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Ao vivo no YouTube, Elon Musk demonstrou implante cerebral Neuralink em porcos

Saiba quais já foram as promessas do empresário sobre sua interface cérebro-maquina – e quais delas ele cumpriu no anúncio realizado hoje (28) à noite.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 28 ago 2020, 22h48 - Publicado em 28 ago 2020, 22h44

Nota rápida: se você já está atualizado sobre o projeto e quer saber das novidades anunciadas no YouTube na sexta (28), pule o começo do texto e vá direito para a última seção.

Mais do que pelo sucesso nos negócios, Elon Musk construiu fama por ter o hábito de apostar suas fichas em qualquer projeto que julgue ser uma boa ideia. Isso já fez o bilionário se aventurar pelo mercado da tecnologia de diversas formas – de carros elétricos a painéis solares, passando por trens-bala ultra-rápidos e, mais recentemente, projetos de exploração espacial. Em 2017, no entanto, Musk veio à público com um plano tão pretensioso quanto a colonização de Marte: fundir computadores ao cérebro humano.

O projeto Neuralink foi divulgado pela primeira vez em março daquele ano. A história era que Musk, fascinado pela possibilidade de integrar homem e máquina, comprara a empresa em janeiro de 2017. Não havia produto nenhum, apenas uma ideia a ser desenvolvida. Para o bilionário sul-africano, era o suficiente.

No mês seguinte, o empresário fez sua primeira tentativa de explicar ao mundo que viagem era aquela. Para isso, bancou um divulgador científico para contar a ideia da forma mais acessível possível – o que inclui bonecos de palito e outros desenhos à mão livre.

O resultado dessa parceria você pode conferir neste post do blog Wait But Why, assinado pelo escritor americano Tim Urban – que, aliás, é uma indicação atemporal de boa fonte científica. Trata-se de um texto gigantesco, que levou semanas para ser escrito, mas cuja ideia tentaremos resumir em algumas poucas linhas.

Intercalando conceitos complexos de neurociência e entrevistas com o empresário e integrantes da equipe do Neuralink, o texto anunciava um protótipo de chip. Ele seria implantado no cérebro, e conseguiria captar os sinais eletroquímicos que os neurônios emitem e traduzi-los de uma forma que pudessem ser interpretados por um computador.

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Na época, a proposta dos fundadores era ajudar pessoas com lesões graves no cérebro, ou que tivessem perdido os movimentos por causa de um derrame, por exemplo. Mas o texto revela aspirações ainda maiores. Para além dessa aplicação na área da saúde, o projeto poderia servir para criar diluir as fronteiras que hoje existem entre humanos e computadores.

Desde o início, a pretensão era de que o chip da Neuralink se tornasse, literalmente, parte do usuário. Com essa pecinha acoplada na central de comando, humanos poderiam não apenas mexer em seus celulares usando a mente – mas também acessar a nuvem, computadores e até mesmo outros cérebros. Tudo sem fios.

“Esse fluxo de informação entre seu cérebro e o mundo exterior seria tão automático, que seria como os pensamentos que você tem dentro de sua cabeça”, explicava o texto do blog.

A adoção em massa de tecnologias do tipo, afirmou Musk na época, era uma questão de sobrevivência. Ter um chip implantado no cérebro é um passo natural da integração entre homem e inteligência artificial. Resistir às máquinas, nas palavras do empresário, era como pedir pra se tornar obsoleto. “Teremos a escolha de ser deixados para trás e nos tornarmos efetivamente inúteis ou como um animal de estimação – como um gato doméstico ou algo assim – ou, eventualmente, descobrir uma maneira de ser simbiótico e se fundir com a inteligência artificial”.

Musk afirmou que os planos eram de que o dispositivo estivesse disponível no mercado dentro de quatro anos. Para ser usado por pessoas sem supervisão médica – e comprado em lojas de eletrônicos como se fosse um fone bluetooth – o empresário projetava algo como oito ou dez anos. 

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Primeiros resultados

Foi apenas em 2019 que a Neuralink mostrou ao público algum avanço. Uma conferência de lançamento serviu para divulgar os primeiros resultados – entre eles, a aparência do tal chip. Chamada “N1”, a primeira versão do dispositivo era um eletrodo feito de silício com 16 milímetros quadrados.

