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Brasil mil grau: o que o IPCC diz sobre o futuro do país no aquecimento global?

Agronegócio ameaçado, hidrelétricas com sede, mosquitos aos montes e secas na Amazônia: tudo isso já é realidade. Entenda como as mudanças climáticas afetam o Brasil.

Por Redação Super
Atualizado em 2 abr 2024, 09h47 - Publicado em 16 set 2021, 10h28

Texto: Bruno Vaiano
Reportagem: Carolina Fioratti, Luisa Costa, Rafael Battaglia
Design: Juliana Krauss
Ilustrações: Tayrine Cruz
Gráficos: Natalia Sayuri

O efeito estufa é, em sua essência, um fenômeno simples. A luz do Sol alcança a Terra e aquece a superfície do planeta – que passa a emitir radiação infravermelha, vulgo calor. Parte desse calor escapa de volta para o espaço sideral; parte fica retida debaixo de um grande cobertor de gás chamado atmosfera. Vale dizer: é ótimo que isso aconteça. A temperatura média da Terra, hoje, é de 14 °C. Sem efeito estufa, seriam 18 °C negativos. O frio tornaria o planeta inóspito para a vida como a conhecemos. 

O problema é que a poluição está transformando esse cobertor em um grosso edredom. Ao longo do século 20, alguns gases emitidos em doses cavalares pela queima de combustíveis fósseis e outras fontes antrópicas – como o dióxido de carbono (CO2) e o metano que sai nos arrotos e puns do gado (CH4) – transformaram a atmosfera num porteiro do Enem de radiação infravermelha. Hoje, a Terra retém muito mais calor do que é saudável ou necessário. Os dez anos mais quentes registrados desde 1880 ocorreram após 2005. 

Tudo que as causas têm de simples, as consequências têm de complicadas. Um aumento de apenas 1 °C na temperatura média do planeta, como o que ocorreu do finalzinho do século 19 para cá, é o primeiro dominó de uma reação em cadeia que muda correntes marítimas, circulação dos ventos, nível do mar, latitude ideal para os biomas etc. É como se houvesse um gatinho andando em cima do painel de controle da nave Terra, pressionando botões aleatoriamente. Agora, cabe a nós fazer um pouso de emergência: muitos dos danos já são irreversíveis e podem apenas ser atenuados. 

Mesmo que zerássemos todas as emissões até 2050 – o cenário mais otimista –, a média de temperatura global ainda subiria 1,4 °C até o final do século (veja o gráfico abaixo). Qualquer coisa acima de 2 °C, o limite do Acordo de Paris em 2015, seria catastrófica.

Gráfico mostrando a consequência de cinco cenários conforme a temperatura vai aumentando.
(Natália Sayuri Lara/Superinteressante)

É por isso que, ao longo dos últimos sete anos, 801 cientistas de 195 países, incluindo 21 brasileiros, leram e interpretaram 14 mil artigos científicos para montar o sexto relatório do IPCC – sigla em inglês de Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Trata-se de um grupo criado pela ONU em 1988 para acompanhar de perto as descobertas mais recentes sobre o aquecimento global e então condensá-las em um resumão que tenha repercussão midiática e possa pautar políticas públicas e o trabalho dos próprios cientistas.

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Nas próximas páginas, entenda o que a edição mais recente do IPCC, cuja primeira parte foi publicada em agosto, diz sobre o lugar do Brasil na fila do pão do aquecimento global – e como nós vamos pagar o preço que ele cobra. 

