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A Antártica está sendo tomada por vegetação – e isso não é bom

O gelo do litoral está dando lugar a musgos, e dando um sinal preocupante da velocidade do aquecimento global.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
22 Maio 2017, 15h38

Plantar um pouquinho de verde – nem que seja só uma árvore, para fazer sombra e pendurar uma rede – é uma boa ideia na maior parte dos lugares. Não é o caso da Antártica. O continente, pelo bem da temperatura média da Terra, é coberto por um lençol de gelo permanente, e é frio demais para abrigar qualquer tipo de vegetação.

Ou era até agora. Medições inéditas indicam que, nos últimos cinquenta anos, o aquecimento global já derreteu as áreas de clima mais ameno da Antártica – e abriu espaço para grandes extensões de rocha nua, agora cobertas de musgo.

Não é fácil reverter essa tendência. “Ela não vai ficar totalmente verde, mas vai ficar mais verde do que é hoje”, afirmou ao jornal britânico The Guardian Matt Amesbury, pesquisador da Universidade de Exeter e um dos autores da pesquisa. Hoje, só 0,3% da superfície do continente gelado tem alguma vegetação. “Esse fenômeno está ligado a outros processos que estão ocorrendo na península [área mais habitável do continente, próxima ao sul da Argentina]. Um deles é a diminuição dos glaciares, que libera novos trechos de terra sem cobertura de gelo – os musgos são colonizadores muito eficientes dessas áreas.”

O artigo de Amesbury e seus colegas, publicado aqui, é o primeiro a avaliar o impacto das mudanças climáticas recentes na biologia da Antártica. Os pesquisadores britânicos e norte-americanos analisaram cinco amostras de solo de 20 cm de profundidade retiradas de três ilhas do litoral oeste do continente – onde as temperaturas médias são  0ºC no verão e – 10º no inverno.

Cavar 20 cm de chão, nesse caso, significa voltar 150 anos no tempo – as características dos sedimentos que se acumulam no solo ano após ano indicam como eram o clima e a vegetação no passado e permitem compará-los com a situação atual. Vários indicadores entram nessa conta: a quantidade de musgo, sua taxa de crescimento, a população de micróbios e até a quantidade de carbono – que varia conforme o número de seres vivos que estavam fazendo fotossíntese na época analisada.

O chão não mentiu. A taxa de crescimento de musgos está quatro ou cinco vezes mais alta do que era antes da década de 1950. O resultado bate com análises feitas em 2013 em uma ilha a mais de mil quilômetros de distância do foco da pesquisa atual – prova de que o fenômeno não é uma variação local, mas algo generalizado. Foram excluídas dessa avaliação variações climáticas pontuais, como a flutuação da umidade em cada verão, que pode incentivar ou conter o crescimento de vegetação no verão em ciclos de apenas dois ou três anos.

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