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Análise genômica sugere que nossa capacidade para linguagem surgiu há 135 mil anos

O estudo, de uma equipe internacional que incluiu pesquisadores da USP, tentou determinar o início da falação humana com base em nossa dispersão geográfica.

Por Eduardo Lima
16 mar 2025, 19h00

Uma linguagem é um sistema de comunicação estruturado e regrado de símbolos que remetem a significados. É isso que uma palavra faz: quando eu escrevo “martelo”, você não pensa nessa palavra de sete letras e no som que elas fazem juntas, mas sim numa ferramenta usada para pregar coisas na parede.

Esses sistemas complexos podem ser encontrados de forma limitada em outras espécies animais – um estudo recente mostrou que baleias se comunicam de forma tão eficiente quanto humanos –, mas não há outra espécie com uma linguagem tão complexa e completa quanto a dos Homo sapiens.

Agora, um novo estudo sugere que essa adaptação evolutiva que nos diferencia de todos os outros animais surgiu há pelo menos 135 mil anos, mais ou menos no meio da história do Homo sapiens enquanto espécie. A linguagem deve ter entrado em uso social entre os seres humanos há cerca de 100 mil anos.

Normalmente, estudos que estimam quando a linguagem surgiu usam diferentes formas de evidência, que vão de fósseis a artefatos culturais. Essa equipe internacional de seis pesquisadores – incluindo três cientistas ligados à Universidade de São Paulo (USP) – seguiu uma estratégia diferente.

O estudo, publicado no periódico Frontiers in Psychology, partiu da hipótese largamente aceita entre os pesquisadores de que todas as linguagens humanas têm uma origem comum. Ou seja: quando os Homo sapiens começaram a se distribuir largamente pelo mundo, eles provavelmente já falavam.

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Muito além de produzir sons

Para estudar a dispersão do Homo sapiens pelo mundo, os pesquisadores trabalharam com análises genômicas dos seres humanos. Eles estudaram 15 pesquisas genéticas, todas publicadas nos últimos 18 anos, sobre genomas completos, genes do cromossomo Y e DNA mitocondrial.

Os dados de todos esses estudos comparados sugerem que, inicialmente, os seres humanos começaram a expandir seus horizontes geográficos há 135 mil anos. Eles perceberam isso a partir do desenvolvimento de variações genéticas específicas a certas subpopulações regionais. A capacidade linguística deve ter surgido antes dessa divisão geográfica para depois se espalhar pelo mundo.

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Esse estudo é uma meta-análise: um exame estatístico que integra os resultados de pesquisas diferentes e independentes sobre uma mesma questão. Outros pesquisadores já tinham tentado fazer uma dessas em 2017, mas com menos estudos genéticos para serem analisados. Agora, os cientistas tinham mais dados e puderam estreitar mais ainda o intervalo de tempo examinado.

Alguns especialistas dizem que a linguagem já tem alguns milhões de anos, porque outros primatas já tinham as características fisiológicas necessárias para emitir certos sons como os seres humanos. Para a equipe dessa pesquisa, a linguagem vai muito além de só produzir sons. O que eles querem identificar é a origem da habilidade cognitiva complexa que permite que as pessoas combinem vocabulário e gramática para criar um número infinito de frases.

A linguagem humana é um ato criativo, que mistura palavras e sintaxe para desenvolver pensamentos complexos. Essa estrutura não existe em nenhum outro sistema de comunicação animal.

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Os cientistas também acreditam que a capacidade cognitiva para a linguagem (ou seja, pensar em voz alta, dentro das nossas cabeças) chegou bem antes da construção das primeiras linguagens faladas. Isso acontece porque uma linguagem não surge sozinha: um indivíduo pode ter essa capacidade cognitiva internamente, mas um sistema de comunicação se constrói coletivamente.

Para distinguir quando a linguagem humana começou a ser usada, os pesquisadores recorreram aos registros arqueológicos. Há cerca de 100 mil anos, começam a surgir as primeiras evidências de atividade simbólica, como marcações intencionais em objetos.

Mais ou menos na mesma época, outros especialistas identificam um desenvolvimento amplo de atividades inovadoras, como a criação de novas ferramentas e formas inéditas de organização social. A linguagem pode ter tido um papel importante, mesmo que não necessariamente central, nesse boom de criatividade.

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