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Desenhos rupestres mostram cachorros adestrados há 10 mil anos

A descoberta, feita na Arábia Saudita, mostra que os povos locais usavam cães para caçar - e já conheciam até a coleira.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 nov 2017, 18h08 - Publicado em 21 nov 2017, 18h00

A rotina dos seres humanos de 11 mil anos atrás era um bocado diferente da nossa. Era preciso caçar e colher a própria comida – e chegar vivo aos 40 era um feito digno de nota.

Uma coisa, porém, não mudou: como nós, os Homo sapiens do começo do Neolítico já gostavam de cachorros – e aprenderam a adestrá-los para ajudar nas tarefas cotidianas.

Cenas entalhadas em pedra encontradas recentemente na região de Shuwaymis, na Arábia Saudita, retratam grupos de cães sendo usados por caçadores humanos para capturar gazelas e um íbex-da-núbia – um tipo de cabra típico do Oriente Médio. As representações foram produzidas entre 9.000 a.C. e 8.000 a.C., e são o mais antigo registro gráfico da domesticação do melhor amigo do homem.

Os cães, a julgar pelo porte físico, a localização do sítio arqueológico e o rabo enrolado na ponta, são de uma das raças mais antigas do mundo – o Cão de Canaã, que já fazia companhia aos israelitas antes da invasão romana, em 63 a.C. Dois dos animais estão com o pescoço atado por uma corda à cintura do caçador – o que também torna o baixo relevo o mais antigo registro do uso de coleiras.  

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(Journal of Anthropological Archaeology / Instituto Max Planck/Divulgação)
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A descoberta, feita por pesquisadores do Instituto Max Planck, na Alemanha, rendeu um artigo científico publicado na semana passada. “É realmente incrível”, declarou à imprensa Melinda Zeder, arqueóloga do Museu Nacional de História Natural em Washington, nos EUA. “É a única demonstração real que existe de seres humanos usando os primeiros cachorros para caçar.”

A região de Shuwaymis, no nordeste da península arábica, é repleta de colinas, que no período Neolítico provavelmente foram cortadas por rios e cobertas por uma vegetação bem mais densa que a permitida pelo clima desértico atual. Maria Guagnin, líder do estudo, explora a Arábia Saudita há três anos, e já descobriu 1,4 mil painéis de rocha, em que estão representados mais de 7 mil animais de todas as espécies.

As que contém cachorros, em geral, são de um período de transição entre a ocupação da península por povos caçadores e coletores, por volta de 10000 a.C., e a adoção da pecuária após 8000 a.C. Nessa época, a criação de animais domésticos grandes e dóceis para a alimentação (como vacas, ovelhas e cabras) tirou o “emprego” dos cães de caça.

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“Quando Maria chegou em mim com as imagens e perguntou se elas significavam alguma coisa, eu quase enlouqueci”, afirmou à Science Angela Perri, colega dos pesquisadores responsáveis pela descoberta e especialista na pré-história dos animais domésticos. “Um milhão de ossos não me diriam o que essas imagens me contam. É o mais próximo que eu vou chegar de um vídeo no YouTube.”

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(Journal of Anthropological Archaeology / Instituto Max Planck/Divulgação)
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