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Afinal, a fumaça que deixou São Paulo no escuro veio mesmo da Amazônia?

Institutos de pesquisa divergem sobre o tamanho da influência de incêndios da região norte no fenômeno. Mas uma coisa é certa: queimadas mudam, sim, o céu de cidades pelo Brasil.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 12 mar 2024, 14h44 - Publicado em 21 ago 2019, 15h05

Na última segunda-feira (19), a cidade de São Paulo experimentou algumas horas de escuridão já no meio da tarde. Próximo às 15h, o céu ficou preto, como se alguém tivesse desligado o Sol – o que motivou diversas postagens nas redes sociais.

O fenômeno foi explicado por uma combinação atípica: a chegada de uma frente fria vinda do litoral do estado (que trouxe umidade do oceano), nuvens baixas carregadas e, principalmente, a presença de névoa seca. Com partículas de detritos em suspensão, essa camada densa impedia a chegada de luz do Sol e prejudicava a visibilidade.

Para notar a tal frente fria, bastava olhar os termômetros. Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), na tarde do domingo (18), a temperatura às 15h era de 28,4°C. No mesmo horário do dia seguinte (19), registrou-se 15,3°C – um declínio de 13°C. Isso deixou o dia encoberto e com garoa em diferentes cidades do estado de São Paulo já no começo da segunda-feira. Mas faltava entender a origem da camada densa, que fez o dia virar noite.

Institutos brasileiros de pesquisa climática deram explicações diferentes para o problema. De acordo com o Climatempo, a fumaça originada por queimadas na região amazônica teria sua parcela de culpa no problema. Em texto assinado pela meteorologista Josélia Pegorim, o instituto atribui o fenômeno a “grandes focos de queimadas que há vários dias são observados sobre a Bolívia, em Rondônia, no Acre e no Paraguai”.

Segundo o documento, a passagem da frente fria fez o vento de camadas mais altas da atmosfera (entre mil metros e 5 mil metros de altitude) mudar de direção. Com isso, a fumaça acabou “direcionada para o estado de São Paulo, mas também para a região sul de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná”. O texto destaca, ainda, que o satélite Terra/MODIS, operado pela Nasa, detectou que uma grande quantidade de fumaça vinda da Bolívia e de Rondônia se encaminhava ao sul do Brasil no dia 17 de agosto. A fumaça, antes concentrada do sul do país, teria ganhado Paraná e Mato Grosso do Sul e alcançado São Paulo no dia 19 de agosto – justamente quando a tarde ficou escura na capital paulistana.

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Especialistas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), no entanto, deram uma explicação diferente: a formação de nuvens baixas e densas já seria suficiente para explicar o céu preto. A influência dos incêndios, e do corredor de fumaça que eles formaram no centro-sul, foi descartada pelo instituto: “O vento até pode trazer essa fumaça de queimadas, mas teria que ser bem intenso o incêndio. Geralmente, isso ocorre mais com fumaça de vulcões”, afirmou Caroline Vidal, meteorologista do Inpe, em entrevista ao G1

Para meteorologistas do Inmet, porém, partículas de fumaça teriam, sim, culpa no cartório. Mas não somente as que vieram da região norte do país. Segundo o órgão, foram as queimadas entre a Bolívia e o Paraguai que transportaram a maior parte da fumaça até os estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo – restringindo a visibilidade no céu da capital paulistana.

“Parte deste material é de origem local e oriundo da Amazônia, mas outra parte considerável, talvez a predominante, de queimadas de grandes proporções, originadas nos últimos dias perto da tríplice fronteira [Bolívia, Paraguai e Brasil], próximo da região de Corumbá, no Pantanal Sul-Matogrossense”, disse o Inmet, em nota técnica enviada à SUPER. Dados do Inpe mostram que entre os dias 17 e 18 de agosto, foram contabilizados 180 focos de incêndio em Corumbá. Nenhum outro lugar do país queimou tanto no mesmo período.

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Um fenômeno parecido ao que paulistas experimentaram na última segunda é comum no centro-oeste e norte do país. Não só no Mato Grosso do Sul, mas também no Mato Grosso, Acre, Rondônia, sul do Pará e Maranhão, segundo destaca o Climatempo, isso se repete com frequência sobretudo no fim do inverno. A época costuma ser marcada por grande número de queimadas, que espalham fumaça pela região. A ausência de chuvas faz o ar ficar seco e quase sem nuvens – o que contribui para esconder o Sol e deixar o céu com tons mais opacos.

Ainda assim, o fato é que as análises definitivas sobre o que causou a escuridão em São Paulo só devem sair nos próximos dias. “Nenhuma das duas hipóteses [incêndios na Amazônia ou na região do Pantanal] podem ser conclusivas. Se isso tem totalmente a ver, qual o percentual representa, é algo que ainda precisa ser estudado”, disse Marcelo Schneider, meteorologista do Inmet, à SUPER.

O ano de 2019 já soma mais de 71 mil focos de incêndio, segundo o Programa Queimadas do Inpe – um aumento de 82% em relação a 2018. É o maior número registrado no país em 7 anos de medições. 

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