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E se… revivêssemos pessoas congeladas?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 31 dez 2002, 22h00

Foto: reprodução

Não é nova a idéia de ter o corpo congelado após a morte com a finalidade de esperar pela cura das doenças. Hoje, cerca de 150 pessoas já aderiram à criogenia, número que poderia ser muito maior, não fosse um simples detalhe: ninguém tem a menor idéia de como descongelar os corpos e trazer novamente à vida essas pessoas.

O que aconteceria se fosse descoberta uma resposta para isso? Será que quando a pessoa acordar ela conseguirá se lembrar do passado? Uma vez desligado, o cérebro não perderia toda a informação acumulada? Seria terrível ter um corpo de 60 ou 70 anos com a mente de um bebê recém-nascido.

É possível que o cérebro preserve parte da memória mesmo depois da morte. “Temos três tipos de memória”, explica o professor e pesquisador de neurologia da Unifesp Ademir Baptista Silva. “A elétrica, de curta duração, a química, que inclui fatos e pensamentos um pouco mais notáveis, e um terceiro tipo baseado em proteínas, que guarda tudo o que é mais importante ou repetido.” Pelo que se sabe, a memória física pode ser preservada no congelamento.

Ou seja, a pessoa esqueceria o que almoçou no dia de sua morte ou a roupa que estava usando, mas lembraria seu nome, sua idade, o dia de seu casamento e tudo mais que tivesse importância a ponto de ficar gravado na memória. Ainda assim, não está totalmente clara a fronteira entre as memórias que se perderiam (elétrica e química) e a que ficaria (física). O pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Ivan Izquierdo, uma das maiores autoridades do mundo em memória, confirma que existem alterações estruturais em sinapses localizadas, o que proporciona a permanência a longo prazo de memórias. Mas alerta que nunca ninguém testou se essas sinapses resistiriam ao congelamento. Os especialistas concordam, porém, que acordaríamos num estado de grande confusão mental e que algumas coisas teriam de nos ser reensinadas.

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Isso é mais importante do que parece, pois pode influir no estado emocional da pessoa trazida à vida. Mesmo que antes do congelamento nos preparemos psicologicamente para enfrentar um mundo totalmente novo quando acordarmos, daqui a 50 ou 100 anos, tudo isso pode ir por água abaixo. Imagine se um contemporâneo de Rui Barbosa acordasse hoje numa avenida movimentada, no meio de carros e luminosos. Possivelmente teria um ataque de pânico. É provável que fossem criadas escolas ou instituições especiais para atender a essas pessoas, que, certamente, necessitariam de um tempo para a readaptação.

A criogenia aumentaria o número de habitantes no planeta. “A longo prazo isso se tornaria um problema”, diz o pesquisador americano Kevin Brown, da Universidade Carneggie Mellon, em Pittsburgh, Estados Unidos. Segundo ele, porém, o risco de superpopulação só ocorreria se o processo estivesse acessível a um número muito grande de pessoas e se, ao mesmo tempo, a expectativa média de vida da população mundial fosse elevada para 130 ou 140 anos.

Readaptação religiosa, até. Para quem é cristão, a dúvida é se ele precisaria ser batizado de novo? “Não se sabe ao certo”, diz o padre Leo Pessini, coordenador da Comissão de Bioética do Centro Universitário São Camilo, de São Paulo. Autoridade em assuntos como clonagem, ele explica que a criogenia foi pouco discutida pela Igreja Católica, mas que os cristãos aceitam o conceito científico de morte. Se os corpos forem classificados como vidas em suspensão, não haveria conflito: eles acordam com alma. “Para o espiritismo, a criogenia é inadmissível, pois altera o curso normal da vida e da morte”, diz Marlene Nobre, presidente da Associação Médico-Espírita do Brasil. Porém, ela acredita que não haveria desprendimento do espírito enquanto o corpo estivesse congelado. Ou seja, não há o risco de a alma reencarnar e deixar o corpo “vazio”.

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