Dele, partiam dezenas de cabos flexíveis e ultrafinos (com algo entre 4 e 6 micrômetros de tamanho), ou 20% da espessura de um fio de cabelo. A ideia é que esses fiozinhos fossem conectados diretamente ao córtex cerebral do usuário, criando a simbiose homem-máquina.

Implantes cerebrais não são uma coisa nova, é verdade. A aparente vantagem do chip criado pela Neuralink, no entanto, é ser menos invasivo que outras técnicas testadas anteriormente. Para implantá-lo, a Neuralink desenvolveu um robô cirúrgico ultra-preciso, controlado por um médico, e capaz de realizar a inserção desses cabinhos no tecido cerebral sem causar danos.

Após aplicação de uma anestesia local, um pequeno furo – totalmente indolor – é feito na pele e no crânio. Os fios, então, são colocados em contato com o tecido cerebral. Um terminal para conectar os cabos fica atrás da orelha. 

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Em 19 cirurgias feitas com ratos, o robô-cirurgião teve eficácia de 87% na tarefa de implantar e conectar os fios. Estima-se que o procedimento todo demore nada menos que 45 minutos. E o melhor: você não precisa sequer raspar seu cabelo para isso. Abaixo, você pode assistir abaixo a um vídeo teaser que ilustra o avanço do projeto, divulgado há um ano.

Os resultados foram relatados também em um estudo científico – assinado por “Elon Musk & Neuralink”. Uma versão da pesquisa foi publicada na plataforma biorXiv, que recebe artigos ainda não revisados e, em outubro do mesmo ano, ela foi aceita no Journal of Medical Internet Research. O estudo explica que o chip foi testado em ratos – e performou muito bem, obrigado.

Isso porque o dispositivo conseguiu detectar “spikes” entre os neurônios dos roedores em tempo real. Esses tais “spikes” acontecem quando um neurônio envia informação a outro, que se traduz, depois, em uma instrução para o restante do corpo. Trata-se de um movimento muito sutil para ser captado uma máquina de ressonância – mas possível de ser flagrado por um chip dentro de sua cabeça.

Roedores não foram os únicos a servirem de cobaia. No evento de divulgação, o bilionário deixou escapar que um macaco havia conseguido controlar um computador usando seu cérebro. Nada comprovado até então. A ideia era que, em 2020, começassem os primeiros testes envolvendo voluntários humanos.

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O que o evento de hoje trouxe de novo

Após um atraso de 40 minutos, a conferência desta sexta-feira (28) começou abordando pontos do projeto que foram aprimorados ao longo do último ano. O principal diz respeito ao design. Antes a estrutura do implante demandava duas incisões na cabeça e um dispositivo visível atrás da orelha. Agora, os usuários poderão passar praticamente despercebidos. O chip pode ser inserido por meio de uma única abertura no topo da cabeça, e a cicatriz fica coberta por cabelo numa boa.

“Você não pareceria normal com algo atrás da orelha”, disse Musk, justificando a mudança. “Se eu tivesse um Neuralink agora, vocês nem perceberiam. Talvez eu tenha”, brincou (será que brincou mesmo?) Você pode ver uma imagem que compara as duas versões abaixo.

(Neuralink/Reprodução)


O novo dispositivo, batizado “Link V.09”, tem o tamanho de uma moeda (23 mm x 8 mm) e conta com 1024 eletrodos. O restante da estrutura, composta por pequenos fiozinhos e espessura equivalente a um vigésimo de fio de cabelo, lembra a primeira versão. O que mudou foi o tamanho: ano passado, os fios precisavam atravessar a cabeça até a orelha. Na versão atual, eles têm 43 milímetros de tamanho.

“É como uma Fitbit no seu crânio, com fios muito finos”, definiu Musk. A ideia é que, além de monitorar a saúde, o implante sirva para funções do dia a dia – como ouvir música, por exemplo. Sua bateria tem autonomia de um dia e precisa ser carregada – por indução – durante a noite. Conectado ao celular via bluetooth, poderá operar sem fio a uma distância entre 5 e 10 metros.

