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Conheça a cientista que faz autópsias de vítimas da covid-19

No #MulherCientista dessa semana, Marisa Dolhnikoff explicou como os mortos da pandemia são embalados em plástico e investigados com agulhas de biópsia e ultrassom para garantir a segurança dos profissionais de saúde.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 5 set 2020, 10h38 - Publicado em 4 set 2020, 14h46

Desde o início da pandemia, uma das principais preocupações é com a segurança dos profissionais de saúde. Eles usam os equipamentos de proteção individual enquanto estão cuidando de um paciente infectado, é claro. Mesmo assim, mais de 7 mil já padeceram, no mundo todo, à doença que tentavam combater. 

Diante do perigo, como um legista pode fazer uma autópsia nos mortos pelo novo coronavírus sem expôr? Esses procedimentos são essenciais para entender como a covid-19 se manifesta em todo o corpo, para além dos sintomas respiratórios. O ideal é que a autópsia aconteça até dez horas após a morte do paciente – depois disso, os tecidos começam a se degradar. 

A solução foi desenvolver autópsias minimamente invasivas, onde não há contato direto com o corpo do indivíduo. O cadáver fica envolto em um revestimento plástico. Em vez de abri-lo, os pesquisadores fazem biópsias para coletar o tecido de diferentes órgãos e analisá-los. A agulha e o transdutor de ultrassonografia são os únicos equipamentos que tocam no corpo.

Marisa Dolhnikoff fez a autópsia do primeiro paciente que morreu por covid-19 no Hospital das Clínicas da USP, ainda em março. Na época, seu grupo de pesquisa era um dos primeiros no mundo a fazer autópsias de pessoas contaminadas pelo Sars-Cov-2.

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Eles também estão entre os pioneiros em identificar a trombose de vasos pulmonares desses pacientes. Hoje, por causa dessa e outras pesquisas feitas em paralelo ao redor do mundo, já está bem estabelecido que a hipercoagulação e as tromboses são alguns dos quadros causados pela covid-19.

Os coágulos ou trombos sanguíneos se formam tanto no pulmão quanto em outros órgãos, bloqueando a circulação do sangue. Eles causam desde sintomas mais leves, como uma vermelhidão nos dedos do pé, até os mais graves, como insuficiência respiratória. Apesar do paciente sentir o ar entrando e saindo do pulmão, os coágulos atrapalham as trocas gasosas no sangue, e o oxigênio não consegue ser distribuído pelo corpo.

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Marisa é pesquisadora do grupo de autópsias da Faculdade de Medicina da USP, onde dá aula há 30 anos. Ela também é médica especializada em patologia pulmonar, e estuda doenças como bronquite, asma e infecções pulmonares. Na epidemia de febre amarela em 2018, ela também fez autópsias minimamente invasivas nas vítimas, para estudar os efeitos da doença nos pulmões.

A pesquisadora já estudou mais de 60 corpos por meio das autópsias ao longo da pandemia de covid-19. Recentemente, ela publicou um artigo no periódico The Lancet Child and Adolescent Health, em que descreve um caso de morte por falência cardíaca em uma criança. Por meio da autópsia, o grupo foi o primeiro a encontrar o vírus Sars-Cov-2 diretamente no tecido do coração. Essas descobertas são essenciais para entender os efeitos da nova doença e propor tratamentos cada vez mais eficazes aos pacientes.

Quem acompanha o Instagram da SUPER já conhece o #MulherCientista: a seção em que nós explicamos a vida e obra de mulheres lendárias (e esquecidas) do mundo acadêmico. Agora, em vez de contar a história de mulheres do passado, nossa repórter @m.clararossini vai entrevistar cientistas brasileiras do presente – e entender suas contribuições para um país em que a ciência anda tão negligenciada. Esses posts vão passar a aparecer também no nosso site. Este é o quarto da série. Até o próximo final de semana! 

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