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11 unidades de medida incríveis. E que você nunca irá utilizar

Pelo menos, não no seu dia a dia.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 14 out 2020, 19h09 - Publicado em 30 nov 2018, 11h46

O ano de 2018 pode ser considerado um dos mais importantes da história da metrologia, a área da ciência que define pesos e medidas. Como você, leitor da SUPER, acompanhou na edição de novembro, quatro das chamadas “unidades fundamentais” do SI (Sistema Internacional de Unidades) vão mudar a partir do ano que vem. É a maior revolução desde quando a entidade foi criada, em 1960.

O ampère, unidade que mede corrente elétrica, o mol (quantidade de matéria), o kelvin (temperatura) e o quilograma (massa) vão começar a se basear em constantes matemáticas. Dessa maneira, poderão ser calculados de forma muito mais precisa.

Mas, espera, como é que eles são calculados hoje? De um jeito bem mais tradicional – e mais aberto a confusão. Vejamos o quilograma. Até hoje, o referencial absoluto do planeta inteiro para massa é um objetozinho com menos de 4 centímetros. Um só. Na França. Sem ele, em teoria, não existe no mundo jeito de calcular um quilo oficial sem assumir um risco de imprecisão (pelo menos até a reforma).

Esse quilo oficial é um cilindro de platina (com cerca de 3,9 centímetros de tamanho, pra ser exato) criado no século 18 e guardado a sete chaves. É ele que determina o peso de tudo no mundo – e, justificando o título de unidade “fundamental”, define uma série de outras unidades. Entre elas estão energia (medida em joules), potência elétrica (watts) ou pressão (pascal), além de outras 17 que fazem parte do SI.

Há de se considerar, apesar disso, que nem só de unidades formais vive a ciência. E aqui acaba o papo sério.

Além das dezenas que existem em nosso sistema métrico, uma série de outras caíram no gosto de países por todo o mundo. Existem as oficiais – que, mesmo assim, são esquisitas para nós. Nos Estados Unidos, na Libéria e em Mianmar (conjunto nada coeso dos únicos 3 países não-métricos do mundo), você pesa coisas em libras e onças. Mede distâncias em jardas e polegadas. E volumes em galões, por exemplo. Daria para encher galões de água e depois pesar quantos galões aqueles galões pesam. Confuso? É mesmo: este é o Sistema imperial de medidas.

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Mesmo o Brasil, signatário da Convenção do Metro de 1875, também tem suas unidades mais informais. Durante muito tempo, nós mediamos distâncias em braças e varas – unidades que, em metros, ficam super quebradas. Uma braça equivale a 1,829 m e a vara a 1,1 m.

Se você passar por São Paulo ou Minas Gerais, vai encontrar quem meça uma área em alqueires. E, em um pasto, quem fale em “arrobas” em vez de quilos para comentar o peso do gado.

Essa certa liberdade criativa abriu a mente de cientistas – ou entusiastas leigos – do mundo todo. Hoje, há referências diversas, da cultura clássica à cultura pop, que motivaram a criação de escalas totalmente nova – todas com aplicações, digamos, pouco comuns.

Abaixo, reunimos uma lista com 11 unidades de medida não-convencionais, bizarras, engraçadas, como você quiser chamar.

Smoot

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(Reprodução/Wikimedia Commons)

Era outubro de 1958 quando um grupo de alunos do MIT resolveu se aventurar em um experimento tão nerd quanto ousado: medir, eles próprios, o tamanho da ponte que liga as cidades de Boston e Cambridge, nos EUA. Mas sem fita métrica, nem qualquer tipo de instrumento.

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A “régua” era uma pessoa – Oliver R. Smoot, um dos integrantes do grupo. O jovem de 1,7 m de altura, quando deitado, se tornava a trena perfeita. Era só marcar o asfalto e repetir o processo.

Após uma série de medições que levou horas, eles chegaram ao veredito: a ponte mede nada mais que 364.4 smoots – com uma margem de erro de uma orelha, para mais ou para menos. Duvida? Só ir lá medir por conta própria. Boa sorte tentando convencer Smoot a repetir o experimento.

Warhol

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(Jack Mitchell/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0))

A expressão “ter seus 15 minutos de fama” costuma ser utilizada para definir aqueles momentos-relâmpago em que alguém se torna uma celebridade.

Se o tempo de fama é mensurável, então ele pode ter sua unidade de medida, certo? Pois então, a cada 15 minutos de fama, alguém foi famoso por exatamente 1 warhol.

A unidade é uma homenagem ao pintor americano Andy Warhol, principal nome da pop art. E ela fica legal mesmo quando uma pessoa é realmente famosa, porque os minutos vão se multiplicando. 1 kilowarhol é nada menos que 15 mil minutos de fama, ou 10,42 dias. Já 1 megawarhol, 15 milhões de minutos, ou 28,5 anos.