(Neuralink/Reprodução)

A máquina usada para fazer a cirurgia, e os aprimoramentos que ela teve para melhorar sua precisão ao longo do ano, foram assuntos com pouco destaque. De novo, Musk optou por explicar que o procedimento duraria menos que uma hora – e o dono do chip poderia deixar o hospital no mesmo dia.

A ideia é que, no futuro, decidir pela implantação de um chip no cérebro seja tão simples quanto comprar um novo eletrônico, diz o empresário. Evitando falar em valores, estimou que o aparelho – e a cirurgia – devem sair por “alguns milhares de dólares” dentro de alguns anos.

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(Neuralink/Reprodução)

A parte mais aguardada do evento, no entanto, era o experimento que pretendia demonstrar o Neuralink em ação – flagrando, ao vivo picos de ativdade em neurônios de porcos. Para isso, Musk começou a demonstração com um porquinho que tinha um chip instalado na região do cérebro responsável pelo olfato há dois meses.

Cada vez que um neurônio da região enviava um pulso, um pontinho aparecia no gráfico. Era possível, assim, ouvir “bips” quando o cérebro suíno era estimulado após interagir com algum ambiente do cenário – seja cheirando a ração na mão da tratadora ou o chão do cercado montado no palco. 

Além do porco que carregava o implante, Musk mostrou outros dois animais, a efeito de comparação: um deles nunca teve um chip no cérebro e, o terceiro estava sem o implante há algumas semanas. Segundo o empresário, a ideia era mostrar que é perfeitamente possível fazer uso do implante e, depois, retirá-lo sem quaisquer sequelas.

De acordo com a equipe do Neuralink, o implante poderá fazer mais do que apenas “ler” a atividade cerebral. Pelo chip, será possível também transmitir informação ao cérebro. Estimular os neurônios em vez de receber informação deles.

Há, no entanto, algumas limitações nessa ideia. Por enquanto, os eletrodos não vão além do córtex, que é a camada mais superficial do cérebro. É nessa camada que acontece boa parte do processamento de capacidades como olfato ou visão.. Mas outras possíveis aplicações, como devolver os movimentos de um paciente paraplégico, exigiriam fios que penetram mais fundo no cérebro. Há aí uma limitação técnica. O cérebro é um ambiente muito corrosivo, e um problema é fazer com que a fiação dure um tempo razoável lá dentro.

Por ora, cada eletrodo do Neuralink é capaz de estimular algo entre mil e 10 mil neurônios. É pouca coisa se formos considerar a complexidade das funções cerebrais, que costumam envolver várias áreas do cérebro atuando em conjunto. Assim, a quantidade de estímulos que poderiam ser “criados” acaba sendo pequena.

Em julho deste ano, a FDA (a Anvisa dos EUA) autorizou o projeto. É preciso, porém, que a tecnologia cumpra novos protocolos de segurança antes de ser testada em humanos pela primeira vez. A ideia é iniciar os testes recrutando um pequeno grupo de pessoas paraplégicas e tetraplégicas. Musk defende que a tecnologia poderá servir para o tratamento de diferentes condições médicas – como paralisia, autismo ou depressão.

Como não poderia deixar de ser, Musk aproveitou o encontro para sugerir uma lista outras aplicações, digamos, menos convencionais – e que, com a tecnologia disponível hoje, ainda estão muito distantes da realidade. Entre elas, salvar memórias e reproduzi-las novamente ao melhor estilo Black Mirror ou se conectar em uma sessão de “telepatia consensual” com o cérebro de outro usuário. Você pode assistir à apresentação na íntegra no vídeo abaixo.


Ao final da apresentação, Musk afirmou que estava procurando pesquisadores de diversas áreas (biologia, engenharia de software, neurociência etc.) para se unir à equipe da Neurolink. Tim Urban, autor do blog Wait but Why, que primeiro revelou as aspirações do Neuralink ao mundo, resumiu o tamanho do desafio em um post em sua conta no Twitter: “Se você já fantasiou ter sido um engenheiro da década de 1880 trabalhando no laboratório de [Thomas] Edison, inscreva-se para trabalhar na Neuralink.”

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