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Sonda Juno revela detalhes inéditos das listras e ciclones de Júpiter

Sabe as listras? Elas tem 3 mil kms de profundidade. E os ciclones nos polos se organizam em padrões geométricos curiosos – como este pentagrama da foto.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 mar 2024, 09h07 - Publicado em 9 mar 2018, 17h08

No começo da semana, a Nasa publicou quatro artigos científicos com as descobertas mais recentes da sonda Juno, que está na órbita do gigante gasoso Júpiter desde 2016. Esse pode até não soar como um evento notável para o terráqueo médio, mas as observações e medições da viajante solitária estão entre as mais valiosas da história da exploração espacial.

Um dos papers divulgados conta detalhes sobre as faces mais turbulenta de Júpiter: seus polos. “Os cinturões e zonas assimétricas que caracterizam o sistema climático de Júpiter em latitudes mais baixas dão lugar a ciclones nas latitudes mais altas.” Em bom português, isso significa que o gigante gasoso não tem aquela famosa aparência listrada, em tons de bege, marrom e ocre, ao longo de toda superfície. Ele só é assim perto do equador. Nas extremidades, as nuvens super organizadas dão lugar a dezenas de ciclones.

Dizer isso é apenas oficializar algo que já sabíamos desde maio do ano passado, quando Juno fez uma lendária foto da “bunda” (quer dizer, polo sul) de Júpiter e mostrou o clima instável pela primeira vez. Mal dá para reconhecer o planeta. No polo sul, um ciclone maior é rodeado por oito menores. No polo norte, o padrão se repete, mas com cinco. Ainda não se sabe o porquê dessa geometria cuidadosa – que você pode verificar na imagem que abre este texto. 

Outro dos artigos recentes fala justamente das faixas coloridas. Júpiter é feito de gás, e uma das consequências disso é que partes diferentes dele estão razoavelmente livres para girar a velocidades diferentes em torno de seu eixo. Algumas dos cinturões que nós vemos nas fotos estão se movendo até 100 metros por segundo mais rápido que outros – 360 quilômetros por hora de diferença.

Pode não parecer muito considerando que há carros capazes de alcançar essa velocidade sem esforço. Mas estamos falando de pontos diferentes da superfície de um mesmo corpo celeste. É como se o Brasil girasse mais rápido do que a Rússia – e nossos dias fossem mais curtos que os de Putin. Já pensou o jetlag?

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A Juno descobriu que, se você pudesse cortar uma fatia de Júpiter, veria que sua aparência listrada vai até 3 mil quilômetros de profundidade – menos de 5% do caminho até o centro, considerando um raio de 70 mil quilômetros. Ou seja: a parte listrada de Júpiter é apenas a “cobertura do bolo”.  Já a “massa”, desse ponto em diante, é de um gás tão denso que o interior do planeta gira como se fosse um corpo sólido.

É possível que, lá no fundo (e põe lá no fundo nisso), Júpiter tenha um núcleo efetivamente sólido – isto é, de rocha. Mas também dá para apostar com igual segurança que seu miolo é feito de um gás extremamente denso, com toques de metais pesados. Nessas condições de pressão e temperatura, as definições de sólido, líquido e gasoso que aprendemos na escola não se aplicam.

“Galileu viu as listras de Júpiter há mais de 400 anos”, afirmou em comunicado Yohai Kaspi, pesquisador do Instituto de Ciências Weizmann, em Israel, e um dos responsáveis por analisar os dados enviados pela Juno. “Até agora, nós só tínhamos uma compreensão superficial delas (…) Agora, usando medições de gravidade, nós sabemos até que profundidade essas faixas se estendem e qual é sua estrutura debaixo das nuvens visíveis. É como ir de uma foto 2D para uma 3D de alta definição.”  

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