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Com esses números em mente, você pode se atrever a calcular o sucesso de novos nomes que aparecerem na mídia.

Quem se lembra de Geisy Arruda, e da polêmica causada por seu vestido rosa em uma universidade de São Paulo? Pois bem, se considerarmos que a moça surgiu para o estrelato em 7 novembro de 2009 e até hoje segue dando as caras na imprensa, dá para dizer que a fama acumulada dela está na casa dos 315 kilowarhols. E contando. Haja minuto para tanto flash.

Kardashian

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Kim Kardashian Knew During Honeymoon With Kris Humphries That Their Marriage Would Fail : The reality star wedded basketball player #KrisHumphries for just 72 days in 2011 : #KimKardashian has admitted she already knew on her honeymoon with Kris Humphries that their marriage would fail. : The Keeping Up With The Kardashians star, 36, married her second husband, basketball player Kris, in 2011 during a lavish ceremony in Montecito, California rumoured to have cost $10 million and featuring two wedding dresses. : It was all filmed for a two-part E! reality show called Kim’s Fairytale Wedding… but just 72 days later, Kim had filed for divorce and the fairytale was well and truly over. : Not that it was a surprise for Kim. : In an interview with US TV's Watch What Happens Live , the star was asked whether she went into the marriage believing it was forever or expecting it to not last. : Kim said: "I just thought, 'Holy s**t, I'm 30 years old, I better get this together, I better get married'. : "I think a lot of girls do go through that where they freak out thinking they're getting old and have to figure it out, all their friends are having kids. It was more of that situation. : "But I knew on honeymoon it wasn't going to work out." : Although the couple separated in 2011, their divorce wasn't finalised for several years; Kim filed for divorce but Kris countered by seeking an annulment, alleging fraud and that the wedding was just for the TV cameras.

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Outra referência baseada em coisas “curtas”: a unidade kardashian. Dessa vez, ela serve para medir casamentos em que o divórcio é assinado na velocidade da luz.

A referência absoluta não poderia ser ninguém menos que a maior influencer digital do mundo, Kim Kardashian. Seu primeiro casamento, com o jogador de basquete americano Kris Humphries, em 2011, durou apenas 72 dias, assunto que é piada até hoje.

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Se 72 dias = 1 kardashian, o primeiro aniversário de casamento de um casal significa o mesmo que 5,07 kardashians.

Então já sabe. Da próxima vez que for dar parabéns para as bodas de seus avós, inove na forma. Bodas de ouro, ou 50 anos, são nada menos que 253,5 kardashians, por exemplo. E por aí vai – se tudo correr bem, os kardashians tenderão ao infinito, até que a morte os separe.

mili-Helena

O amor de Helena e Páris
O amor de Helena e Páris (Jacques-Louis David/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0))

A quantidade de beleza para fazer um único navio se deslocar por você.

Diferentemente das duas últimas, referências mais voltadas à cultura pop, essa unidade de medida remonta aos tempos clássicos.

Helena, personagem de Ilíada e Odisseia, era uma das muitas filhas de Zeus – e como todo descendente de deuses, era muito formosa. Foi o sequestro de Helena que motivou a Guerra de Troia, principal evento da Ilíada. E como chegaram as tropas de resgate de Helena? Isso mesmo, de navio.

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Tempos depois, o alemão Goethe daria a Helena sua descrição mais tradicional: “um rosto capaz de lançar mil navios”.

Ou seja, para resgatar uma pessoa com 1 Helena de beleza, valeria a pena enviar mil navios. Se 1 Helena é uma quantidade absurda de beleza, então o mais correto (e mais humilde) é calcular quantos navios vale o rosto de um mero mortal.

Assim, é comum que essa unidade apareça em seus submúltiplos. Ter um rostinho com 1 “miliHelena”, por exemplo, é motivar um único navio a sair na empreitada por você. Bom o suficiente, vá.

Minutos símios

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(New York Zoological Society/Wikimedia Commons)

Tente pensar no seguinte cenário, totalmente hipotético: uma quantidade infinita de macacos é colocada frente a uma quantidade infinita de máquinas de escrever.

Caso essa multidão de símios ficasse digitando no teclado aleatoriamente por toda a eternidade, seria possível reproduzir por completo as obras de Shakespeare – por puro acaso. Essa é a beleza da análise combinatória.

Bom, essa começou como uma metáfora matemática, mas acabou virando uma espécie meio chula de crítica literária, do tipo: “esse livro é tão ruim que uma quantidade de macacos infinita digitando aleatoriamente nem precisaria de muito tempo para chegar num resultado igual a esse”. No fundo, é chamar o escritor de incompetente.

