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Como o homem transformou lobos em cachorros

A natureza fez os lobos. Mas foi o contato com os humanos que fez alguns deles virarem nossos cachorros.

Por José Francisco Botelho
Atualizado em 29 out 2020, 17h33 - Publicado em 31 Maio 2019, 19h13

O cão não é apenas o melhor amigo do homem, mas uma de nossas mais longevas invenções. Há controvérsias sobre muitos detalhes dessa história. Entretanto, uma coisa é certa: o cachorro como o conhecemos não existiria sem a mão do Homo sapiens.

Tudo começa com o hesperocyon (“cão do Ocidente”), o mais antigo canino conhecido. Ele viveu na América do Norte há 37 milhões de anos. Tinha cerca de meio metro de comprimento, cauda longa e dentes afiados, próprios para rasgar carne e triturar ossos. Apesar disso, vivia fugindo de predadores maiores. Mas o ágil tataravô dos cães soube se adaptar às dificuldades e deu origem a uma enorme variedade de descendentes.

Um deles foi o eucyon (“cão verdadeiro”), surgido há 9 milhões de anos, também na América do Norte. Media de 40 cm a  1 metro de comprimento e pesava em torno de 9 kg. Lobos, coiotes e chacais teriam o eucyon como ancestral em comum. Aliás, os lobos vagaram selvagens por 8 milhões de anos até encontrarem os primeiros humanos – provavelmente, do outro lado do Atlântico. E é a partir daí que as teorias científicas divergem de forma mais drástica.

O mais antigo fóssil conhecido de um cão doméstico (Canis lupus familiaris) é uma mandíbula de 14.700 anos, achada na Alemanha. Em Israel, arqueólogos descobriram uma tumba de 12 mil anos contendo ossos de um homem e de um filhotinho de cachorro. Essas evidências demonstram que o cão foi o primeiro animal – e o único carnívoro de grande porte – domesticado pelo ser humano. Mas ainda não se sabe quando e onde isso aconteceu. “Os cães surgem de uma população de lobos-cinzentos que parece já ter sido extinta. Não há registros arqueológicos deles”, diz Greger Larson, diretor do Centro de Bioarqueologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

De acordo com um estudo de 2016, da própria Universidade de Oxford, os cães de hoje descendem de dois grupos de lobos separados por milhares de quilômetros: um bando teria vivido na Europa, outro no Leste Asiático. Nesse caso, os humanos primitivos teriam domesticado o lobo não uma, mas duas vezes – o que explicaria a diferença genética entre as raças caninas do Extremo Oriente e aquelas surgidas em outras regiões.

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Em 2018, no entanto, uma pesquisa da Universidade Stony Brook, dos Estados Unidos, afirmou que todos os cães vêm de um único grupo de lobos, domesticados na Europa entre 40 mil e 20 mil anos atrás. A conclusão baseou-se no DNA dos ossos de três cachorros, desenterrados na Alemanha.

Uma das teses é de que os lobos menos ariscos se aproximaram de grupos de caçadores humanos para se alimentar dos restos deixados por eles. Já os homens perceberam que ter lobos por perto era uma proteção contra ataques de animais maiores. A relação de ajuda mútua foi firmada daí em diante. Os filhotes das gerações seguintes deixaram de caçar sozinhos e passaram a se alimentar apenas em cooperação com os novos companheiros.

Milhares de anos depois, os grupos nômades se tornaram sedentários e adotaram a agricultura como sustento. Também começaram a criar rebanhos – como ovelhas e bois. E o cão, mais uma vez, precisou se adaptar: de caçador, tornou-se pastor. Os humanos passaram a selecionar cães fortes, mas menos propensos a atacar outros animais domésticos – e com maior habilidade para interagir com os donos.

Atualmente, a Federação Internacional de Cinologia (WCO, na sigla em inglês) reconhece a existência de 344 raças. A herança ancestral está presente em cada uma delas. Todos os cães carregam 98% do DNA dos lobos. É um percentual alto, mas inferior à semelhança genética entre humanos e chimpanzés (98,4%). E nós não somos exatamente idênticos aos macacos. Ainda assim, os cães de hoje em dia conservam muita coisa daquelas feras misteriosas que rondavam as fogueiras humanas nas noites da Idade da Pedra.

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(Alexandre Jubran/Superinteressante)

O au-au

A seleção genética conduzida pelo homem fez com que os cachorros adultos desenvolvessem a mais canina das peculiaridades: o latido. Entre os lobos, apenas filhotes latem. Os cães passaram a usar o latido para alertar os donos ou assustar os inimigos.

Diluídos no tempo

A mistura também levou à extinção de várias raças. Um exemplo é o talbot, um cão popular na Idade Média. O cachorro é visto no brasão de diversas famílias nobres da época. Após sucessivos cruzamentos, a raça sumiu no século 16. O talbot é considerado um ancestral do beagle.

Velha guarda

Algumas raças existem desde priscas eras. O cão-cantor-da-nova-guiné é um exemplo. Estima-se que o cachorro exista há mais de 5 mil anos. A raça ficou isolada em ilhas da Oceania e foi descoberta na década de 1950. Ela uiva em diferentes tons, daí o nome.

Quase lobos

Em 2014, uma pesquisa do National Human Genome Institute, dos EUA, especializado em mapeamento genético, avaliou 85 raças para saber quais tinham o DNA mais semelhante ao dos lobos. O shiba inu, um cão ancestral japonês, ficou em primeiro. Logo depois vieram o chow-chow, da China, e o também japonês akita.

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