Austrália planeja começar uma plantação na Lua no ano que vem
Missão não tripulada levará sementes e mudas de plantas para descobrir se é viável produzir alimento em nosso satélite.
Em 2025, se tudo der certo, algo verde começará a brotar na Lua. Esse é o objetivo da missão ALEPH, liderada pela Austrália, cujo objetivo é experimentar a horticultura lunar.
O projeto é financiado pelo governo australiano e conduzido pela startup Lunaria One, em colaboração com instituições de pesquisa, organizações sem fins lucrativos e outros parceiros do setor.
Se alguma planta sobreviver, já será motivo de comemoração. Elas precisarão suportar o armazenamento prolongado na plataforma de lançamento, as vibrações intensas durante a decolagem e o climinha agradável na superfície do satélite, que inclui temperaturas de cerca de -120 °C.
A missão não será tripulada. Na impossibilidade de crescer em um local sem atmosfera, os vegetais ficarão plantados em uma câmara com condições controladas.
“Compreender quais plantas devem ser cultivadas no espaço – e qual a melhor forma de cultivá-las – desempenhará um papel fundamental na exploração espacial humana nos próximos anos.” disse, em comunicado, Enrico Palermo, diretor da Agência Espacial Australiana. “Ao mesmo tempo, nos dará lições científicas importantes para aplicarmos na Terra.”
“Estamos selecionando sementes e plantas capazes de demonstrar rápida germinação e sobrevivência a longos períodos de dormência e a vários ciclos de calor/frio que provavelmente estarão presentes na jornada até a superfície lunar.” disse Lauren Fell, diretora da Lunaria One e líder do projeto ALEPH.
“Junto com as sementes, estamos investigando a inclusão de um conjunto de espécies chamadas ‘plantas de ressurreição’ – são variedades fascinantes capazes de perder a maior parte da água e, posteriormente, ‘ressuscitar’ quando a água é reintroduzida.”
Uma das principais candidatas é a duckweed, ou lentilha d’água. Essa plantinha aquática é o vegetal comestível que cresce mais rapidamente do mundo, e pode ser consumido inteiramente, sem desperdício.
“A lentilha d’água dobra de tamanho a cada dois dias e tem um excelente valor nutricional; no entanto, também é possível usá-la para produzir outros produtos, como medicamentos e plásticos, o que pode se traduzir em muitos benefícios para a Terra – se é possível cultivar coisas na dureza do espaço, é possível cultivar coisas em praticamente qualquer lugar”, diz Richard Harvey, chefe do P4S, o Centro de Excelência em Plantas para o Espaço do Conselho Australiano de Pesquisa.
Ciência cidadã e engajamento da população no projeto
Um dos pilares do projeto é a participação de cientistas cidadãos e estudantes na pesquisa. Quando a carga de sementes chegar na Lua, o projeto oferecerá kits para que qualquer um possa executar experimentos paralelos em casa ou nas escolas, e adicionar suas informações a um banco de dados científico. Assim, os dados ajudarão a comparar o crescimento das plantas em condições variadas.
“Esta missão é mais do que apenas ciência e tecnologia; trata-se de trazer as pessoas conosco, promover a inovação e mostrar aos australianos de todas as idades que há um lugar para eles em nosso setor espacial”, disse Fell, em outro comunicado.
“Ao envolver públicos diversos, não apenas criamos oportunidades de participação, mas também impulsionamos a inovação. Novas perspectivas nos ajudam a resolver problemas de novas maneiras.”
A corrida espacial, versão agro
Se der certo, a Austrália será a primeira a colocar em prática uma ideia antiga. Os Estados Unidos também planejam uma experiência de horticultura lunar, mas em 2026, quando tripulantes humanos devem retornar ao satélite pela primeira vez, na missão Artemis III.
Astronautas passarão 30 dias em solo lunar, e entre vários outros experimentos, devem analisar os efeitos do ambiente da superfície lunar sobre as plantações – incluindo a fotossíntese das plantas, o crescimento e as respostas ao estresse sistêmico na radiação espacial e na gravidade parcial.
Segundo a Agência Espacial Australiana, o P4S mantém contato regular com a NASA para garantir que suas pesquisas continuem relevantes para futuras missões, como a Artemis. Mais do que isso, o centro de pesquisa faz parte da equipe que desenvolverá instrumentos para a missão da NASA.