A ciranda dos biomas

A Terra guarda seus átomos de carbono em basicamente três lugares: 1. nos gases de efeito estufa da atmosfera, como o gás carbônico; 2. nos seres vivos, que são feitos basicamente de carbono; 3. no subsolo, na forma de petróleo, carvão e outros combustíveis fósseis. Tire carbono de um desses lugares, e ele automaticamente vai parar em outro. A fotossíntese das plantas pega o carbono da atmosfera e o transforma em troncos, caules e raízes. Quando um grileiro ateia fogo à floresta, esse carbono volta para o céu na forma de CO2

Entre 2010 e 2018, a Amazônia lançou em média 1 bilhão de toneladas de carbono na atmosfera por ano graças às queimadas, mas sua flora conseguiu reabsorver apenas 18% dessas emissões via fotossíntese. Ou seja: a floresta, de tão atacada, tem mais mato virando fumaça do que fumaça virando mato. As queimadas não são só uma causa do aquecimento global. Também são uma consequência. É uma bola de neve. Calcula-se que cada metro quadrado de Amazônia vai emitir um 1 kg de carbono a mais para cada 1 °C de aumento na temperatura média do planeta – via incêndios naturais, causados pelas temperaturas mais altas. E a temperatura aumenta justamente porque há mais carbono no ar. Uma coisa puxa a outra.

 

O IPCC indica que o centro do Brasil e as porções sul e leste da Amazônia vão se tornar regiões mais secas, com uma redução de 10% a 20% nas chuvas. Isso ocorre mesmo no cenário mais otimista, em que o Acordo de Paris é plenamente respeitado. “Já há uma reposição de espécies, com um favorecimento das que são mais adaptadas ao clima mais seco em detrimento das melhor adaptadas ao clima úmido”, diz David Lapola, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura, da Unicamp. 

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Os biomas brasileiros vão passar (ou melhor: já estão passando) por uma dança das cadeiras descrita como “ciranda nefasta”. A Floresta Amazônica, com uma estação seca sete ou oito dias mais longa, é tomada por vegetação baixa invasora e se torna mais propensa a incêndios naturais. Ganha características de cerrado – mas um cerrado degradado, sem a biodiversidade do original.

O cerrado, por sua vez, se torna uma caatinga semiárida. E a caatinga vira um deserto puro e simples. No sul do país, mais quente, a Mata Atlântica avança nos pampas e nas coníferas, como pinheiros e araucárias. Conforme o clima típico de cada região muda, os ecossistemas fazem as malas e se deslocam para lugares em que as condições de temperatura e umidade são mais adequadas a sua existência. Ou desaparecem.

Não há um único aspecto de um ecossistema que não descarrila quando o clima muda. Calcula-se que 85% (95%, em algumas estimativas) das espécies amazônicas serão afetadas pelo aquecimento de alguma forma. Inclua aí, por exemplo, incontáveis plantas com moléculas de potencial farmacêutico que serão extintas antes de serem descobertas, mas poderiam gerar milhões em patentes. A OMS estima que o Brasil, com 20% da biodiversidade mundial, tenha até 10 mil espécies com alguma aplicação plausível na medicina. 

As reações em cadeia são caóticas. Por exemplo: as plantas dão flores na época em que insetos, pássaros e morcegos estão prontos para entrar em ação, colhendo recompensas nutritivas em troca de espalhar o pólen. O calendário do sexo vegetal depende de gatilhos como a temperatura e o regime de chuvas típicos de cada estação. Mexa com esses parâmetros e as angiospermas perdem a sincronia com seus polinizadores. Isso já acontece, por exemplo, com a família Myrtaceae, que inclui espécies como o eucalipto, a goiaba e o cravo-da-índia.

Com menos polinização, há menos frutas nas florestas. Com menos frutas, cai a população de animais que costuma comê-las. Sem animais para picar, o excedente de mosquitos vai procurar sangue aonde? Nas cidades. Dá-lhe dengue, zika e chikungunya. Essas são só três das mais de 200 arboviroses existentes no Brasil (doenças transmitidas por artrópodes como o Aedes), e 40 delas atingem humanos. “O Aedes aegypti vive em média trinta dias”, explica Camila Lorenz, da Faculdade de Saúde Pública da USP. “Mas experimentos de laboratório viram que se você aumentar um pouco a temperatura, tanto a população de mosquitos como o tempo de sobrevivência acabam crescendo.” 

