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Conheça a cientista brasileira que estuda os efeitos da poluição na fertilidade

No #MulherCientista desta semana, conversamos com Mariana Matera Veras, chefe do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP.

Por Maria Clara Rossini
21 ago 2020, 19h54

Quem acompanha o Instagram da SUPER já conhece o #MulherCientista: a seção em que nós explicamos a vida e obra de mulheres lendárias (e esquecidas) do mundo acadêmico. Agora, em vez de contar a história de mulheres do passado, nossa repórter @m.clararossini vai entrevistar cientistas brasileiras do presente – e entender suas contribuições para um país em que a ciência anda tão negligenciada. Esses posts vão passar a aparecer também no nosso site. Este é o segundo da série. Até o próximo final de semana! 

Engravidar é um processo complicado. No período fértil, que só acontece uma vez a cada mês, o ovário libera óvulos. A mulher já nasce com todos os gametas de que poderá dispor ao longo da vida, mas só vai liberando eles aos poucos, da puberdade até a menopausa.

Nesse meio tempo, se o casal tiver relações na data certa, um desses óvulos pode ser fecundado por um espermatozoide. Se isso acontecer, ainda não há garantia de que a gravidez vai pra frente – o embrião ainda precisa aderir à parede do útero.

A mulher só pode se considerar grávida se tudo isso ocorrer direitinho. Alguns casais passam anos tentando, sem sucesso. E um fator onipresente na grandes cidades pode estar por ser parcialmente responsável por essa dificuldade: a poluição atmosférica.

Mariana Matera Veras é chefe do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP. Começou seu trabalho estudando a influência da poluição na gestação. Mães que passam a gravidez em ambientes poluídos têm mais chances de dar luz a bebês de baixo peso, com complicações como doenças cardiovasculares ou diabetes.⠀

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Como é difícil controlar todas as variáveis em estudos com gestantes humanas, a cientista realiza seus experimentos com camundongos fêmeas. Em um experimento, ela acompanhou o desenvolvimento de três gerações de roedoras, da avó até a neta. Algumas delas passaram a vida em um ambiente poluído, enquanto outras puderam ficar em um ambiente com ar limpo.

Os resultados foram surpreendentes: na transição da segunda para a terceira geração de camundongos, a fertilidade das fêmeas expostas à poluição caiu 45% em comparação a das fêmeas que passaram a vida sem contato com impurezas na atmosfera. 

Essa queda tem a ver com uma menor reserva de folículos (nome dos oócito revestidos que posteriormente dão origem aos óvulos) e com a receptividade uterina. Ou seja: as ratinhas fêmeas que cresceram em um ambiente contaminado geraram filhas com um estoque reduzido de gametas – o que dificultou a fecundação quando elas alcançam a idade reprodutiva. Além disso, o embrião não é tão eficaz em aderir à parede do útero, o primeiro passo para viabilizar uma gestação. ⠀

Algo parecido acontece com humanos. Casais que moram em cidades poluídas levam mais ciclos menstruais para engravidar do que outros. O trabalho de Veras com camundongos abriu portas para outros estudos investigarem as maneiras como a vida urbana afeta a fecundidade – e descobrir tratamentos que ajudem os moradores de cidades poluídas, que são a maior parte dos brasileiros, a ter bebês saudáveis. 

Se quiser saber sobre outros efeitos inusitados da poluição no corpo, confira mais nesta reportagem.

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