Biosfera 2 vai ser reaberta
Nos anos 90, um grupo de biólogos tentou montar um ecossistema independente da Terra. Foi a experiência científica mais ousada (e fracassada) da década. E agora, 20 anos depois, ela vai voltar
Salvador Nogueira
Criar um ambiente 100% autossuficiente, que não precisasse de nada de fora – nem de ar. Um lugar capaz de produzir alimentos e oxigênio suficientes para sustentar vida por tempo indefinido. Esse era o sonho do projeto Biosfera 2, criado por um grupo de biólogos e investidores. Ao longo de quatro anos, eles construíram uma estufa de vidro com 8.400 metros quadrados no deserto do Arizona. Ela era dividida em ambientes que reproduziam condições terrestres (deserto, floresta e lago, entre outros). Em 26 de setembro de 1991, a experiência começou. Oito pessoas foram trancadas lá dentro, junto com diversos animais e plantas, e as portas foram lacradas. Deu tudo errado. Os níveis de CO2 explodiram, faltou oxigênio, bichos e plantas foram dizimados, os voluntários passaram fome, e um chegou a perder parte de um dedo (quando lembraram que não havia nenhum cirurgião lá dentro). A Biosfera 2 foi considerada um fracasso, e quase acabou demolida.
Mas, agora, ela está voltando – com um objetivo mais modesto. Cientistas da Universidade do Arizona vão usar o lugar para estudar encostas de montanhas. Eles levaram várias toneladas de terra para a estufa. “É material que saiu de um vulcão numa erupção”, explica o cientista Steve DeLong, líder do projeto. A terra foi colocada em pilhas de 30 metros, que os cientistas vão irrigar com quantidades controladas de água para ver como o material se mexe e aprender mais sobre erosão e desbarrancamentos. Um final humilde, mas pelo menos útil, para a Biosfera 2.
Ilustração: Jonatan Sarmento