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As pessoas mais frágeis são as primeiras atingidas por mudanças como essas. Vide uma análise de 300 mil bebês nascidos entre 2006 e 2017 em 47 municípios do Amazonas. Mulheres de comunidades ribeirinhas que enfrentam secas ou enchentes durante a gravidez têm mais partos prematuros, e os bebês nascem abaixo do peso com mais frequência. Não é difícil entender por quê. As colheitas de subsistência são afetadas por eventos climáticos extremos e mudanças no regime de chuvas, causando desnutrição. As queimadas emitem material particulado (fuligem) do tipo mais perigoso para o sistema respiratório. As cheias nos rios aumentam a taxa de reprodução dos mosquitos e, por tabela, a transmissão de malária e de arboviroses. 

 

Brasil fora de época

A agricultura, assim como a mata nativa, só prospera se a planta em questão estiver em um local com regime de chuvas e variações de temperatura adequados ao seu plantio. Por exemplo: o Chile ganha muito dinheiro exportando frutas de clima temperado, como maçã e pêra, quando elas estão fora de época na Europa e nos EUA (as estações no hemisfério norte, lembre-se, são opostas às nossas). O problema é que, com as mudanças climáticas, eles não conseguem mais fazer a colheita coincidir com o auge da demanda acima da Linha do Equador. As frutas acabam amadurecendo antes das festas de fim de ano. O Brasil já passa pelo mesmo: não conseguimos mais fornecer mamão para o Natal gringo. 

É claro que mamão não é exatamente o carro-chefe do país. “Algo entre 80 a 90% de tudo que a gente consome vem de cinco culturas: milho, soja, arroz, trigo e cana de açúcar”, diz Paulo Arruda, coordenador do Centro de Pesquisa Genômica para Mudanças Climáticas (GCCRC), da Unicamp. 

A última fronteira do plantio de soja, milho e outros grãos, bem como da criação do gado que usa esses grãos de ração, é uma região de cerrado conhecida como Matopiba, um acrônimo engraçadinho formado pelas siglas dos quatro estados que a integram: Maranhão, Tocantins e porções do oeste do Piauí e da Bahia. Com as mudanças climáticas – que são, em parte, culpa do desmatamento necessário para plantar nessas áreas e do metano emitido pelo gado –, o clima pode se tornar seco e quente demais para essas espécies. O problema é que descer no mapa não é uma solução: o sudeste já tem seus próprios cultivos, e haveria uma competição pelo uso das terras. 

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É por isso que Paulo e sua equipe estudam como plantas nativas de regiões áridas sobrevivem com um solo ressacado e desnutrido – e tentam transferir os truques genéticos que essas espécies evoluíram para as sementes com grande importância econômica. Não é algo limitado às universidades públicas. A Embrapa e as grandes empresas privadas de biotecnologia já sabem que a resistência a pragas não vai bastar para os transgênicos do futuro.

“Nós lançamos material tolerante à seca, material em que o sistema radicular [as raízes] é mais profundo e consegue sobreviver”, diz Daniel Pereira Guimarães, da Embrapa. “E os produtores já estão descobrindo que, se fizerem queimadas, vão ter um prejuízo terrível lá na frente, porque é a matéria orgânica que segura a água no solo. A conscientização está melhorando bastante. (…) Mas é o seguinte: o clima vai mudar, e quando algumas coisas chegarem em determinado nível, não adianta querer consertar.” 

É tentador pensar em soja e cerrado como inimigos incompatíveis, mas eles são faces da mesma moeda: tanto as plantações como a mata nativa só prosperam se o clima estiver sob controle. Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) publicado no periódico Nature Communications estima que, mantido o desmatamento no ritmo atual, o agronegócio brasileiro amargará um prejuízo de US$ 1 bilhão por ano até 2050. Só os produtores de soja perderão US$ 5,2 bilhões em três décadas. Porém, uma política eficaz de combate ao desmatamento na Amazônia (que não é impossível: o Brasil era referência internacional em preservação ambiental nos anos 2000) diminuiria o prejuízo total de US$ 30 bilhões para US$ 11,5 bilhões. 

