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A verdade por trás

Por Redação Super
Atualizado em 21 dez 2016, 10h18 - Publicado em 28 out 2010, 18h50

A matéria de capa da Superinteressante de junho de 2010 está concorrendo ao Prêmio Esso, na categoria Criação Gráfica! Saiba um pouco mais sobre como ela foi feita:

1. História nova, quadros velhos
(Leandro) Narloch, ex-editor da Super, best seller e, naquele mês, repórter, apresentou para mim e para o Alexandre (Versignassi, editor) a idéia geral da pauta: mostraríamos a verdade por trás de fatos históricos que aprendemos sobre o Brasil na escola.
Nossa primeira idéia era fazer algum tipo de intervenção sobre cenas históricas revelando algo novo — por exemplo, mostrar os bandeirantes desse quadro como mestiços.

Leandro ficou de pesquisar alguns quadros que serviriam para isso, sendo suficientemente representativos de cada mito e bem conhecidos — senão o truque da intervenção não faria sentido. Como já prevíamos certas dificuldades nessa seleção — e não estávamos tão empolgados com essa ideia — continuamos a pesquisar outras soluções.

2. Silhuetas e reviravoltas
Depois de muitas horas sobre livros, revistas e links — e nenhuma idéia, como geralmente acontece quando pesquiso referências —, acabei me lembrando um pouco por acaso da Kara Walker, cujo trabalho conheci na Bienal de 2002:

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A referência começou a me empolgar pela associação entre as figuras da Kara — personagens da história americana — e nosso tema, história do Brasil. Mas ainda faltava alguma coisa que contasse a reviravolta, que era a essência da matéria. Pensei em desenhar as silhuetas de modo que à primeira vista contassem a história oficial e, com uma segunda leitura atenta aos detalhes, revelassem uma narrativa diferente, a desmitificação da história.

Como eu mesmo mal conseguia explicar essa ideia, achei que ela ia ser muito difícil de ser executada e, pior, impossível de ser compreendida. Precisava de alguma reviravolta, algo como esse clipe de Stand By Me, do Oasis, que acho genial: https://migre.me/1PKJH
Mas o problema era grande: como fazer algum tipo de “virada” na história sem qualquer recurso de interação (na web é só clicar e mudar a imagem) ou outra dimensão (tempo, no caso do clipe) além da página? Não lembro como, mas acabei chegando à conclusão de que a revista também tem sua dimensão temporal: a sequência de páginas. A virada da página poderia funcionar como a virada narrativa, revelando, na imagem “completa”, uma história diferente da contada nas silhuetas.

3. Teatro de sobras
A  partir daí, reunimos a equipe novamente e definimos quais seriam as cenas contadas, de acordo com uma pré-divisão de capítulos que o Alexandre e o Leandro já tinham imaginado. Chamamos o Sattu, nosso colaborador de longa data, pra ilustrar a matéria, a partir de instruções para o que seriam as silhuetas e o que seriam as coisas reais do outro lado.
A mágica dele, além de ilustrar maravilhosamente bem, seria encontrar um jeito de encaixar as duas coisas de forma convincente. Veja seus primeiros rafes e um exemplo da idéia que passamos pra ele:

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ABRE: uma grande cena de um engenho.
SILHUETA
A – senhor levantando um pau pra bater no escravo / ou um chicote açoitando
B – escravos com braços estendidos implorando piedade
C – senhor montado no cavalo

REAL
A – senhor capinando junto com escravos / ou entregando uma corda, não chicoteando
B – escravos com braços estendidos carregando coisas — feno, sei lá
C – escravo/tropeiro sobre uma mulinha

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Uma outra versão da cena do Aleijadinho:

Por fim, acabamos trocando a idéia da ilustração do índio, que estava misturando duas histórias em uma só sem contar nenhuma direito… Preferimos fazer a silhueta de um bandeirante como o conhecemos e que virava um mestiço esfarrapado. E inserimos mais algumas brincadeiras (como o negro degolado na cena final). Muitas correções e ajustes depois, o resultado foi esse aí embaixo. Espero que vocês tenham gostado!

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Gabriel Gianordoli
@gianordoli
designer

P.S. agradecimentos ao @urbim pelo título do post!
//

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