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As calças jeans podem estar poluindo os oceanos

Pesquisa canadense identificou microfibras em águas do Ártico – uma única calça pode liberar até 56 mil delas durante a lavagem.

Por Rafael Battaglia
3 set 2020, 16h46

Presentes em quase todos os guarda-roupas do mundo, as indispensáveis calças jeans podem estar contribuindo para a poluição dos oceanos. Recentemente, pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, detectaram a presença de microfibras de denim em águas profundas do Ártico, no norte do país, em áreas próximas a Toronto e na região dos Grandes Lagos, na divisa com os Estados Unidos.

Denim, vale dizer, é sinônimo para jeans: ambos dizem respeito ao mesmo tecido de algodão de trama sarja, com estrias na diagonal. Esse tecido é tingido de índigo, uma tonalidade de azul, e voilà. 

Já se sabe que microfibras sintéticas de tecidos como nylon e poliéster acabam no meio ambiente. Por serem muito pequenas, as estações de tratamento de água não conseguem filtrá-las. Isso é parte de um problema cada vez maior (e que carece de maiores informações): os microplásticos, que poluem as águas, intoxicam os animais – e podem acabar dentro do nosso corpo. Um estudo recente estimou que um adulto padrão consome, em média, 50 mil dessas partículas a cada ano.

A pesquisa canadense, publicada na revista Environmental Science and Technology Letters, mostrou que, além do material sintético, fibras orgânicas, como o algodão dos jeans, também estão por aí – ainda que não se saiba completamente os seus efeitos no meio ambiente. No Ártico, para cada quilo de sedimento seco coletado, os cientistas encontraram 2 mil microfibras – 20% delas eram de denim.

Para analisar o material coletado (e distinguir as fibras de jeans das outras), foi necessário recorrer a microscópios e uma técnica conhecida como espectroscopia Raman, que mede como a luz interage com as ligações químicas em um material. O tingimento índigo feito no denim dá ao tecido uma assinatura química que facilita sua identificação.

Além disso, os cientistas fizeram um experimento paralelo a esse para entender como as fibras se soltam das roupas. Para isso, eles lavaram três tipos de peças jeans, feitas com 99% e 100% de algodão: calças novas, velhas e levemente desgastadas.

Eles identificaram que jeans novos soltam mais fibras que os demais – entre os velhos e os “semi-novos”, não houve muita diferença. Mas o que mais chama a atenção é a quantidade: em uma única lavagem, essas peças de roupa podem soltar até 56 mil microfibras.

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Por toda parte 

Os pesquisadores também coletaram amostras de duas estações que filtram microfibras antes de lançar água no Lago Ontário. Mesmo impedindo que parte delas vá para lá, o estudo estimou que um bilhão de microfibras de denim acabam no lago diariamente. Para o cálculo, eles levaram em conta que ao menos metade dos canadenses usa jeans todos os dias – e que essas roupas vão para a máquina de lavar após dois usos.

O problema é que, uma vez que essas partículas vão para o meio ambiente, elas podem parar em qualquer lugar – seja pela água, seja pelo vento, graças a correntes de ar.

O caso do Ártico é particularmente preocupante, pois há teorias que sugerem que as águas do norte da Terra estão virando um “lixão”, já que a região é o ponto final de diversas correntes subterrâneas. As descobertas canadenses apontam para isso, e levantam outra questão: em uma região como o Ártico, com escassez de recursos orgânicos, o que acontecerá com animais que venham a ingerir as fibras de jeans?

Pensando nisso, os cientistas de Toronto analisaram o intestino de peixes da espécie cheiro do arco-íris, que habitam os Grandes Lagos. Eles identificaram a presença de microfibras em 65% deles – até 63 fibras por indivíduo. Curiosamente, destas, apenas uma era de denim. A pesquisa não mergulhou a fundo nesse quesito, mas eles suspeitam que possa estar ligado aos hábitos alimentares da espécie.

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Como reduzir a quantidade de microfibras?

Embora sejam necessários mais estudos para entender melhor os impactos das microfibras de jeans no meio ambiente, especialistas ressaltam que já existem algumas medidas para diminuir sua presença nos oceanos.

Em entrevista à revista Wired, Nicholas Mallos, diretor da Ocean Conservancy Trash Free Seas, programa que combate o despejo de resíduos no mar, diz que há filtros especiais, que podem ser acoplados a máquinas de lavar, capazes de reter 90% das microfibras que se soltam das roupas – e que sua instalação deveria virar regra. “Independentemente de ser algo sintético ou fibroso, já existem meios para mitigar a poluição do ambiente marinho”, explica.

Outra saída é simples: não lavar tanto os seus jeans. E dá para reduzir o ritmo de lavagem sem, necessariamente, deixá-los sujos. Enquanto você toma banho, pendure calças e jaquetas no banheiro, para que elas entrem em contato com o vapor d’água. Depois, é só deixar arejar.

 

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