Gráfico mostrando como o território nacional deve mudar em relação às áreas de plantação e pasto por causa das mudanças climáticas.
Fonte: M. Zilli, M. Scarabello, A.C. Soterroni, et al., The impact of climate change on Brazil’s agriculture, Science of the Total Environment (2018). (Natália Sayuri Lara/Superinteressante)

Outras culturas essenciais serão afetadas da mesma maneira. Uma em cada três xícaras de café da Terra vem de solo brasileiro. No estado de São Paulo, onde ficam 10% das plantações do país, 35% da área cultivada já foi perdida para cana-de-açúcar e seringueiras, plantas mais tolerantes ao calor, entre 1998 e 2008. Até 2050, o IPCC calcula que a produção paulista vá cair 60%, e o prejuízo será de US$ 300 milhões. Em Goiás, mais ao norte, o café se tornará completamente inviável. As áreas de cultivo na Região Sul podem crescer um pouco com um calorzinho extra, mas não o suficiente para compensar as perdas. Para não falar no risco de eventos extremos na outra ponta do espectro, como geadas. Num cenário mais pessimista (e realista) do IPCC, o Brasil perderia 30% da área cultivada até 2070. 

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O grosso do abastecimento das cidades brasileiras não vem do agronegócio, que exporta muito e alimenta o gado com os grãos, e sim de pequenos e médios produtores, que fornecem frutas e hortaliças para as feiras e supermercados. Sementes com genoma editado não são baratas nem acessíveis, e nem todas as culturas recebem os mesmos investimentos. Ou seja: mesmo que a biotecnologia crie uma soja capaz de tolerar temperaturas inéditas, o aquecimento global ainda vai afetar preços muito mais próximos de nós que as cotações das commodities

Nadando em problemas

O Brasil possui a maior reserva de água doce do mundo: 12% do total. É mais do que continentes inteiros: Europa e África ficam com, respectivamente, 7% e 10%. Somos o poço artesiano da Terra. O Brasil também é movido a água. Nossa matriz energética é 63,8% hidrelétrica, 9,3% eólica e 8,9% biomassa ou biogás. Essa preponderância de fontes renováveis é raríssima no resto do mundo, que gera sua energia elétrica majoritariamente com carvão (38% da matriz mundial) e gás natural (23%). 

O que leva à pergunta: como acabamos com uma crise hídrica em 2021 – e contas de luz homéricas? Os reservatórios do Sudeste e do Centro-Oeste, que respondem por 70% da geração de energia do país, estão com 23% da capacidade de armazenamento, nível menor que o de agosto de 2001, quando houve um célebre apagão. Não é só culpa da gestão: também há, de fato, menos água caindo do céu. 

Começando pelo básico: massas de ar quente são menos densas e gostam de subir – enquanto porções de ar frio, mais densas, preferem descer. Assim se forma o vento. O ar que envolve a Terra circula em modelos previsíveis, porque a temperatura de cada lugar em cada época do ano segue padrões. O problema do aquecimento global é que ele não é um fenômeno uniforme: alguns lugares esquentam mais do que outros – o que mexe com a circulação dos ventos. 

O inverno seco nas regiões Sul e Sudeste do Brasil ocorre por causa de uma zona de alta pressão atmosférica que se forma no centro do Oceano Atlântico, a meio caminho entre nosso litoral e a África. Zonas de alta pressão, via de regra, são ruins em formar nuvens. Rendem pouca chuva. Com o aquecimento global, essa zona está sendo empurrada para mais perto do litoral brasileiro no inverno, e passando mais tempo por aqui. Daí os reservatórios minguados. 

“No Sudeste, depois daquela seca entre 2014 e 2015,  vem chovendo menos, em média”, diz Tercio Ambrizzi, vice-diretor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP. Ele também explica que, em longo prazo, o desmatamento da Amazônia vai reduzir umidade que os ventos oriundos da floresta carregam para o resto do país – e piorar ainda mais a situação. 

