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Coluna Carbono Zero: a locomotiva e o abismo

Não há mais como evitar que o mundo esquente 1,5 grau. E isso é só o começo.

Por Salvador Nogueira
Atualizado em 22 set 2021, 17h08 - Publicado em 16 set 2021, 13h57

Lembra quando a meta era segurar o aquecimento global em 1,5 °C até o fim do século? Pois é. O mais recente relatório do IPCC (Painel Governamental para as Mudanças Climáticas das Nações Unidas), divulgado em 9 de agosto, trouxe uma pílula para lá de amarga.

De acordo com o documento, que envolveu 234 cientistas de 66 países, é baseado em mais de 14 mil artigos científicos, com quase 4 mil páginas, e foi aprovado por 195 países (os números ilustram o grau de detalhamento e consenso), o aquecimento em 1,5 °C já está “contratado” – e será impossível segurá-lo nisso a não ser que cortemos as emissões globais de carbono em 50% ate 2030 e em 100% até 2050. Na prática, é dizer que não vai dar.

Dos tais 1,5 °C que queremos evitar, já temos 1,1 °C. Uma boa metáfora é tentar parar um trem que avança em alta velocidade rumo a um penhasco. Muita gente confunde isso com alarmismo (é “avisismo” mesmo). Chega a ser cansativo ficar descrevendo incontáveis efeitos ambientais e sociais. Mas, como nem tudo sensibiliza a todos igualmente, fiquemos com apenas duas coisas: vai faltar comida e água.

Um estudo publicado em abril na Nature por pesquisadores das universidades de Maryland, Cornell e Stanford, nos EUA, mostra que o crescimento da produtividade agrícola global caiu 21% desde 1961, em razão das mudanças climáticas antropogênicas. Quanto a água, ninguém precisa lembrar o estresse hídrico pelo qual estamos passando, com a maior seca em 91 anos.

O IPCC apresenta vários cenários. O insanamente otimista, que envolve atingir a meta de carbono zero em 2050, nos levaria a +1,6 °C entre 2041-2060, mas ainda poderíamos fechar o século com aquecimento de “apenas” 1,4 °C. Com a meta de carbono zero empurrada para 2075, batemos em 2100 com 1,8 °C. 

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Mantendo as emissões nos níveis atuais até 2050, seguido por queda, sem atingir zero, terminamos com 2,7 °C. Emitindo de forma crescente até atingir, em 2100, o dobro do que liberamos hoje, fechamos o século com 3,6 °C. E ligando o proverbial “dane-se” e elevando as emissões atuais até atingir seu triplo em 2075, chegamos a um aquecimento desesperador de 4,4 °C. Tudo acima de 2 °C envolve efeitos catastróficos, segundo os modelos.

Resumo da ópera: precisamos reunir os governos do mundo todo para segurar o freio com toda força possível, antes que a locomotiva despenque lá embaixo. Os trilhos estão acabando.

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