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Cientistas encontram cérebro de caranguejo-ferradura de 310 milhões de anos

Órgãos internos são delicados e mais propensos à deterioração rápida. A descoberta do cérebro milenar revela um mecanismo de fossilização raro.

Por Luisa Costa
Atualizado em 25 jul 2022, 10h53 - Publicado em 23 ago 2021, 19h51

Vestígios como ossos, dentes e conchas de animais podem ser preservados em fósseis por milhões de anos. Já os tecidos moles, como os órgãos internos, são mais delicados e propensos à deterioração rápida, então é raro que sobrevivam para contar a história. Por isso, a descoberta recente de um cérebro de 310 milhões de anos em Illinois, nos Estados Unidos, animou os cientistas.

O cérebro pertenceu a um caranguejo-ferradura – que, apesar do nome, é uma espécie mais próxima das aranhas e dos escorpiões do que dos caranguejos em si. É o primeiro cérebro fossilizado já encontrado da espécie. A descoberta foi feita no depósito Mazon Creek, um local conhecido por abrigar registros geológicos do Período Carbonífero (de 360 a 290 milhões de anos atrás).

Como há poucos registros fósseis de tecidos moles de animais, os cientistas não sabem muito sobre a evolução e a própria fossilização desses tecidos. A nova descoberta, descrita em um estudo na revista Geology, preenche algumas das lacunas de conhecimento.

A preservação de tecidos moles precisa de condições especiais. Segundo Russel Bicknell, paleontologista da University of New England (UNE) e autor principal do estudo, boa parte do conhecimento sobre cérebros de artrópodes pré-históricos vem de fósseis preservados em âmbar. Os mais antigos datam de 230 milhões de anos atrás.

O cérebro do caranguejo-ferradura indica um modo de conservação diferente. O mineral siderita se acumulou ao redor do corpo do artrópode antes que os tecidos moles internos pudessem se decompor. Após a decomposição, um outro mineral de cor branca, chamado caulinita, ocupou o vazio deixado pelo cérebro, como se preenchesse um molde. “Sem este notável mineral branco, talvez nunca tivéssemos localizado o cérebro”, afirma John Paterson, paleontologista da UNE e co-autor do estudo.

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cérebro de caranguejo fossilizado em uma rocha
(Russell Bicknell/Reprodução)

A descoberta revelou outra coisa importante: o sistema nervoso central dos caranguejos-ferradura praticamente não sofreu alterações ao longo da evolução da espécie. “Tivemos um raro vislumbre do passado pré-histórico, o que nos permitiu aprofundar nossa compreensão da biologia e da evolução desses animais extintos há muito tempo”, afirma Paterson. Agora, os pesquisadores esperam encontrar mais exemplos de cérebros antigos bem preservados em outros fósseis do depósito de Mazon Creek. 

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