Cientistas finalmente resolvem mistério dos gatos laranjas
A origem da cor laranja nos gatos era um enigma sem resposta – até agora. Duas pesquisas revelaram a razão genética dessa coloração. Entenda.
Ser dono de um gato laranja vem com algumas implicações. Primeiro: você quase garantido terá um animal carinhoso, mas ao mesmo tempo terá que se preocupar com a segurança dos malucos, que constantemente testam quantas vidas um gato tem. Segundo: ele provavelmente será um gato macho. Até recentemente, não se sabia o motivo pelo qual esses animais são laranjas.
Para além, não se sabia por que os machos geralmente são laranja de uma só cor, enquanto as fêmeas laranjas costumam ser calicos (ou tricolor) e “escama de tartaruga”. Agora, duas equipes diferentes de cientistas descobriram (coincidentemente, ao mesmo tempo) qual a origem genética da mutação das cores.
Aqui vale uma explicação genética básica, que te lembrará dos anos de ensino médio: machos possuem cromossomos XY; e fêmeas, XX. A coloração da pelagem é dependente desses cromossomos. A cor preta e a laranja estão ligadas ao X.
Como os machos só herdam um cromossomo X, eles só podem ser ou pretos ou laranjas, a não ser em casos de problemas genéticos. Já as fêmeas podem herdar duas cores de pelagem por ter dois cromossomos X. É por isso que gatinhos multicolor (filhotes do cruzamento entre um gato preto e um laranja) são sempre fêmeas.
Por existirem gatinhas fêmeas com um pouco de laranja, sugere-se que o gene dessa cor está presente em um dos cromossomos X. Apenas um dos dois Xs é ativo em cada célula, o que cria manchas pretas e laranjas em gatas tricolores e escama de tartaruga. Os gatos machos são completamente laranjas pois herdam apenas um cromossomo X, cujo gene é ativado em todas as células de pelagem.
É o que acontece com o Garfield ou o Gato de Botas, por exemplo. Dá para concluir que ambos os personagens tinham mães com manchas laranjinhas e herdaram o cromossomo X que diz respeito ao ruivo. Já as gatas calico têm pelo branco por um mecanismo adicional que bloqueia a produção de pigmento em algumas células.
O laranja na maioria dos mamíferos é causado por mutações no gene Mc1r, que faz as células da pele produzirem pigmento vermelho-amarelado em vez de pigmento escuro. Mas isso não explica de onde vem o ruivo nos gatos, já que essa mutação não é encontrada nos felinos. “Tem sido um mistério genético, um enigma”, diz Greg Barsh, geneticista da Universidade de Stanford e autor de uma das pesquisas, para a revista Science.
Como resolver o mistério?
Os dois times tiveram caminhos similares para chegar à descoberta. Primeiro, o time de Barsh reuniu amostras de pele de quatro gatos laranjas e de quatro fetos não-laranjas.
Pesquisadores descobriram que os melanócitos (células de pigmentação) de gatos laranja produzem muito mais RNA de um gene chamado Arhgap36. Porém, ao analisar o gene, não encontraram mutações que alterassem a proteína, mas sim uma região de DNA ausente que pode regular a produção dela. Essa mutação foi encontrada em todos os gatos laranja, calico e tartaruga. A descoberta ainda não foi revisada por pares, mas o preprint está disponível no repositório bioRxiv.
O outro time de cientistas realizou uma pesquisa parecida, que confirmava o trabalho da equipe de Barsh. O biólogo Hiroyuki, com a universidade japonesa de Kyushu, revelou a mesma ausência genética em 24 gatos selvagens e de estimação – e em outros 258 genomas de gatos coletados ao redor do mundo.
A conclusão foi que, em gatos calicos, o gene Arhgap36 é mais ativo nas regiões laranja da pele do que nas regiões preta ou marrom. Esse gene, presente também em camundongos e humanos, passa por inativação do X em fêmeas – ou seja, um dos dois cromossomos X é silenciado.
O Arhgap36 tem um papel crucial no desenvolvimento embrionário, e mutações que afetem sua função geralmente são fatais em outros animais. No entanto, a mutação deletéria específica nos gatos afeta apenas sua função nos melanócitos. Como resultado, esses gatos permanecem saudáveis e exibem seus padrões de pelagem distintos.
Aí entra outra informação curiosa: essa mutação aumenta, e não diminui, a atividade do gene, sugerindo que os gatos podem ter características genéticas únicas.