Partindo dessas premissas, temos o conceito de “minutos símios” – do inglês “monkey minutes”. É a unidade de medida para qualidade literária. Obras mais complexas provavelmente precisariam de mais minutos símios para saírem perfeitas. Obras mais simples, por outro lado, seriam concluídas mais rapidamente.

Quantos minutos símios seriam necessários para que o grupo animalesco criasse os melhores contos de Machado de Assis? E as obras da saga Crepúsculo? Essa, deixamos para os fãs responderem.

Poronkusema

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(Alexandre Buisse/Wikimedia Commons)

É uma palavra de origem finlandesa usada para medir distâncias. 1 poronkusema equivale ao total que uma rena pode correr sem parar para urinar. É isso mesmo. Tudo por conta dos hábitos do bicho, que é incapaz de fazer suas necessidades fisiológicas enquanto se desloca, e precisa de um pipi stop. Aposto que você nunca imaginou o Papai Noel tendo que parar de entregar presentes para suas auxiliares tirarem água do joelho.

Aos curiosos, revelamos que 1 poronkusema equivale a 6 milhas, ou 9,65 quilômetros. É uma medida muito constante, aliás: as bexigas de renas são religiosamente regulares, e não variam muito de um indivíduo para outro. Nada mais preciso do que um chamado da natureza.

Micromort

A Morte

Inventada por Ronald Howard, professor da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, mede a probabilidade de que uma determinada atividade resulte em morte.

Falar 1 “micromort” significa considerar uma chance em um milhão. Fumar 1.4 cigarro ou passar uma hora em uma mina de carvão aumentam sua chance de óbito em 1 micromort. Pular de paraquedas, 7 micromorts.

Dol

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(Pixabay/Creative Commons)

Nada a ver com aquela história de outfit e ostentação. Muito pelo contrário: o “dol” é uma unidade para medir dor física, proposta pelos cientistas James Hardy, Herbert Wolff, e Helen Goodell, da Universidade Cornell, nos EUA, durante experimentos feitos nas décadas de 1940 e 1950.

Para o grupo de pesquisadores, um “dol” pode ser definido como a distância entre duas intensidades de dor. Imagine uma agulha espetando a pele e aumentando a força devagarinho. No momento em que é possível sentir a diferença, considera-se que a dor aumentou 1 dol. A palavra deriva de “dolor”, versão latina de “dor”.

Olf

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(Pedro Roberto Simões/Flickr (CC by 2.0))

Uma pessoa sentada, sem fazer grandes esforços físicos, exala um cheiro correspondente a 1 olf. Um atleta após uma sessão intensa de exercícios, aumenta seu cheirinho natural em 30 vezes – são 30 olf. A unidade proposta por Povl Ole Fanger, pesquisador da Dinamarca, diz respeito ao odor característico de diversos objetos.

Darwin

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(Reprodução/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0))

Unidade para medir mudanças evolucionárias, criada por J.B.S Haldene em homenagem a Charles Darwin (o biólogo inglês que é considerado o pai da teoria da evolução).

Como você se lembra da escola, alterações adaptativas surgem espontaneamente – e a probabilidade de que elas aconteçam, por ser aleatória, tende a fazer com que os intervalos entre alterações adaptativas significativas sejam grandes (podem ser pequenas também – é aleatório, mas estamos falando de tendências). Ou, como Darwin disse, “a natureza não dá saltos”.

Falar que algo evolui à taxa de 1 darwin, considerando esse princípio, significa dizer que determinada estrutura sofreu aproximadamente 2.718 mudanças em um intervalo de 1 milhão de anos. Tão complexo quanto mapear tendências evolutivas.

Bananas

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(Reprodução/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0))

Sim, bananas. Além de serem amplamente consumidas ao redor do mundo, as bananas também podem ser utilizadas para medir radioatividade. É bem provável que você não faça ideia disso, mas 0.01% do potássio presente na fruta corresponde a isótopos de potássio-40, que é radioativo (calma, isso não quer dizer que você vai virar o Hulk).

O potássio-40 tem uma meia-vida de 1.25 bilhão de anos. É bem menos do que outras formas de radioatividade que usamos de forma mais ou menos corriqueira – como para exames diagnósticos.

Essa é justamente a comparação que pesquisadores na área de radiação já chegaram a fazer. Quantas bananas você precisa comer para se expor ao equivalente de fontes de radiação comuns? Um exame de raios-X dentário, por exemplo, equivale a comer 50 bananas. Fazer uma tomografia computadorizada do peito, no entanto, é o mesmo que mandar 70 mil delas para dentro. Basta uma simples comparação como essa para tornar a banana, quem diria, em uma unidade de medida de exposição a radioatividade.

Antes de cortar da dieta sua banana com aveia matinal, porém, saiba que a chance de ter algum problema com o hábito é nula. Para morrer dessa forma, seria preciso comer 700 bananas por dia, durante a vida toda. Boa sorte para quem quiser tentar.

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