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Cola neandertal de 200 mil anos é exemplo mais antigo de indústria química

O alcatrão de bétula – usado para colar cabos de osso a lâminas – era produzido por meio de um complexo processo de destilação, 100 mil anos anterior a qualquer técnica similar usada pelo sapiens.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 1 jun 2023, 18h10 - Publicado em 1 jun 2023, 18h08

O uso de ferramentas é um sinal de inteligência razoavelmente comum entre animais não humanos. Lontras carregam pedras para abrir conchas de mariscos. Corvos gostam de larvas no espeto, como marshmallows. Polvos andam com cascas de coco nas costas para proteger seus corpos moles. 

Todos esses objetos, porém, são usados da maneira que os animais os encontram na natureza, sem modificações. Alguns macacos quebram e afiam pedras para torná-las pontiagudas, é fato. Mas isso é o mais próximo que nossos primos peludos chegam de ter uma indústria, ou seja: um processo padronizado de transformação de matéria-prima em manufatura.

Pesquisadores da Univerdade de Tübingen, na Alemanha, investigaram restos de uma substância chamada alcatrão de bétula, que era usada como cola pelos neandertais – humanos de uma espécie extinta, diferente do sapiens, que surgiu a 400 mil anos, conviveu e se reproduziu conosco, e desapareceu há 30 mil anos. As amostras vieram de um sítio arqueológico na própria Alemanha. 

O alcatrão – que servia para unir um cabo de osso ou madeira a uma lâmina de pedra, por exemplo – era impermeável e não apodrecia. Esse adesivo pré-histórico é o exemplo mais antigo de indústria química no registro arqueológico, 100 mil anos anterior a qualquer outro desenvolvimento científico-tecnológico similar por parte do sapiens

Já se sabe há décadas que os neandertais usavam essa gosma preta para construir ferramentas, mas o passo a passo usado para sintetizá-lo ainda era um mistério. Havia a possibilidade, mais trivial, de que o alcatrão aparecesse espontaneamente em fogueiras apagadas, dependendo dos materiais envolvidos na queima.

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O que os pesquisadores de Tübingen relatam, em um artigo publicado em 22 de maio, é que nossos primos pré-históricos na verdade optavam por um método complexo, que consiste em destilar a casca de uma árvore, a bétula, em um buraco no chão, com o menor contato possível com o ar (o ideal é um frasco selado, mas essa obviamente não era uma possibilidade na época).

Os arqueólogos descobriram isso porque recriaram vários processos em laboratório para comparar a composição química das amostras geradas hoje com o alcatrão neandertal. Por exemplo: quando a gosma tem mais oxigênio, é um sinal de que ela foi produzida ao ar livre, por um processo mais rudimentar. Amostras com menos oxigênio, por outro lado, são geradas em buracos, mais próximos das condições ideais.

Bingo: a vocação alemã para química, pelo jeito, é coisa muito antiga.

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