Planta da Caatinga produz “chuva” de néctar para atrair morcegos
Bioma brasileiro investe pesado em um dos tipos mais curiosos de polinização. Conversamos com Arthur Domingos de Melo, da UFPE, para entender essa história
A hymenea cangaceira é uma espécie de jatobá da caatinga que foi descrita pela ciência há apenas dois anos – e tem um comportamento sexual inusitado. Sua reprodução depende da capacidade de atrair seu polinizador preferido, o morcego. E ela investe pesado nisso: gasta uma energia tremenda para florescer e produz quantidades abundantes de néctar perfumado. Arthur Domingos Melo, pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco, explica em detalhes a estratégia da Hymenea.
O que torna essa espécie tão inusitada?
A quantidade de néctar que ela produz é gigantesca – pode chegar a 920 litros em um mês, superando alguns dos maiores valores registrados para árvores da Amazônia. O néctar é tanto que respinga no chão, como se fosse uma chuva doce. Além disso, esse néctar tem um cheiro próprio para atrair morcegos – ao contrário de outras plantas, nas quais apenas a flor é cheirosa.
Mas ela gasta tanta energia para produzir néctar, e aí deixa cair no chão?
Não sabemos exatamente o porquê desse desperdício. Flores polinizadas por morcegos geralmente precisam ser mais largas, mais abertas, o que dificulta a contenção do néctar, então é possível que o risco de derramar seja o preço a pagar para garantir o morcego como polinizador.
Vale a pena todo esse esforço para atrair o morcego?
Tudo indica que sim. Morcegos são máquinas de polinizar. Voam muitos quilômetros por noite e, por terem pelos em vez de penas, acabam carregando mais pólen que polinizadores como o beija-flor. E eles têm uma taxa metabólica muito alta – até redirecionam o carboidrato que ingerem diretamente para o sangue, como se fosse uma injeção instantânea de energia. Por isso, precisam de néctar o tempo todo, o que melhora as perspectivas de sucesso reprodutivo da planta.