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A lua que mudou tudo

Sob Europa, uma das luas de Júpiter, há um oceano de água que pode bem ser a maior esperança de encontrar vida noutro mundo do sistema solar

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h52 - Publicado em 12 fev 2011, 22h00

A busca por vida fora da Terra é uma história cheia de idas e vindas. No século 16, Johannes Kepler imaginou que as crateras lunares fossem evidência de uma civilização. Afinal, o que mais poderia produzir formas tão precisamente circulares? Dois séculos depois, a descoberta de que aquelas formas eram resultado de impactos de asteroides acabou com a ideia dele.

Na primeira metade do século 20, Percival Lowell disse ter observado uma rede de canais artificiais em Marte. Mais uma vez, evidência de vida. No fim, tudo não passava de uma ilusão de ótica, desmascarada pelas primeiras sondas espaciais. Outras naves, na mesma época, acabaram com a esperança de achar vida sob a névoa espessa que era a alta atmosfera de Vênus.

Evidências mais recentes mostram que Marte pode ter abrigado vida no passado, mas, se ainda existir hoje algum resquício dela, só pode estar no subsolo. Por isso, as esperanças de encontrar vida no sistema solar foram reduzidas violentamente, com relação às expectativas de 100 anos atrás. Mas aí veio o achado de Europa, que mudou tudo de novo.

Até as sondas Voyager 1 e 2 passarem por Júpiter, em 1977, a busca por vida se resumia aos planetas que pudessem manter água líquida em sua superfície. E, para que isso acontecesse, esses planetas precisariam estar nem muito perto, nem muito longe de sua estrela mãe – na chamada zona habitável. No sistema solar, apenas a Terra está nessa posição.

Tá, beleza. E o que as Voyagers têm a ver com isso? Ocorre que, ao fotografarem uma das luas de Júpiter – Europa -, elas iniciaram a descoberta mais importante ligada a vida fora da Terra até hoje. Até mesmo Carl Sagan, que estava na sala de controle quando as imagens da sonda começaram a chegar, foi presciente, ao fazer uma piada: “Nossa, Lowell estava certo! Ele só olhou para o lugar errado! Ele devia ter olhado para Europa!”

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O que as imagens mostravam eram imensos e longos sulcos, em várias direções, na superfície da lua. E a existência desses riscos só podia significar uma coisa: havia atividade intensa no interior daquela lua, o que significava que ela não podia ser uma imensa pedra de gelo com um núcleo rochoso girando ao redor de Júpiter. No fim das contas, os cientistas só puderam concluir o impensável: para que a superfície de Europa fosse daquele jeito, era preciso existir um oceano de água líquida, salgada, sob a crosta de gelo.

No caso em questão, o que faz a água permanecer em estado líquido no interior da lua é o efeito de marés causado por Júpiter. A poderosa gravidade joviana arrasta o interior da lua para cá e para lá, conforme ela gira ao redor dele, e o resultado é um aumento da pressão, que leva à liquefação do gelo.

A inevitável pergunta

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Durante a década de 1990, novas observações de Europa feitas pela sonda Galileo praticamente confirmaram a hipótese do oceano de água e deixaram os cientistas se coçando para enviar um veículo para explorar o subsolo da lua. Ninguém duvida de que essa seja a melhor chance de achar vida no sistema solar. Quem sabe até vida complexa e multicelular.

O problema é que não será nada fácil. As últimas estimativas dão conta de que, em média, alguns quilômetros de gelo separam a superfície do oceano interno. Quem quiser ir até lá terá de estar preparado para fazer uma exploração talvez mais complexa do que a extração do petróleo da região pré-sal na costa brasileira. Com a diferença que a costa brasileira é um pouquinho mais acessível que uma lua ao redor de Júpiter, certo?

Moral da história: o próximo passo da exploração de Europa é uma missão que terá um orbitador exclusivo para a lua joviana. Com um satélite dedicado, os cientistas poderão observar mudanças na superfície em tempo real. De repente, eles podem descobrir que é possível analisar uma amostra da água do oceano apenas descendo no lugar certo da superfície. Ou, pelo menos, poderão descobrir onde a camada de gelo é menos espessa, para uma futura missão submarina.

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Até lá, a existência de vida em Europa continuará apenas como uma hipótese fascinante, mas que carece de provas. Lamentavelmente, não muito diferente dos círculos lunares de Kepler e dos canais marcianos de Lowell…

 

Oceano sob o gelo
Efeito da gravidade de Júpiter faz com que o interior de Europa permaneça em estado líquido

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1. A lua tem um oceano de 100 km de profundidade, sob 10 km de gelo.
2. O gelo protege o interior do oceano da forte radiação presente.
3. Ocasionalmente, é possível que a água se aproxime da superfície.

 

 

 

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