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Como o desmatamento ilegal alimenta os incêndios na Amazônia

O engenheiro florestal Rubens Benini explica à SUPER por que a remoção da floresta de um local aumenta o risco de fogo espontâneo na vegetação nativa que resta nas redondezas.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 12 mar 2024, 14h43 - Publicado em 23 ago 2019, 20h24

76720 é o número de focos de incêndio registrados desde o início de 2019 até o dia de hoje (23). O número é atualizado todos os dias. De ontem para hoje, mais de mil novos focos foram computados. O valor já é 85% maior que o do mesmo período do ano passado. Metade desses focos estão na Amazônia. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e podem ser acompanhados diariamente, nos mínimos detalhes, por meio do Programa Queimadas.

Primeiro, é importante lembrar que essa situação não é incomum. A foto ali em cima, por exemplo, foi tirada no Acre dois anos atrás. Todos os anos, entre junho e novembro, a Amazônia passa por seu período de seca, e os incêndios florestais são parte natural dele. O que chama a atenção, neste ano, é a rapidez com que os incêndios estão crescendo em comparação ao mesmo período dos últimos anos. Só na semana passada, surgiram 9 mil novos focos no país, o maior índice desde 2013.

Se voltarmos um pouquinho no tempo, encontramos precedentes para a situação atual. Em 2007, por exemplo, foram registrados 394 mil focos de incêndio no país ao longo do ano. De 1998 até hoje, a média de focos de incêndio registrados no mês de agosto é de 46 mil. Ainda estamos abaixo desse número, com 38 mil focos até agora. O que preocupa os ambientalistas é que estamos apenas no início do período de seca. Ou seja: a marca tem bastante tempo para aumentar. 

O engenheiro florestal Rubens Benini é líder de restauração florestal da The Nature Conservancy da América Latina, uma organização global de preservação ambiental. Ele explicou para a SUPER em que aspectos a situação atual é normal – e em que aspectos ela não é. 

Por que a estiagem deste ano é mais preocupante que a dos outros anos?

O primeiro fator é que a temperatura do planeta está aumentando. Julho de 2019 foi o mês mais quente da história da humanidade.

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O segundo é o sentimento de impunidade dos proprietários de terra e de criminosos que praticam, por exemplo, grilagem [o crime de falsificar documentos para conseguir posse sobre um terreno]. Eles se sentem incentivados a praticar crimes ambientais porque a atuação de órgãos de controle federais e estaduais está bem menos severa. O enfraquecimento da fiscalização é um fator importante.

Anos como 2005 e 2007 também registraram números alarmantes. As causas foram diferentes?

Os anos em que houveram grandes focos de incêndio, como 2005 e 2007, foram anos de El Niño. Ou seja, são anos com períodos de estiagem mais longos. Havia um intervalo maior entre uma chuva e outra. Este ano não está sendo tão severo. O período de estiagem não é tão grave. O que ajuda a ter uma noção da parcela dos incêndios que tem motivação criminosa. 

Como nós sabemos que os incêndios são majoritariamente culpa da ação humana, e não fenômenos naturais? 

É assim: quando a floresta é cortada para dar lugar à agropecuária, acabam surgindo pequenas ilhas de floresta, chamados tecnicamente de fragmentos florestais. Como esses fragmentos estão isolados, as bordas deles ficam expostas. A luz solar e o vento entram com muito mais força pelos cantinhos. Isso diminui a umidade e aumenta a temperatura desses pedaços de floresta, o que aumenta o risco de incêndio. A gente chama isso de “efeito de borda”. Não é coincidência que os dez municípios mais desmatados foram também os que tiveram mais focos de incêndio. 

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Qual é a tendência para o resto da temporada de seca?

Historicamente, os maiores focos de incêndio ocorrem nos próximos meses, os mais quentes.

O que fazer para evitar o aumento dos incêndios?

Primeiramente, punir os criminosos e aumentar a fiscalização. Outro ponto é não recusar ajuda nenhuma. Se nós não temos capacidade de combater os incidentes na velocidade em que eles ocorrem, nós devemos aceitar ajuda. Eu tenho pensado muito nessa situação nos últimos dias. Nós ainda estamos dentro da média para o mês de agosto, mas alguma coisa chamou a atenção: apesar de vivermos em uma era de tecnologia, foi um sinal de fumaça que fez o mundo abrir os olhos para a Amazônia. 

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