Cientistas acoplaram câmeras em golfinhos. Veja os vídeos que eles gravaram
As imagens incluem uma perseguição em alta velocidade e um menu que surpreendeu os pesquisadores.
Atenção: estes novos criadores de conteúdo têm o potencial de roubar toda a popularidade dos TikTokers de lifestyle. O grupo é composto por seis fofíssimos golfinhos americanos que viraram documentaristas por um dia, após a Marinha estadunidense acoplar câmeras em suas costas.
Os cetáceos surpreenderam os pesquisadores: realizaram uma série de perseguições emocionantes em alta velocidade, inclusive caçando cobras marinhas venenosas. Esses registros ajudam os cientistas a entender melhor como esses animais caçam e o que consomem.
O estudo foi publicado em 2022. O artigo descreve como, pela primeira vez, vídeos capturaram golfinhos-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) se alimentando de peixes vivos. Além disso, os cliques de sonar dos golfinhos foram detectados e reconhecidos como um tipo de GPS para localizar a presa. Ainda foi possível acompanhar os gritos de vitória após capturar a refeição – parecido com o som de alegria que você emite quando o garçom chega com seu pedido.
O set de filmagem foi a baía de San Diego, na Califórnia, onde os animais saem para nadar todos os dias. A National Marine Mammal Foundation (NMMF), uma das organizações responsáveis pela pesquisa, explica em seu site que “eles podem nadar para longe se quiserem, e, ao longo dos anos, alguns até fizeram isso. Mas quase todos permanecem por perto”.
Os seis golfinhos eram animais treinados para a identificação de minas submarinas e para a proteção do arsenal nuclear dos Estados Unidos, e foram selecionados como repórteres. Os equipamentos foram colocados nas costas ou nos lados dos golfinhos – oferecendo ângulos incomuns de seus olhos e bocas.
Embora os golfinhos sejam animais muito conhecidos, ainda há muitos aspectos básicos sobre eles que os cientistas não compreendem completamente, como as técnicas exatas de alimentação. Sabem-se, em termos gerais, que usam ao menos duas estratégias: sugam a presa como se fosse macarrão ou “atacam” o peixe de forma abrupta.
As imagens mostraram que os golfinhos preferem usar sucção – produzida pela expansão de suas gargantas e abertura dos lábios –para ingerir a presa, em vez de depender da técnica de ataque em velocidade, quando eles se lançam contra os peixes rapidamente.
Dianna Samuelson Dibble, pesquisadora da NMMF em San Diego e integrante da equipe do estudo, explicou que os golfinhos emitiam cliques (um de seus sons característicos) quase constantes a intervalos de 20 a 50 milissegundos.
Quando se aproximavam da presa, os intervalos encurtavam, dando lugar a um zumbido terminal seguido de um grito. Ao tocar o peixe, esses dois sons eram simultâneos até que o alimento fosse engolido. Durante as perseguições, era possível ouvir o batimento cardíaco dos golfinhos nos filmes, e os cientistas observaram como eles usavam os olhos para localizar os peixes quando chegavam perto.
A presa deles incluía peixes como achigãs, esperlanos, corvinas, linguados da Califórnia e peixes-cachimbo. Os esperlanos, em especial, deram um show por frequentemente saltarem da água enquanto eram perseguidos, o que fazia com que os golfinhos nadassem de cabeça para baixo para seguir a presa e capturá-la quando caía de volta na água.
A descoberta mais inesperada do estudo foi o consumo de serpentes-de-barriga-amarela-do-mar pelos golfinhos. Embora já tivesse sido observado que os cetáceos brincavam com as cobras, não se sabia que as comiam – aliás, eles parecem adorar a guarnição: um dos golfinhos foi visto consumindo oito cobras.
“O golfinho emitiu cliques ao se aproximar da cobra e depois a sugou com um movimento mais intenso da cabeça, enquanto a cauda da cobra se debatendo desaparecia e o golfinho emitia um longo grito,” relataram os cientistas no artigo, publicado no site PLOS ONE.
“Essa cobra tem o potencial de causar neurotoxicidade após a ingestão, e seu veneno é considerado bastante perigoso,” disse Barb Linnehan, diretora médica da NMMF, ao The Guardian. “Talvez, por as cobras ingeridas serem consideradas juvenis, elas possuíssem uma quantidade menor de veneno.”
“Esse golfinho não exibiu sinais de problemas na saúde após consumir as cobras pequenas,” explicaram os pesquisadores, mas reconheceram que isso também poderia ser um comportamento incomum, causado por serem animais criados em cativeiro. “Talvez a falta de experiência do indivíduo em se alimentar com grupos de golfinhos na natureza tenha levado ao consumo dessa presa atípica”, escrevem no estudo.
Brittany Jones, cientista da NMMF, disse ao jornal inglês: “Essas descobertas são uma adição incrível à literatura científica, oferecendo análises detalhadas durante a captura de presas no oceano aberto, o que seria muito difícil de alcançar com golfinhos selvagens”.
Assista ao vídeo: