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Bactérias: Vivendo nas nuvens

A descoberta de que as nuvens abrigam microrganismos revoluciona os conceitos sobre as condições mínimas para a vida

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 16 Maio 2018, 13h18 - Publicado em 31 ago 2004, 22h00

Carla Aranha

A cientista austríaca Birgitt Sattler, da Universidade de Innsbruck, surpreendeu seus colegas em 1999 ao anunciar que havia descoberto bactérias se multiplicando em nuvens sobre os Alpes. Até então, acreditava-se que seria impossível a existência de vida em um meio tão inóspito, com baixíssimas temperaturas, forte radiação ultravioleta e limitação de nutrientes. A própria pesquisadora ficou admirada com o que encontrou nas amostras colhidas em nuvens no alto do Monte Sonnblick, perto da cidade de Salzburgo. Em cada mililitro havia cerca de 1 500 bactérias vivas, produzindo DNA e proteínas. “A atmosfera fria e rarefeita nunca foi considerada um ambiente viável para o crescimento bacteriano”, disse ao anunciar a novidade. A descoberta revolucionou os conceitos em relação aos pré-requisitos para a existência e a reprodução de um ser vivo.

O achado de Birgitt tem várias implicações. A partir de agora, será mais fácil prever e controlar os efeitos do clima. O químico atmosférico Daniel Jacob, da Universidade de Harvard, aposta que as bactérias das nuvens têm um impacto significativo sobre as condições climáticas, com um importante papel na produção da camada de ozônio. Com a descoberta, os cientistas poderão encontrar formas mais eficazes de evitar a destruição da camada de ozônio. Outros pesquisadores acreditam que os microorganismos encontrados sobre os Alpes influenciam a formação de cristais de gelo nas nuvens, acelerando as precipitações de chuva. De novo, o estudo das bactérias descobertas poderá aprofundar a compreensão de um fenômeno climático que, volta e meia, causa desastres pelo mundo. “Estão sendo conduzidos vários estudos nas melhores universidades do globo sobre a relação entre as bactérias dos Alpes e o clima. Em breve teremos novidades”, afirma Jacob, da Universidade de Harvard. Outra implicação da descoberta de Birgitt é que a procura por formas de vida em outros planetas ganha novo ânimo. Agora, sabe-se que é bem possível a existência de microorganismos nas mais adversas condições.

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O impacto da descoberta

A descoberta de bactérias vivas em nuvens sobre os Alpes, um ambiente extremamente inóspito, mudou tudo o que se sabia sobre as condições necessárias para a existência e a reprodução de seres vivos

Adaptação

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A vida surpreendee floresce em ambientesimprováveis

Nos últimos 30 anos, os cientistas foram forçados a reavaliar o conceito de como os organismos operam e quais são suas necessidades. Quem freqüentou os bancos escolares nos anos 60, 70 e até 80 aprendeu que os seres vivos precisam de luz, água e nutrientes para sobreviver e se reproduzir. Mas, com o tempo, essa noção foi mudando. Hoje a ciência acredita que, na falta de luz solar, outras fontes de energia podem suprir as necessidades básicas de certos microorganismos. A água, por sua vez, pode não ser o único meio aquoso imprescindível para a vida. O mais surpreendente de tudo é que os ambientes em que os seres vivos podem vingar e neles desenvolver novos padrões de adaptação são infinitamente mais numerosos do que se imaginava há dez ou 15 anos.

Ao longo das décadas, o interesse pelo estudo das bactérias ganhou fôlego, e os cientistas foram descobrindo microorganismos em locais considerados improváveis – é verdade que nem tanto como as nuvens de Birgitt Sattler. Eles foram encontrados em lagos cheios de ácidos, nos vales secos da Antártica e em cavernas onde não entra a luz solar.

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