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Com terapia genética, cientistas restauram parcialmente a visão de homem cego

A partir da terapia optogenética, adicionou-se proteínas sensíveis à luz na retina do voluntário. É a primeira vez que uma recuperação parcial é bem-sucedida.

Por Luisa Costa
27 Maio 2021, 15h40

Recentemente, uma equipe de cientistas conseguiu restaurar parcialmente a visão de um homem cego a partir de estimulação luminosa e da construção de proteínas que captam a luz em um de seus olhos. É a primeira vez em que a técnica, chamada de terapia optogenética, conseguiu alcançar a recuperação parcial funcional da visão.

O voluntário do estudo, publicado na última segunda (24) na revista Nature, é um homem de 58 anos que mora na França e ficou cego por conta de uma doença neurodegenerativa dos olhos, a retinite pigmentosa. Esta é uma doença que afeta os fotorreceptores, células responsáveis por captar a luz que chega aos nossos olhos. A perda delas pode levar à cegueira completa.

Quando as células fotorreceptoras captam a luz, elas enviam sinais elétricos para as células ganglionares, que identificam movimento e outros aspectos importantes. Estas, por sua vez, também enviam sinais ao nervo óptico, que leva todas as informações obtidas ao cérebro. 

Para consertar a ausência de fotorreceptores causada por doenças, José-Alain Sahel, autor principal do estudo, e outros cientistas têm utilizado a terapia optogenética para transformar células ganglionares, que normalmente não captam luz, em fotorreceptoras.

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No estudo, os pesquisadores injetaram um vírus em um olho do voluntário. O vírus portava genes com as informações necessárias para fabricar proteínas sensíveis à luz âmbar – mais adequada ao delicado tecido da retina – nas células ganglionares. Eles também criaram um óculos de proteção capaz de transformar as informações visuais do mundo externo em luz âmbar, para que as células ganglionares pudessem identificá-las. Após receber a injeção, o voluntário treinou junto aos cientistas para usar o óculos e, assim, usou-o por sete meses.

O paciente relatou sinais de melhora em sua visão; os pesquisadores, então, realizaram mais uma sequência de treinamentos e testes. Em um primeiro momento, o voluntário tinha que perceber, localizar e tocar um livro e uma caixa de grampos. Ele teve sucesso com o objeto maior, encontrando-o em 92% das tentativas. Já a pequena caixa foi um teste mais desafiador: ela foi encontrada em 36% das vezes.

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O voluntário realizou ainda outros exercícios, como contar quantos copos havia em uma mesa – em 63% das tentativas, ele conseguiu. Além disso, ele precisou indicar se um copo estava ou não em uma mesa enquanto o objeto era alternadamente colocado e retirado de lá. Nos testes, sua atividade cerebral era registrada a partir de um capacete de eletrodos.

Depois dos resultados positivos, os pesquisadores querem continuar a estudar a terapia optogenética. A ideia é que, a partir do desenvolvimento de mais pesquisas e testes, a técnica possa oferecer tratamentos eficazes para a cegueira.

Mas calma: é algo que vai demorar a ser oferecido. Por ora, os pesquisadores estão recorrendo a outros voluntários para treiná-los, testar doses mais altas do vírus e atualizar os óculos de proteção. “Esses resultados não são um ponto final para os anos de estudo, mas constituem um marco importante” afirmou Sahel ao New York Times.

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