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Como pontes de cordas podem salvar o primata mais raro do mundo da extinção

Só há 30 gibões-de-hainan vivos no mundo, e cientistas vem se esforçando para salvar a espécie. A sua mais nova estratégia é simples, barata – e eficaz.

Por Bruno Carbinatto
15 out 2020, 21h34

Para os gibões, primatas que habitam o sul da Ásia, escalar e viver nas copas das árvores é tão natural quanto caminhar para os humanos. Mas a simples missão de se deslocar de um ponto ao outro pode virar um desafio quando há lacunas abertas no meio de florestas em que simplesmente não há árvores. Talvez isso fosse apenas um detalhe, se não fosse por um problema: só há 30 gibões-de-hainan (Nomascus hainan) vivos em todo o mundo. É a espécie de primata mais rara e ameaçada do mundo.

Na tentativa de salvá-los, cientistas criaram um novo método para ajudar os gibões-de-hainan a se locomover. E ele não é nada complicado ou caro: consiste apenas em amarrar cordas entre árvores distantes, criando uma ponte entre florestas isoladas.

Todos os 30 gibões-de-hainan existentes vivem na Reserva Natural Nacional Bawangling, na ilha de Hainan, China. Apesar de atualmente preservada, as florestas da região possuem lacunas entre si, seja por clareiras naturais, desastres climáticos (como um tufão que atingiu o local em 2014) ou por resquícios de desmatamento do passado. Os gibões, por sua vez, não gostam de se aventurar por terra firme, e a maioria passa quase toda a vida nos galhos das árvores, saltando entre elas. Os machos adultos conseguem saltar distâncias maiores e vencer obstáculos desafiadores, mas as fêmeas e os filhotes geralmente vivem isolados quando há trechos sem árvores para se locomover.

Limitações no ambiente de deslocamento, por sua vez, restringem as opções de se conseguir comida e até de achar um parceiro sexual – dois fatores essenciais para se manter uma espécie que têm apenas três dezenas de representantes. Por isso, cientistas de Hong Kong responsáveis pela conservação dos gibões querem reflorestar toda a região com fartura de árvores.

Mas isso é um objetivo a longo prazo. Até lá, eles tiveram outra ideia: amarrar cordas entre trechos distantes das florestas, separados por lacunas sem árvores, para permitir que os primatas se locomovam. A estrutura de locomoção construída se estende por mais de 15 metros e é formada por várias cordas, uma próxima da outra.

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Pode parecer uma ideia boba ou até óbvia, mas não é tão simples assim. Alguns primatas simplesmente nunca se acostumam com construções artificias, como pontes feitas de cordas, e por isso ninguém sabia se os gibões as atravessariam. De fato, demorou seis meses até que os primatas começassem a experimentar a nova conexão – mas deu certo.

Os cientistas filmaram e fotografaram 52 situações em que gibões cruzaram as pontes. Na maioria das vezes, os primatas andavam sobre uma das cordas enquanto apoiavam as mãos em outra. Em algumas ocasiões, eles apenas se penduravam com os braços em uma das cordas, ou se agarravam com os quatros membros a ela, como um bicho-preguiça faz. O mais ousado deles foi avistado atravessando andando, como em uma corda-bamba.

No passado, estratégias parecidas foram usadas para ajudar outros animais a se locomover por florestas com lacunas, como orangotangos e lóris (um outro tipo de primata). No estudo descrevendo sua intervenção, a equipe sugere que o uso dessas pontes é uma solução bastante viável para ajudar espécies que vivem em áreas de florestas fragmentadas, desde que seja aplicada juntamente à reflorestação.

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Existem 20 espécies de gibão no mundo, e todas estão ameaçadas em algum grau, devido à caça, desmatamento e tráfico de animais. No caso dos gibões-de-hainan, a situação é urgente, mas há esperanças: em 2003, só havia 13 desses animais vivendo na ilha chinesa. Agora, graças à ciência e aos esforços dos grupos de conservação, esse número subiu para 30, e espera-se que continue aumentando.

 

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