tem encomendas no valor de US$ 800 milhões com o estaleiro de Eike; se a OGX vende pouco petróleo, pode não ter como pagar a OSX. Sem essas duas funcionando a contento, a viabilidade da LLX fica em dúvida, já que o estaleiro e a petroleira são clientes do porto. Se a LLX não deslancha, complica para a MPX, que vende energia para ela. E aí quem pode ficar sem cliente é a CCX…

Nisso, o mercado passou a ver a interconexão das empresas X mais como vício do que como virtude. E o valor de mercado delas despencou,  levando junto uma fatia da fortuna de Eike, já que o grosso de seu patrimônio são as ações que ele tem das próprias companhias. O preço somado de todas as ações da OGX, por exemplo, já foi de R$ 75 bilhões. Hoje é de R$ 10 bilhões. Aqui vai quanto cada uma caiu até fevereiro de 2013:

OGX (petróleo):  -86%
De R$ 75 bilhões (out 2010) para R$ 10 bilhões

OSX (estaleiro):  -77%
De R$ 9,4 bilhões (mar 2010) para R$ 2,1 bilhões

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LLX (porto): -75%
De R$ 5,8 bilhões (abr 2011) para R$ 1,4 bilhão

MPX (energia): -28%
De R$ 8,5 bilhões (mai 2012) para R$ 6,1 bilhões

CCX (minas de carvão): -51%
De R$ 1,4 bilhões (mai 2012) para 680 milhões

 

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Atualização (31/10/2013): no começo de 2013, quando escrevi este post, ainda era cedo mesmo para concluir qualquer coisa. Agora não. Com a falência da OGX, Eike sai do mercado para entrar na história, só que não do jeito que ele imaginava.

——-

Atualização (30/01/2017): Eike Batista foi preso por ter pago US$ 16,5 milhões de propina a Sérgio Cabral, o ex-governador do Rio que hoje se consolida como um dos maiores corruptos da história do Brasil, com roubos avaliados em US$ 100 milhões, mas que podem chegar a bem mais que isso. Não se sabe até este momento que tipo de vantagens Eike obteve com o suborno (e outros mimos, como ter praticamente deixado um jato seu à disposição de Cabral e da esposa por anos a fio). A maior suspeita, de qualquer forma, recai sobre as facilidades que o empresário obteve para montar o Porto do Açu (da ex-LLX) em São João da Barra (RJ) – desapropriações-relâmpago, isenções fiscais de pai para filho e a venda de terrenos avaliados em mais mais de US$ 1 bilhão por alguns milhões. Ou seja: saiu barato para o empresário – até a manhã de hoje.  

 

Leia também:

Quem colocou R$ 5 mil na OGX em 2010 agora tem R$ 90. Veja mais no Eikômetro.
A OGX do século 17

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