A gaiola dos loucos
Assim, um urso polar que fica dando voltas na jaula estaria convencido, depois de algumas horas, de que caminhou quilômetros no gelo ártico.
Marcos Nogueira
Animais presos em jaulas de zoológico, gaiolas de laboratório e estábulos podem estar ficando malucos. Quando confinados, eles costumam desenvolver comportamentos repetitivos, como andar de um lado para o outro do cercado ou se jogar contra as grades em intervalos regulares de tempo. A maioria dos cientistas julga que essas atitudes esquisitonas não têm nada de mais. Elas seriam uma forma de alívio para o tédio da vida em cativeiro, ou ainda uma tentativa do animal de adaptar à vida dentro da jaula as atividades que tomariam seu tempo no ambiente natural. Assim, um urso polar que fica dando voltas na jaula estaria convencido, depois de algumas horas, de que caminhou quilômetros no gelo ártico.
Não é o que pensam os pesquisadores Georgia Mason, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e Joe Garner, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Eles suspeitam que os animais adotam atitudes repetitivas porque o confinamento contínuo acarreta uma pane em seus cérebros. Em humanos, tal comportamento é conhecido por estereotipia, que se manifesta em pelo menos 36 doenças mentais, entre elas a esquizofrenia, a síndrome de Tourette – que causa os tiques nervosos mais comuns – e o autismo.
Os portadores de estereotipia são incapazes de alterar uma rotina consolidada, vivem no piloto automático. Uma pessoa normal vai vasculhar o armário se descobrir que suas meias não estão na gaveta onde sempre estiveram; o estereotípico pode passar o resto da vida procurando as meias no mesmo lugar. “É como se um circuito estivesse queimado”, disse Georgia Mason à revista inglesa New Scientist. Ela está certa de que o mesmo pode ocorrer em animais cativos.
Talvez os problemas não estejam só no encarceramento, mas no fato de os animais estarem o tempo todo sendo observados pelas pessoas. Portadores de estereotipia costumam se sentir frustrados com o próprio comportamento, mas, segundo Georgia Mason, eles talvez só estejam constrangidos por estar agindo de maneira estranha na frente de psicólogos de jaleco branco. “Se ninguém vigiasse suas atitudes, quem sabe essas pessoas não se sentissem tão mal, nem tão ansiosas. Algo semelhante pode estar acontecendo com os animais”, afirma.