Cientistas envelhecem árvores de propósito
Método promete corrigir problema ambiental na Europa; veja por que.
Quando uma árvore fica muito velha, ela começa a apodrecer: fungos vão comendo a madeira, e formando cavidades no centro do tronco. É um processo natural e importante para o equilíbrio ecológico – estima-se que, em todo o mundo, milhares de espécies de pássaros, mamíferos e insetos dependam dele (porque se alimentam da madeira decomposta ou de larvas presentes nela).
Mas, segundo cientistas europeus, os troncos podres estão em falta. Árvores centenárias estão morrendo, e ainda não há plantas velhas em quantidade suficiente para alimentar os fungos.
Uma possível solução para o problema seria envelhecer artificialmente espécimes novas. A Super conversou com Lynne Boddy, micologista da Universidade de Cardiff (Reino Unido), que está desenvolvendo essa técnica.
Como é feito o envelhecimento artificial de uma árvore?
Primeiro, é preciso descobrir quais espécies de fungos realmente crescem nos troncos das árvores velhas. Aqueles que causam o apodrecimento do tronco, produzindo um bom habitat para [o surgimento de] outros organismos, são cultivados em laboratório, em blocos de madeira.
Aí nós fazemos buracos nos troncos de árvores novas, e encaixamos esses blocos colonizados [por fungos] neles. É o que chamamos de inoculação.
Como vocês escolhem as árvores?
Árvores antigas não devem ser inoculadas, porque a madeira de seus troncos centrais já começou a se deteriorar, e seria errado interromper as comunidades [de fungos] que se estabeleceram naturalmente nelas. As árvores adequadas para o processo são aquelas que ainda não estão totalmente amadurecidas.
A idade ideal [para a inoculação] varia entre as espécies, assim como a vida delas: os carvalhos costumam viver mil anos, por exemplo, mas a bétula vive de 125 a 150. Nós já inoculamos faias [árvores que vivem de 200 a 300 anos] com 50 a 60 anos de idade.
Há provas de que a técnica funciona?
Vamos levar de 20 a 30 anos para saber com certeza. No entanto, após três anos [dos primeiros testes], parece que conseguimos formar colônias de fungos no centro das árvores que inoculamos.
Além disso, outras espécies de fungo colonizaram naturalmente os buracos que fizemos. E exames de ultrassom mostraram que a densidade da madeira das árvores inoculadas está mudando – e que a decomposição [do tronco] está começando.