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Em alguns locais, calor e umidade já atingem limites da tolerância humana

Eventos climáticos extremos estão acontecendo com o dobro de frequência em relação a 40 anos atrás, segundo um novo estudo.

Por Bruno Carbinatto
13 Maio 2020, 17h57

Em meio à pandemia, é natural que os esforços globais se concentrem no combate ao coronavírus. Mas, infelizmente, a Covid-19 não é a única ameaça que a humanidade precisa enfrentar. Com o aumento da temperatura média global, cientistas vêm alertando há décadas que algumas regiões do globo podem ser tão afetadas que poderão ficar inabitáveis. Um novo estudo, porém, descobriu que isso já está começando a acontecer: eventos climáticos extremos, que ultrapassam os limites de temperatura e umidade que os humanos conseguem aguentar, já estão sendo registrados na Ásia. E o cenário só tende a piorar.

O corpo humano é razoavelmente bem adaptado para suportar diferentes climas – tanto que já prosperamos em regiões tão distintas como desertos quentes e secos ou regiões árticas congelantes. Um dos truques fisiológicos por trás desse sucesso é o suor: a evaporação da água faz com que o corpo perca calor para o ambiente e consiga se manter resfriado. Mas há um problema no processo: quando a umidade do ar é muito alta, a evaporação é menos efetiva e pode até parar. Sem resfriar, o corpo pode sucumbir ao calor.

Por isso, não dá para analisar os limites humanos apenas com a temperatura normal, sem levar em conta a umidade do ar. Os cientistas usam uma medida chamada de “temperatura de bulbo úmido”, que combina as duas variáveis em um só número. Quando essa temperatura passa dos 31º C, o corpo humano começa a enfrentar dificuldades perigosas. E o limite estimado é de 35º C – neste ponto, até mesmo um adulto saudável, com acesso ilimitado à água e à sombra, não vai conseguir manter seu metabolismo funcionando por muito tempo. Isso sem falar em pessoas vulneráveis – idosos, pessoas com condições pré-existentes, ou que não têm acesso à água, abrigo, condições de resfriamento artificiais, etc. Nestes casos, mortes causadas por calor já foram registradas em eventos cuja temperatura de bulbo úmido chegava a 28º C, como na onda de calor que ocorreu em 2003 na Europa.

Até agora, não havia registro de locais que tivessem batido a marca de 35º C de temperatura de bulbo médio, e poucos registros na história chegavam à marca de 33º C. Mas, com o aumento da temperatura média do mundo, cientistas já estimavam que algumas áreas iriam chegar nesse patamar na metade deste século, mais ou menos. O Golfo Persa, o subcontinente indiano e o leste da China eram apontados como áreas especialmente vulneráveis. Agora, no entanto, um novo estudo de pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia, da NASA e da Universidade Columbia revelou que algumas partes do globo já atingiram esse extremo de temperatura e umidade.

A pesquisa, publicada na revista Science Advances, reuniu dados de mais de 7 mil estações meteorológicas pelo mundo, incluindo nas áreas consideradas mais vulneráveis, e descobriu que diversas áreas já batem a temperatura de bulbo médico de 31º C durante eventos de calor e umidade intensos, e algumas já chegaram a registrar os 35º C – é a primeira vez que esse número é observado. Segundo os pesquisadores, estudos anteriores não haviam alcançado esse valor porque analisavam áreas amplas de uma vez só, e a nova pesquisa investiga fenômenos mais locais, onde o calor e umidade podem se concentrar.

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Os resultados mostraram que, em geral, esses eventos acontecem em áreas costeiras, perto de corpos de água quentes, que fornecem tanto calor como umidade, além de já registraram altas temperaturas na terra firme também. A maioria dos eventos de calor e umidade extremos foram observados apenas por uma ou duas horas, tempo que não necessariamente ultrapassa os limites humanos para quem mora lá. 

Mas isso não é motivo para comemorar: os cientistas também descobriram que eventos extremos como esse acontecem com duas vezes mais frequência do que há 40 anos, e as temperaturas que eles atingem e o tempo que duram estão ficando cada vez maiores. A equipe calcula que esses eventos deixarão de ser raros e passarão a ser rotina em partes do mundo caso a temperatura global aumente 2,5º C em relação aos níveis pré-industriais – e já aumentamos 1º C desde então.

O estudo alerta não só para a necessidade de se combater o aquecimento global, mas também para políticas públicas de proteção a comunidades vulneráveis e novas estratégias para setores produtivos nessas regiões, como indústrias e a agropecuária, que poderão ser duramente afetados com o aumento da frequência de eventos climáticos extremos.

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