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Ecossistema do pássaro dodô é reconstituído por fósseis de pântano perdido

Local nas Ilhas Maurício contém 600 ossos por metro cúbico de solo. Eles permitem investigar como eram a fauna e a flora antes da extinção do pombo gigante.

Por A. J. Oliveira
Atualizado em 13 set 2019, 17h47 - Publicado em 13 set 2019, 17h46

Entre os seres vivos mais injustiçados na história do planeta, o dodô certamente ocupa um dos primeiros lugares da lista. Esse simpático parente do pombo, grandalhão e um pouco desengonçado, foi caçado até a extinção por colonizadores holandeses no século 17. Até o bicho homem desembarcar nas Ilhas Maurício, seu habitat natural, a ave levava uma vida mansa, sem predadores. Agora, cientistas vão poder entender melhor seu passado.

Um grupo internacional de pesquisadores liderou uma expedição para tentar encontrar um pântano perdido. Tudo com a promessa de um antigo relato, escrito em 1832, que dizia que o local abrigava tantos ossos de criaturas extintas que bastava enfiar a mão na lama para pescar alguns com os dedos. E não é que, em 2015, conseguiram mesmo redescobrir o tal pântano? Ele fica perto de Mare la Chaux, no nordeste da ilha, a cerca de 40 km da capital Porto Luís.

Recentemente, uma colaboração entre o National Heritage Foundation, em Virgínia, nos EUA, e uma proprietário de terras das Ilhas Maurício permitiu que a primeira escavação fosse conduzida no local. E, de fato, a descrição do século 19 não era nenhum exagero. Os cientistas mal podiam acreditar na riqueza do material encontrado — havia ali cerca de 600 ossos por metro cúbico de solo. De longe, o mais relevante sítio já achado em Maurício.

O inglês Julian Hume, especialista em dodôs que participou dos trabalhos, explica melhor a relevância da descoberta. “É uma das escavações de fósseis mais empolgantes das quais já participei”, conta o paleontólogo de aves e pesquisador do Museu de História Natural de Londres. “Estamos literalmente descascando a história de Maurício camada por camada.” Além de dodôs, o pântano continha restos de animais gigantes, como tartarugas e lagartos.

Outro fator que promete tornar as pesquisas daqui para a frente ainda mais interessantes são os fósseis de sementes e pólen que também foram recuperados em meio aos ossos. Com base nos estudos desse material, é bem provável que os cientistas possam reconstituir a aparência as florestas das Ilhas Maurício muito antes da chegada dos humanos, há 12 mil anos, tempo em que aqueles animais viveram.

O plano agora é continuar conduzindo escavações no local por anos a fio e aprofundando as investigações para obter um melhor entendimento sobre a ecologia da ilha no passado e, assim, ajudar a protegê-la dos impactos das mudanças climáticas. E, é claro, desvendar o passado e evolução dos pobres pássaros dodô — uma espécie que, definitivamente, não merecia o fim que teve. O mínimo que podemos fazer é honrar sua memória.

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