Pode faltar água doce, mas a salgada vai sobrar: com o derretimento do gelo nas regiões polares, o nível do mar já subiu 20 cm desde 1900, e pode chegar a 2 m até o ano 2300. Isso na melhor das hipóteses. Na pior, dá para chegar a essa marca ainda neste século, e bater 15 m em três séculos. O IPCC mostrou que, para cada 1 °C de aumento na temperatura global, a pesca mundial poderia diminuir 4%, já que os peixes saem de suas regiões típicas conforme a água esquenta. Na costa, a coisa não é muito melhor: de 1928 a 2016, houve 238 eventos extremos, como ressacas e marés altas anômalas, só no litoral de São Paulo. 61,4% deles aconteceram após o ano 2000.

A cidade de Santos (SP), que abriga o maior porto da América Latina, foi a representante brasileira em um estudo internacional sobre o impacto do aumento do nível do mar em cidades costeiras, batizado de Projeto Metrópole. O aumento de 36 cm no nível do mar previsto até 2050 – combinado ao problema já existente de erosão da faixa de areia, cada vez mais estreita não só em Santos como em 52% das praias paulistas – deve gerar um prejuízo de no mínimo R$ 1,5 bilhão só em imóveis inutilizados caso as autoridades não tomem nenhuma providência.

Medidas de contenção, como construção de muros dentro d’água (para represar o avanço do mar), aumentar artificialmente a largura da faixa de areia e cuidar dos manguezais – que seguram o solo no lugar –, custariam mais ou menos R$ 300 milhões. É cinco vezes mais barato prevenir do que remediar. Mas mesmo o remédio precisa ser cuidadoso.

Um argumento contra os muros é que eles atrapalham as células de deriva litorânea, responsáveis pelo transporte de sedimentos ao longo da extensão da praia. Sabe quando você dá mole no mar e, de repente, ele te levou pra longe do seu guarda-sol? É esse movimento. Um montão de bichinhos e areia vão junto. “A alimentação artificial da praia, trazendo areia de outros lugares, é muito melhor que fortificar”, diz Celia Gouveia, pesquisadora do Instituto Geológico de São Paulo que participou do Projeto Metrópole. “Nós protegemos a praia, e então ela protege o continente contra a erosão, ondas, marés e eventos extremos.”

Da ciranda dos biomas à erosão das praias, passando pela crise na agricultura, o aumento das doenças transmitidas por mosquitos e problemas respiratórios decorrentes da poluição, nenhuma das conclusões narradas neste texto é inteiramente uma novidade. 14 mil artigos científicos depois, nossos dados sobre as mudanças climáticas e suas consequências estão mais detalhados e precisos do que nunca, mas as conclusões, em linhas gerais, não são tão diferentes das edições anteriores: a Terra está cada vez mais quente, esse calor é culpa da ação humana, nós já estamos  do que nunca. Sabe-se agora que já estamos encarando as consequências das mudanças no clima, e que algumas delas são irreversíveis – mesmo que todos os carros, termelétricas e bois do mundo desaparecessem da noite para o dia.

O mundo entrará num descompasso cada vez maior com as necessidades dos seres vivos, e economizar água ou andar de bicicleta, sozinhos, farão só cócegas no problema: precisamos de políticas públicas de verdade, baseadas em evidências científicas, para usar melhor o solo no campo, preservar os ecossistemas e tornar as cidades mais saudáveis. Todo mundo já está careca de ouvir a palavra “sustentabilidade”. As soluções já existem no papel. É hora de colocá-las em prática.

Consultamos: Jean Pierre Ometto (INPE), autor-líder de dois capítulos do IPCC Grupo 2; Mariana Moncassim Vale (UFRJ), envolvida em dois capítulos do IPCC Grupo 2; Jesem D. Y. Orellana (Fiocruz), Patricia Morellato (Unesp); Christovam Barcellos (Lis/ICICT); Tatiane Moraes (Fiocruz); Juliana Mori (InfoAmazonia); Mercedes Bustamante (UnB), autora do capítulo “Agricultura, silvicultura e outros usos da terra” do IPCC Grupo 3; Aliny Patricia Flauzino Pires (UERJ); Rafaela Flach (Universidade Tufts, EUA); Celia Regina de Gouveia Souza (Instituto Geológico do Estado de São Paulo); Lincoln Alves (INPE), autor-líder do Grupo 1 do IPCC.

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