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A PETA quer que veganos doem seu cocô

ONG de direitos dos animais afirma que fezes veganas estão cheias de bactérias saudáveis – que podem curar pacientes com problemas intestinais

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
6 set 2017, 19h44

Pare! Calças para o alto! Você, vegano que está lendo a SUPER no banheiro, interrompa toda a atividade intestinal. A organização de defesa dos animais PETA precisa do seu cocô, e você não deve desperdiçá-lo com uma cruel descarga.

Entender por quê é um pouquinho mais difícil. Você já ouviu falar em transplantes de microbiota intestinal (FMT), os transplantes de fezes? Pois é, eles existem. A ideia é que muitos problemas de saúde no sistema digestório podem ser resolvidos se você ajustar a quantidade de bactérias “más” que habitam o intestino de um doente usando as bactérias “boas” do intestino de outras pessoas, mais saudáveis.

O jeito mais fácil de conseguir uma amostra da vida microscópica de alguém é, óbvio, extraí-la do cocô do doador. É aí que entram os bancos de fezes – depósitos enormes dessa coisa cheirosa que sai de nós, e que tem potencial para curar pacientes com muita dor de barriga. Já existem dois nos EUA, mas a técnica, apesar de muito eficiente, ainda não é popular no Brasil.

Com isso surge uma pergunta: como deve ser a alimentação do doador ideal – o cocô perfeito, capaz de curar qualquer intestino? É aqui que entram os veganos. A PETA afirmou, em um post de blog, que as fezes de pessoas que não comem derivados animais, para quem precisa de uma transplante, são como “ouro sólido”, e possuem uma fauna microscópica muito mais saudável que a média.

Como fonte, eles citam este vídeo. Nele, o narrador – um médico chamado Michael Greger – lê um artigo científico que recomenda consumo de grandes quantidades de fibra de origem vegetal como uma forma eficiente de manter sua microbiota intestinal saudável. Segundo a PETA, feijão, brócolis, ervilhas e lentilhas (entre outros) seriam ótimas refeições para quem quer fazer doações boas de verdade toda vez que vai ao banheiro.  

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“Uma dieta baseada em plantas e alimentos integrais leva ao crescimento das bactérias boas, o que, por sua vez, leva a uma melhora geral na saúde”, declarou à PETA Angie Sadeghi, médica da Junta Americana de Gastroenterologia. “Como uma gastroenterologista, eu adoro a ideia de que a PETA peça aos veganos saudáveis (…) para doar fezes a quem sofre de Clostridium difficile [bactéria que pode atacar o sistema digestivo de quem está tomando antibióticos] e outros problemas.”

O problema é que, mesmo que vegetais façam bem para a sua saúde – e eles fazem –,  ainda não há consenso médico sobre o quanto comê-los contribui de verdade com o equilíbrio da sua população de bactérias intestinais. Na verdade, nesse caso, é muito difícil cravar o que quer que seja sobre qualquer alimento. Os FMTs são uma questão em aberto, e novos estudos podem questionar os atuais a qualquer momento. “Eu vi alegações histéricas sobre como atletas de elite têm um super cocô que poderia tornar todos nós melhores em esportes. Olha, nós ainda não chegamos lá”, afirmou à Popular Science a médica Elizabeth Louise Hohmann, especialista em transplantes fecais.

Além disso, bactérias que são inofensivas em pessoas saudáveis, que têm uma alimentação adequada, podem ser perigosas em pessoas que já estão com a microbiota intestinal debilitada – da mesma forma que uma simples gripe pode causar muitos problemas se você já está com o sistema imunológico prejudicado. Um “coquetel” de bactérias ideal, portanto, depende do caso de cada paciente. Talvez o melhor seja ter cocôs de todos os tipos, e escolher o melhor para o sistema digestório de cada um.

O mais importante, mesmo, é ter calma: os transplantes fecais são novidade mesmo em países desenvolvidos, e ainda podem demorar para se estabelecer no Brasil. Ainda não precisamos, por enquanto, fazer o ranking do cocô perfeito.

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